O último dia 26 de abril foi muito especial para uma banda que já possui quase 14 anos de estrada, mas ainda não havia desfilado pela passarela nacional do meio musical. Meio pop, meio rock, meio reggae, nem eles mesmos sabem definir o estilo do som, mas a verdade é que depois do reality SuperStar, da TV Globo, a vida da banda Scambo tem mudado da água para o vinho.
Graco (guitarra), Alexandre Tosto (guitarra) e Fernando Maia (produção) concederam uma entrevista exclusiva ao iBahia e falaram não só sobre o reality, mas também sobre o desafio de fazer um estilo de música ainda "solitário" na Bahia e outros diversos assuntos; confira!
iBahia: Como está a vida depois do Superstar?
Graco: Vou voltar um pouquinho no tempo. Acho que, dos últimos quatro anos para cá, a gente tem vivido um momento muito bom. É um momento de muito equilíbrio, maturidade... Começamos lá em 2001, com Pedro nos vocais. Depois discutimos, brigamos, porquê o Alexandre é uma pessoa muito difícil de se conviver (risos). E após quase cinco anos nessa, o Fernando foi o cara que veio e intermediou tudo. Voltamos a nos encontrar e a tocar em outubro de 2010. De lá para cá viemos desenvolvendo um trabalho. O público se renovou quase que automaticamente, porquê somos uma banda extremamente preguiçosa e terminamos não produzindo muito conteúdo, vídeo, mas mesmo assim as coisas vêm acontecendo.
Acho que com o Superstar, nessa primeira exposição que tivemos, foi interessante porquê a gente não podia divulgar, mas mesmo assim a gente teve uma quantidade muito grande de votos e de manifestação do público. Acho que o que mudou foi que dá aquela excitada nas redes sociais, dá um novo gás para a banda, para o público. O público volta a defender mais ainda e outra pessoas passam a conhecer.
iBahia: Como vocês decidiram ir para o SuperStar?
Graco: A gente foi fazer um show no Rio de Janeiro, no Circo Voador, e um cara que estava tocando guitarra no dia, substituindo um músico de outra banda, é músico da Globo... Ele viu a gente tocando e falou: "poxa, gostei muito da banda de vocês. Teve essa primeira temporada do SuperStar aí e agora estão abertas as inscrições para a segunda. Vocês não pensam em se inscrever?" Aí eu falei "rapaz, não sei, a gente nunca pensou nada sobre isso, não faz muito o nosso perfil" e tal. Mas aí começou. A semente ali foi plantada. Aí chegou em um festival, em Vitória da Conquista, uma das pessoas que acompanham e trabalham pela Globo convidou a gente.
iBahia: Foi um tiro certeiro?
Graco: Acho que sim. É legal desde aquela coisa: "que musica a gente vai tocar?". A Scambo tem repertório para caramba. Tanto autoral, quanto de diversão.
Alexandre: Você pode escolher uma coisa ali e não se classificar e o seu trabalho fica ali.
Graco: Foi aquela loucura. A gente escolheu uma música que tem um impacto, que a gente abre o show, mas que sabemos que não é a nossa música mais forte em termos de mercado pop.
iBahia: O Paulo Ricardo (jurado) chegou a comentar que esperou um "boom" no momento do refrão e por isso a música (Depois de Ver) deixou um pouco a desejar. Como isso foi recebido por vocês?
Graco: O engraçado foi que a gente estava esperando justamente isso: "o Paulo Ricardo vai falar exatamente isso". Mas ao mesmo tempo nós confiamos muito na nossa personalidade. Uma coisa que durante muitos anos foi difícil de lidar, era a falta de um gênero definido. Poxa, se você é uma banda de rock, todo mundo se veste de preto e está fácil de você saber o que é. Se é uma banda de reggae, também é fácil. Mas não é rock, nem reggae. Então assim: como é que a banda se veste? Como é que a gente tira uma foto? Sempre foi confuso para a gente. Ficávamos buscando a identidade. E foi justamente isso que formou a identidade da Scambo, que é essa coisa de um pouco de um monte de coisa. É o que a gente é. É muito o perfil pessoal.
Alexandre: Acho que as pessoas, principalmente quem conhece a banda, têm que perceber que aquilo ali é um jogo. É um programa. Se você conhecer o show da Scambo, conhecer tudo o que a gente já viveu... As vezes a gente recebe mensagem: "ah, fiquei agoniado. E isso e aquilo", mas não. Tem uma proposta, tem uma regra.
Graco: E teve a nossa estratégia de pensar: "poxa, vamos lançar uma música que, com nossa individualidade, nossa personalidade, vai ser o suficiente para convencer os jurados". Para depois a gente lançar uma mais forte ainda e vir numa crescente.
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iBahia: Na primeira edição vimos muitas bandas fazendo interpretações de grandes sucessos, mas quem venceu foi a Malta, que cantou músicas autorais e desconhecidas naquele momento. O Bruno Boncini chegou a dizer que o grande lance de tocar músicas autorais em um programa como o SuperStar é que, quem votar positivo, vai estar gostando de um trabalho original, do que é seu... É por aí?
Graco: Sem dúvidas. A gente acredita muito no autoral e muito no autoral cantado em português. A gente vive em um país de língua portuguesa e temos essa proposta de se comunicar com a maior parcela da população possível, que é essa coisa pop. A gente nunca fez um cover. A gente tem que fazer adaptações para o nosso universo.
Alexandre: Temos uma parada que é meio difícil para escolher. Eu sei todo o valor que tem uma música autoral, pois 90% do nosso repertório é assim, mas desde o início a gente teve possibilidades muito grandes de, praticamente, fazer uma música nova só com versões. Depende da forma que se faz. A gente recebia várias mensagens do nosso publico mais jovem, que diziam que 'Geni e o Zepelim' era nossa e tínhamos que explicar que não. Eu gosto muito de versões assim. Eu sou um cara altamente autoral. Eu não gosto é de banda cover, que é algo bem diferente de você fazer uma versão.
iBahia: Dá para prever um futuro no SuperStar e depois dele?
Graco: Sem dúvida nenhuma, pode esperar que a gente vai chegar quente, fervendo (risos). Vamos fazer uma escalada aí com as músicas e tentar apresentar da melhor forma possível esse conteúdo que a gente tem condensado. Pode esperar que a coisa vai esquentar e o after é festa né... A agenda está crescendo. A coisa vem excitando as redes sociais, as pessoas vão conhecendo e vão compartilhando. Isso vai trazendo mais shows, mais contratantes vão se interessando em outros estados.
iBahia: E a relação com o Paulo Ricardo?
Graco: (Risos) Não podemos falar. Isso é sigilo do programa. Existem várias restrições quanto a isso. Nem a música a gente pode dizer qual é.
iBahia: E o reconhecimento, tem aumentado?
Graco: A gente vinha fazendo, quase que mensalmente, um show no Portela Café, que é um local pequeno, para 450, 500 pessoas... Estava lotando, mas só um dia antes do evento, ou no próprio dia. Esse próximo que a gente vai fazer nesta sexta-feira agora (15), os ingressos já esgotaram há mais de uma semana. Vamos fazer outro na sexta-feira que vem, e tudo isso por conta da exposição da banda no programa.
iBahia: É difícil trabalhar com esse tipo de gênero musical na Bahia?
Graco: A minha sensação é que não faz muita diferença, porquê de certa forma a gente caminhou sempre muito sozinho. No começo da Scambo, teve um "boom" do reggae. A gente entrou, na época, junto com Mosiah, Adão negro, Diamba, então muita gente acha até hoje que a Scambo é uma banda de reggae, porquê não acompanhou o desenvolvimento. Aí de lá para cá, quando a gente começou a moldar esse jeito de fazer música, a gente foi ficando sozinho, porque já não era rock, nem reggae, era até difícil de se relacionar.
Alexandre: Temos até conversado com algumas pessoas desse tempo, de falar: 'velho a gente está sozinho!'. A gente quer fazer alguma coisa junto com alguém. O Fernando faz um trabalho muito bom no interior. A gente vai em Itabuna, Ilhéus... Antigamente, a gente lotava aqui, mas quando chegava no interior era aquela dificuldade. Hoje, a gente sabe que se chegarmos é casa lotada, ingresso acabando. Então estamos precisando mesmo de outras bandas, de alguém que chegue junto. Quando começamos no Anexo, o Rio Vermelho estava muito parado. Depois que a gente estourou.
iBahia: A nível nacional, como está a Scambo hoje?
Graco: Estamos começando.
iBahia: E na Bahia, vocês pensam que já estão consolidados?
Graco: Sem dúvidas. Antes do programa a gente já sentia isso. O Fernando é um cara excelente em criar rede. Se você mora em uma cidade do interior e gosta muito da banda... Se tem uma galera que também gosta e você quer fazer um show... Pô, vamos fazer junto com você. A gente vai, de certa forma, capacitar aquela pessoa a ser um produtor cultural. A gente termina fazendo um trabalho em parceria, em conjunto com várias cidades. É dessa forma as coisas acontecem. A gente não tem o perfil de banda contratada por prefeitura naturalmente. Como a gente circula? Criando redes. Fazendo contato e acreditando. São anos de trabalho. A gente veio se consolidando com nossas próprias pernas.
Alexandre: Se você vai em Itabuna e não faz o cara ganhar dinheiro, você só vai uma vez lá. Então hoje, praticamente, a gente tem uma rede de contatos onde fizemos essas pessoas se profissionalizarem e se darem bem. Nossos discos, por exemplo, são pagos pelos nossos fãs. Entende?
iBahia: Para finalizar, o que é a Scambo?
Alexandre: Se tem uma coisa que eu sinto importância em participar da Scambo, é porquê eu visualizo todas as virtudes e os problemas do que é uma banda. Uma banda para mim sempre foi diferente de um projeto musical. Uma banda não dá para a gente descrever com palavras por causa da complexidade. A gente hoje sabe fazer uma música para aquele vocalista, não uma música qualquer. É para aquela forma de cantar.
Até os problemas de ego, porquê eu sempre brinco que uma banda que fala que é uma família, que todo mundo se dá bem, ou ela é ruim, ou está mentindo. Se você pegar, da Scambo aos Beatles, todas têm ou tiveram problemas. Todas não se aguentam e é isso que faz eu questionar o Graco, ele me questionar... Para eu fazer melhor, porquê se ele aceitasse de primeira talvez não fosse legal. Independente do estilo da Scambo, o que me faz sentir o valor da banda é isso.
O que um está reclamando, é o que faz sermos uma banda. Há anos Graco falou uma coisa que eu nunca esqueci. Ele vivia brigando com a irmã e chegava e dizia: 'a coisa que eu mais queria é que minha irmã tivesse uma banda'. Isso é porquê quando você tem uma banda, aquele cara, tipo o Graco, sabe tudo para te deixar ruim e eu sei tudo para deixar ele ruim e bem.
Graco: A Scambo pra mim é real. É de verdade. É uma banda de verdade. É uma união de pessoas de verdade. Como qualquer tipo de relacionamento tem suas partes boas e ruins, e são pessoas muito sinceras, que estão ali de coração. Então é fácil sair uma coisa muito boa, mas também sair uma coisa muito ruim ao mesmo tempo. Pode ser rock e uma parcela não gostar, pode ser pop e outra não gostar, mas é de verdade. Não importa. Esse é o nosso trabalho.
Não importa se é o gênero que você gosta ou não. Na Scambo, no fim das contas, é troca. Para mim a Scambo é uma troca. Tanto entre a gente, quanto com os fãs, que é o que me motiva. Eu gosto muito do momento do palco, da composição, então aquilo ali, seja com o parceiro que está do lado, seja com o público, é o que bota a gente para frente. A Scambo sem show é muito difícil. A Scambo sem criar é muito difícil. É daí que vem o nosso nome. É uma brincadeira com o nome escambo, que significa troca, seja de mercadoria, de experiência ou de energia.
A Scambo fará sua apresentação na segunda fase do SuperStar neste domingo (17). As composições da banda são obras de Graco, Alexandre e Pedro Pondé.
*Nota: o vocalista Pedro Pondé não pôde comparecer à entrevista por estar resolvendo problemas de cunho pessoal.
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Pedro, Alexandre e Graco |
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