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Mariene de Castro durante gravação do DVD |
Depois de quase 15 anos de carreira e três discos lançados, a baiana Mariene de Castro, 34 anos, já se considerava segura para topar a empreitada: gravar um DVD somente com canções da mineira Clara Nunes (1942-1983), para muitos uma das maiores cantoras populares do país. “Não me incomodam eventuais comparações com Clara. Minha caminhada é longa e começa lá atrás, há 15 anos. Tenho muito respeito à história dela, que faz parte do inconsciente coletivo do povo brasileiro”, diz Mariene sobre o DVD Ser de Luz - Uma Homenagem a Clara Nunes (Universal), gravado em outubro passado no Espaço Tom Jobim, no Rio de Janeiro, e também disponível em CD. As comparações serão inevitáveis, já que no show que originou o trabalho, a caracterização de Mariene lembra muito Clara, com as roupas brancas, o cabelo volumoso e acessórios que remetem à imagem da mineira. Mas Mariene não dá bola e mostra-se mais interessada na oportunidade de apresentar a obra de Clara Nunes a uma geração que ainda não a conhece.
SaudadesO convite partiu do Canal Brasil, parceiro da Universal no lançamento, e de Vagner Fernandes, autor do livro Clara Nunes - Guerreira da Utopia, criador do projeto. Vagner tinha ouvido a baiana cantar músicas de Clara no show Contos de Areia, em Brasília, no qual diversos intérpretes cantavam músicas que haviam sido sucesso na voz da intérprete que imortalizou canções como Morena de Angola, composta por Chico Buarque. Essa e mais outras 15 músicas estão no repertório do DVD, que traz em sua maioria grandes sucessos da carreira de Clara Nunes. “O trabalho não tem a pretensão de ser um lado B de Clara Nunes. Meu desejo é matar as saudades cantando as músicas dela que o povo gosta”, diz Mariene. As 16 faixas foram pinçadas da fase mais popular de Clara, em que ela cantava sambas. Um momento ensolarado, na definição de Mariene: “Queria as músicas do período em que ela começou a vestir branco e saiu do momento nostálgico, quando cantava boleros e canções românticas”. Por isso, não faltam músicas como Guerreira, A Deusa dos Orixás e Ê Baiana. Somente um samba do DVD não havia sido cantado por Clara Nunes: Um Ser de Luz, composto por Mauro Duarte, João Nogueira e Paulo César Pinheiro, em homenagem a ela após a sua morte.
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Mariene na gravação do DVD |
ChoroEssa é a canção que mais emociona Mariene. Foi Beth Carvalho quem lhe apresentou, quando elas saíam do tradicional restaurante Lamas, no bairro do Flamengo, no Rio de Janeiro. "Beth cantou e disse que era uma das mais lindas da música brasileira. Me emocionei, chorei e aí entendi a emoção que o povo brasileiro sente quando a escuta", lembra Mariene, que só conheceu a obra de Clara quando tornou-se adulta e arriscou finalmente cantar uma música do repertório dela, Contos de Areia. O convívio com Beth Carvalho e outros sambistas se tornou mais intenso depois que Mariene mudou-se para o Rio, no meio do ano passado. Foi lá que ela se aproximou também de Zeca Pagodinho e Diogo Nogueira, que participam do DVD. Com o filho de João Nogueira (1941-2000), Mariene canta Juízo Final, de Nelson Cavaquinho. “Clara viu Diogo nascer e cantou algumas músicas de João. Além do mais, ele é portelense, como ela”, comenta Mariene, que já havia gravado, a convite de Diogo, a canção Ser de Luz num disco em homenagem a João Nogueira. Embora não demonstre tanta intimidade com as escolas de samba como os cariocas, Mariene já desfilou pela Portela no ano passado, quando a agremiação homenageou Clara Nunes. Com Zeca Pagodinho, ela canta Coisa da Antiga, de Wilson Moreira e Nei Lopes. "Acabai me aproximando muito de Zeca e ele se tornou meu padrinho. Me recebeu de maneira muito afetuosa aqui no Rio e não podia ficar de fora da gravação", explica Mariene, muito à vontade na capital carioca, onde vive com os quatro filhos. Tão à vontade que, por enquanto, não tem planos de voltar a morar em Salvador. Ela já estabeleceu por lá o escritório que administra sua carreira. A permanência na cidade também favorece a agenda de shows. A mudança para o Rio aconteceu durante a pré-produção de Ser de Luz. Mariene estava no fim da gravidez de Maria, sua primeira filha menina, agora com sete meses. “Quando fui convidada para o Ser de Luz, eu estava gravando o filme Quase Samba, em Minas Gerais, com um barrigão de oito meses”, lembra-se Mariene, que viveu com a banda por um mês para ensaiar. Ela já se arriscou como atriz no filme Jardim das Folhas Sagradas, do baiano Pola Ribeiro, mas é a primeira vez que será protagonista. Quase Samba, dirigido pelo mineiro Ricardo Targino, submeteu Mariene a até 14 horas diárias de filmagem. Apesar da exaustão, ela comemora: “Foi uma experiência muito enriquecedora. Contracenei com muita gente bacana, como o cantor Otto e o ator Leandro Firmino, de Cidade de Deus”.
Matéria original: Correio 24 horas Em DVD ao vivo, Mariene de Castro regrava grandes sucessos de Clara Nunes