"Foi uma coisa meio 'efeito borboleta'", detalha Caio Lima Silva de Souza, de 22 anos, o Japa, sobre o início da trajetória dele como MC em batalhas de rima. Enquanto um dos nomes mais conhecidos na Bahia e um dos principais representantes, se a entrada do artista no mundo das batalhas foi coisa do destino não importa, o fato é que, quando se fala de rimas de improviso no estado, ele precisa ser citado.
Nascido e criado no bairro de Águas Claras, em Salvador, Caio foi levado para uma batalha de rima por um amigo e fez de tudo para não participar. Apaixonado por funk na adolescência, ele costumava rimar com os amigos, que também faziam freestyle, mas tudo isso longe do contexto de batalha.
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"Um amigo meu me falou das batalhas, eu já tinha assistido antes [e] achava da hora, mas eu não fazia questão de ir, não achava que tinha capacidade", contou Caio, em entrevista ao iBahia.
Japa MC rimando contra Xamuel, MC paulista, na Batalha da Aldeia em 2023 Vídeo: Reprodução/Redes sociais
A insistência do amigo e um pouco de sorte levaram Caio a entrar na Batalha do Pega Rex, que acontece em Cajazeiras, também na capital baiana, no final de 2016.
"Um dia ele me arrastou [para a batalha]. Eu estava em casa, estudando para uma prova e meu amigos passaram aqui. Falei que ia assistir. A batalha começava 17h, eu cheguei às 18h para não ter risco de rimar, mas faltou MC e os [meninos] tinham colocado meu nome", relata o artista, que nesse mesmo dia foi campeão da competição.
"Se dependesse da minha própria vontade talvez eu não estivesse aqui, mas ainda bem que os moleques fizeram isso ai (risos). Essa batalha mudou minha vida", diz.
Assim como sua entrada na cena das batalhas, o "vulgo" Japa também não foi uma escolha do próprio Caio, que não possui descendência asiática. "Esse [nome] foi escolhido meio que na força", ri ele. "Fui na Batalha do Dique do Tororó, eu era muito novo, e tinha um cara com o mesmo nome que eu e o [organizador] olhou para mim e disse: 'Então, você vai ser o Caio Japa' ai ficou e não parou mais", revelou, aos risos.
Apesar de não ser o nome ideal, a "marca" do Japa MC é uma realidade e é sinônimo da carreira de Caio, que já rimou em diferentes lugares do Brasil e é conhecido pelo dom em todo o país.
No domingo (3), ele irá representar a Bahia no Duelo de MC's Nacional, competição que reúne representantes dos 27 estados do Brasil. O evento acontece no Viaduto Santa Tereza, em Belo Horizonte, Minas Gerais, e começa a partir das 13h.
Campeão estadual pela terceira vez, o baiano conseguiu a vaga após vencer Yoga MC, na seletiva estadual promovida pela Batalha 3° Round. O evento aconteceu no Pelourinho, na Praça das Artes, no dia 18 de novembro, e reuniu MCs de diferentes regiões do estado.
Pela 3ª vez no nacional, Japa enxerga o Duelo de MC's Nacional não só como uma oportunidade individual, mas também um caminho para trazer visibilidade para as batalhas e o trabalho feito pelos rappers de freestyle da Bahia.
"Na maioria das vezes, a gente sai para buscar esse reconhecimento para as batalhas daqui. Não só de Salvador, mas também das batalhas [que acontecem] nos interiores", pontua o artista. "Sair e ver quão grande é o cenário de batalha lá fora, traz a perspectiva não só para mim, mas para meus amigos e amigas também, Mc's que se inspiram [nisso]. É mais que uma realização pessoal, é um conjunto", finaliza.
'O nacional não será minha maior conquista'
A busca pela profissionalização também passa pela participação do Duelo Nacional de Mc's, mas não se encerra nele. Confiante, o Japa se coloca entregue diante da competição, mas sabe que o caminho mais importante está na consolidação do movimento.
Construída e perpetuada por jovens, negros e pessoas de periferia, o movimento das batalhas possui uma grande relevância social. Além de ser um espaço de produção cultural e de criatividade, elas são, em muitos casos, um caminho para novos horizontes na vida de um jovem periférico.
Por isso, a valorização do movimento hip hop ultrapassa a conquista, na perspectiva do MC baiano. "O nacional é um grande sonho para mim. Não será minha maior conquista, eu sei, tem coisas melhores por vir, mas é uma ponte. O nacional já revelou vários artistas e nós estamos nessa luta de se consolidar", conta o MC que irá viajar para Belo Horizonte, no sábado (2), com o apoio da própria competição, que já premia os artistas participantes.
O sonho de viver das rimas faz parte da vida de Japa e o caminho para a profissionalização das batalhas também está ligado ao reconhecimento.
"A profissionalização das batalhas é algo que a gente busca faz um tempo. Eu pretendo viver de rima e, enquanto não for possível, nós vamos continuar trabalhando para [que isso aconteça]", conta Japa.
Atualmente, o MC consegue tirar dinheiro da arte, mas não o suficiente para viver apenas dela. Além disso, Japa precisou abrir mão de algumas coisas para conseguir frequentar as competições, uma vez que as viagens constantes inviabilizam a dedicação para outras atividades.
"Falta pouco para que a gente consiga viver só de batalhas. O futuro da Bahia [nesse ramo] é promissor, a única coisa que falta é que as grandes empresas ou pessoas que possam investir olhem para a gente".
'Pronto para entregar tudo'
Neste ano, o MC que vencer o Duelo Nacional levará um prêmio de R$ 30 mil para casa. Aqueles que ficarem no segundo e terceiro lugar receberão, respectivamente, R$ 5 mil e R$ 2,5 mil.
Com foco na vitória, Japa vem se preparando e participando de diversas batalhas pensando no nacional. Com a noção de que a conexão com o público e o entendimento de que ser um MC é também construir bem seu personagem, o baiano pretende entregar tudo o que tem na competição nacional.
"Eu sei bem o que a galera espera de mim e quando eu estou no palco eu entrego tudo o que a eles querem", pontua Japa.
O Duelo Nacional acontece em apenas um dia, com batalhas sorteadas a cada round. Também baiano, o Yoga MC também estará representando o estado na competição, após se classificar pela repescagem.
O evento será transmitido no canal do Youtube da Família de Rua, uma das entidades organizadoras do duelo, a partir das 15h.
*Sob supervisão do repórter Alan Oliveira
