Festival de Músic |
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A Orquestra Afro Sinfônica tem regência do maestro Ubiratan Marques |
A voz tem seu encanto, mas aqui, ela se cala. O grande destaque do 17º Festival de Música Instrumental da Bahia é, como o nome já diz, a composição - e não o canto. Os concertos do festival mais popular do gênero no estado, com três atrações por noite, acontecem de hoje a domingo, no Teatro Vila Velha, às 19h. Com verba pública de R$ 250 mil, via Fundo de Cultura do Estado, um dos atrativos da festa, além da sua qualidade musical, claro, é o preço do ingresso R$ 2/R$ 1. Entre as atrações nacionais, a programação destaca a dupla de jazz Kiko Continentino (piano) & Paulo Russo (contrabaixo) e o instrumentista, arranjador e compositor Arismar do Espírito Santo. As atrações baianas são o percussionista Gabi Guedes, Triat’uan, Orquestra Afro Sinfônica, Adson Sodré Trio, Sambone Orquestra e a Orquestra de Todos os Santos, do maestro Zeca Freitas, um dos idealizadores e atual curador do evento, ao lado de Fernando Marinho.
Memória - O Grupo Garagem é o homenageado desta edição. O tradicional grupo baiano, cuja história é intimamente ligada ao festival, fecha a noite de hoje. O festival, cuja primeira edição foi realizada em 1980, já recebeu grandes músicos brasileiros e estrangeiros como Hermeto Pascoal, Heraldo do Monte, Nivaldo Ornelas, Walter Smetak (1913–1984) e Jeff Gardner.
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Grupo Garagem comemora 30 anos de formação com apresentação |
Parte dessa memória é resgatada em uma exposição de fotos na entrada do Vila Velha, com imagens de artistas em edições passadas, com curadoria de Fernando Marinho e de Sora Maia, editora adjunta de fotografia do CORREIO. A variedade de estilos musicais é a tônica seguida pela organização: do jazz e blues ao chorinho e maracatu, todas as vertentes são abarcadas. Tem sido assim desde a primeira edição, explica Zeca Freitas: “Ver ele ainda acontecendo me dá uma alegria enorme. Lógico que fazer em apenas três dias dá uma certa tristeza, mas o importante é acontecer, fazer essa renovação”.
Jam lotada - O festival foi realizado sem interrupções entre 1980 e 1989. Depois, voltou em 2001, já com a presença de Fernando Marinho. Em Salvador, não foi realizado em 2002 e 2010 – no ano passado, aconteceu em Cachoeira, no Recôncavo, e em Jequié, no Sudoeste do estado. Entre 2005 e 2009 foi realizado no TCA, sempre durante sete dias. “Mas com a verba que conseguimos, dá para três dias, e olhe lá”, diz Fernando. A falta de políticas públicas de caráter permanente para formação de público é apontada por Fernando como um agente que afasta os baianos dos festivais de música instrumental: “Há também um baixo interesse empresarial. Falta sensibilidade”. Mas nem tudo é amargo: já há contatos com um possível patrocinador privado para voltar ao formato de sete dias”, afirma Zeca. O quadro é completado pela ausência de espaços culturais na periferia de Salvador. Para Fernando, existe uma demanda na cidade: “Basta ver as sessões sempre lotadas da Jam no Mam, aos sábados, no Solar do Unhão”.
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O guitarrista paulista Arismar do Espírito Santo, um dos maiores músicos do Brasil, se apresenta domingo |
Releituras - Os curadores evitam destacar atrações imperdíveis nesta edição do Festival de Música Instrumental da Bahia, mas não resistem tecer elogios ao multi-instrumentista paulista Arismar do Espírito Santo, eleito um dos dez melhores guitarristas do Brasil pela revista Guitar Player, e ao guitarrista Adson Sodré, de Jequié, cujo contato com o evento ocorreu na edição de 2010 naquela cidade baiana. Fernando Marinho também mostra especial carinho pelas orquestras. Lembra, com orgulho, de como o Festival de Música Instrumental, em 2007, ajudou a projetar a Orkestra Rumpilezz. Agora, ele aposta na Sambone Orquestra. “Eles têm um trabalho de pesquisa muito interessante em cima do samba e do pagode baianos, brincam com isso, fazem releituras rítmicas”, opina.
Falsa imagem - Outro trabalho que merece a atenção do público, segundo Fernando, é o da dupla formada por Kiko Continentino e Paulo Russo. “É sempre um prazer maior, para o músico, tocar dentro de um festival, por conta das trocas com outros músicos e o público, que geralmente é bem atento”, afirma Kiko, que há 15 anos é pianista de Milton Nascimento. Paulo Russo faz coro. E vai além: “Existe uma falsa imagem que baiano só gosta de axé. Boa música independe do gênero”, afirma. Para ele, só não vale dizer que não gosta sem ter ouvido antes. Um bom convite para descobrir um som legal, pois não.
Grupo Garagem ‘nasceu’ no Festival - Amigos que se conheciam do surfe e do skate. Assim foi o embrião do Grupo Garagem, que nasceu... na garagem dos pais do músico Rowney Scott, 47 anos, na Boca do Rio, em 1981. O grupo atualmente é formado por Rowney no sax, Ivan Huol – também da formação original – na bateria e Ivan Bastos no baixo. Já no primeiro ano, a banda se apresentou no Festival Instrumental. “Foi um cartão-postal para a gente. Aliás, é um evento que impulsionou muita gente”, conta Rowney, que tinha 16 anos na época. O grupo nunca parou, diz o músico. “Apenas teve uns períodos de hibernação”, conta. Eles já lançaram três discos. A estreia foi com o vinil Grupo Garagem – Ao Vivo (1990), que deve ser relançado em CD em 2012. Depois, vieram Kokoro no Uta (1994) e Courama (1998). No show, hoje, eles recebem Luizinho Assis (teclado) e Paulo Mutti (guitarra).
ServiçoEvento 17º Festival de Música Instrumental da Bahia Local - Teatro Vila Velha, no Passeio Público Data - 16/12 (Gabi Guedes, Sambone Orquestra e Grupo Garagem), 17/12 (Triat’uan, Orquestra Afro Sinfônica e duo Kiko Continentino e Paulo Russo) e 18/12 (Adson Sodré Trio; Orquestra de Todos os Santos, do maestro Zeca Freitas; e Arismar do Espírito Santo) Horário - a partir das 19h Ingresso - R$ 2 (inteira)