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Prazeres é ainda regente assistente da Orquestra Petrobras Sinfônica, no Rio |
Em alguns, a véspera dos 30 anos causa calafrios. É quando a juventude parece ter ido embora e a vida adulta põe as cartas na mesa. É chegada a hora de deslanchar, e as cobranças aumentam. Pois bem, prestes a fazer 3.0, numa analogia ao típico drama humano, a Orquestra Sinfônica da Bahia - Osba viveu a crise, mas, agora, parece estar saindo muito bem dela. Aos 28 anos, no final de 2010, a companhia passou por um momento difícil com o antigo diretor artístico, o renomado pianista Ricardo Castro. Entre outros motivos, os desentendimentos foram por conta da possível transferência da gestão da orquestra do modelo de funcionalismo público para uma organização social, num processo conhecido como publicização. Responsável pela Osba desde 2007, em fevereiro deste ano, Castro deixou o posto. Em seu lugar, assumiu o jovem maestro carioca Carlos Prazeres, 37 anos. Há dez meses sob a batuta do novo diretor artístico, a Osba está superando seus dilemas e promete soprar as 30 velinhas com fôlego renovado e cheia de planos para a comemoração.
Veja mais: Carlos Prazeres está entre as 10 personalidades culturais baianas de 2011 Facebook - “Meus objetivos para este ano eram estabelecer a paz, na medida do possível, aumentar a autoestima do grupo e mostrar que eles poderiam, junto comigo, indicar esse novo caminho”, diz o maestro Prazeres. Ao avaliar o comando anterior, o regente vê no trabalho de Castro o mérito de levar a orquestra a um nível de referencial artístico muito alto. “Os problemas não foram apenas entre o grupo e ele, mas também entre os próprios integrantes da orquestra”, acrescenta.
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Formada por 60 músicos, a Osba foi criada em setembro de 1982. Prestes a fazer 30 anos e sob nova regência, a companhia busca se modernizar |
Por isso, o novo diretor preferiu não se pronunciar definitivamente sobre a permanência no modelo do funcionalismo público ou a mudança para uma organização social. Optou pelo diálogo e a discussão, antes de definir qualquer coisa. A postura moderada e propositiva, ao que parece, conquistou a confiança do grupo, e os resultados já começaram a crescer e aparecer. “Nesses oito meses, nós fomos convidados para o 49º Festival Villa-Lobos, no Rio. E colocamos, junto com a Banda da JAM, 3,5 mil pessoas na JAM no MAM”, conta. Segundo o regente, os concertos estão também mais cheios e frequentados pelos jovens. “A Osba não tem mais cara de orquestra do vovô. Vai do vovô ao netinho, passando pelo jovem tatuado, que vai lá e se ‘amarra’. A missão de toda orquestra é estar inserida na sociedade, fazer parte da cultura local”, diz. Desse modo, uma série de atitudes está sendo tomada, desde o início, no intuito de tornar a orquestra mais moderna e popular. A primeira delas foi colocar a Osba nas redes sociais, como Twitter, Facebook e YouTube. “É uma mídia gratuita e muito democrática. E a Osba foi pioneira”, afirmou Prazeres.
Futebol - As grandes transformações, contudo, são para o ano que vem, dentro do projeto Osba 30 Anos. A primeira delas, que pode resolver a falta de músicos da orquestra - hoje são 60, quando o ideal seriam 110 - é um projeto de residência artística. “Serão de 20 a 40 músicos convidados, de qualidade reconhecida, que completarão a Osba por um ano, e participarão das discussões, darão palestras”, explica. “Será como se um time de futebol tivesse anunciado um pacote de reforços para disputar os primeiros lugares do Brasileirão!”, compara. Além disto, quatro apresentações promoverão o encontro da Osba com outros ‘craques’. O primeiro será dia 10 de fevereiro. “Vamos abrir (a temporada) com a Orkestra Rumpilezz, o que tem uma importância simbólica. É uma das coisas mais incríveis que a Bahia produziu nos últimos tempos”. Depois do grupo do maestro Letieres Leite, a Osba se apresentará com Margareth Menezes, e o maestro convidará ainda Carlinhos Brown e Ivete Sangalo. “A gente vai estudar a possibilidade desses shows virarem um DVD”, adianta Prazeres. Outra novidade, esta para o meio do ano, é o Osba na Estrada, que levará a orquestra para o interior.
Revolução - Ditos os novos projetos, um já existente será reformulado: o Concertos Didáticos. A ideia é que as apresentações tenham acompanhamento de pessoas especializadas, com cartilhas para os alunos levarem para a escola. E o maestro quer mais despojamento. “Não só nos Didáticos, mas também nos da série Manuel Inácio da Costa, que acontecem nas igrejas da cidade. É para que as pessoas apareçam como quiserem, de tênis, camiseta. Que possam fazer vídeos, colocar no YouTube, tuitar. Tem que mostrar que não é uma coisa chata”. Entusiasmado, Prazeres vê nisso tudo algo ainda maior. “Acho que estamos passando por uma Revolução Sinfônica Baiana, que tem três pilares: uma Osba forte, servindo de modelo; a formação feita pelo projeto Neojiba, do maestro Ricardo Castro; e o TCA, um equipamento cultural impressionante, e que ganhará, no próximo ano, uma sala sinfônica, se tornando o mais completo do país”.