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MÚSICA

Filho de Guiguio do Ilê chama atenção na nova cena baiana

Filho de Guiguio do Ilê, rapper Mr. Armeng chama atenção na nova cena baiana

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09/04/2012 às 8:44 • Atualizada em 27/08/2022 às 1:42 - há XX semanas
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O músico cresceu ouvindo reggae, Lazzo, Barry White, Benito Di Paula, Ilê e Olodum.
Não é necessário muito esforço para perceber as influências musicais do rapper Mr. Armeng, 29 anos, que vem ganhando destaque na cena musical alternativa de Salvador. Logo na entrada da casa onde ele foi criado, no Vale das Pedrinhas, vemos pôsteres de dois ícones da música negra mundial: o reggaeman jamaicano Bob Marley (1945-1981) e o soulman americano Stevie Wonder. Maurício Souza, seu nome de batismo, não nega: "O negócio aqui é música negra!", garante ele, filho de Guigio do Ilê, ou melhor, ex-vocalista do bloco afro Ilê Aiyê desde 2010. Música, aliás, sempre fez parte da vida de Armeng, cujo videoclipe esperto A Noite é Nossa merece ser conferido no YouTube: "Lembro que na minha infância e na adolescência, na entrada daqui de casa, tinha festa todo domingo e era música o dia inteiro, das 10 da manhã até 7 da noite". O músico cresceu ouvindo reggae, Lazzo, Barry White (1944-2003), Benito Di Paula, Ilê e Olodum. Mas ele não escutava só música negra: também havia espaço para o pop rock internacional dos Bee Gees e Phil Collins. Hip hop O rap entrou em sua vida na adolescência. Mr. Armeng começou a andar de skate e os amigos lhe mostraram outros sons. "Conheci rock, hardcore e, nessa época, fui apresentado ao rap do Racionais MCs e conheci umas pessoas do hip hop. Os cabelos trançados e as roupas largas daquele universo do hip hop sempre me encantaram". Em 2003, próximo à casa do artista, houve um evento que foi decisivo em sua carreira. "Aconteceu um festival com oficina de DJ, curso de breakdance e aulas de grafitagem. Ali, conheci muita gente e me animei pra formar uma banda, a Cabeça Ativa, de rap". Nesse período, ele trabalhava em um posto de gasolina como frentista e começou a se equipar. Também se jogou como produtor musical, quando conheceu os primeiros programas de computador e montou um miniestúdio em sua casa. Ele funcionava no mesmo sobrado no Vale das Pedrinhas, onde o rapper recebeu o CORREIO. "Era tudo improvisado: computador com o gabinete aberto, caixas de som pequenininhas, fios pendurados em tudo que é canto. Nada era profissional!". E, claro, daí para o nome artístico, foi um pulo. "Na época, usava muito o MSN para me comunicar com as pessoas e o armengue do estúdio era famoso na internet. Aí, resolvi, adotar oficialmente o nome", diverte-se. Mas foi em 2006, aos 24 anos, que ele tomou a decisão de se profissionalizar como artista. Quando conheceu o parceiro Leandro Sotero, botou na cabeça que ia montar um estúdio de verdade com o amigo. Com o dinheirinho guardado como frentista, pediu demissão do trabalho, começou a comprar equipamentos de qualidade e investiu na acústica de um estúdio no bairro de Massaranduba. Nasceu o Freedom Soul Records, o único especializado em rap em Salvador, segundo Mr. Armeng, para quem o estúdio representou um passo importante para o hip hop local. No Freedom Soul já gravaram MC Daganja, o rapper Fall e Tonho Matéria com o Calibre MC. Até o agora conhecidíssimo Magary Lord - para quem Armeng abriu o show na Área Verde do Othon, dia 12 de fevereiro - já deu o ar da sua graça por lá. ViolênciaHá 11 anos morando no Vale das Pedrinhas, bairro muitas vezes associado à violência, Armeng sai em defesa da comunidade: "Aqui, fui ficando mais esperto e vivi grandes momentos. Jogava bola, gude, brincava... E sempre vi muita cultura por aqui. A música faz parte da vida do bairro. Há muitos percussionistas, inclusive vários tocaram na Timbalada". As questões sociais preocupam o rapper. Ele participa de reuniões comunitárias e há duas semanas esteve na caminhada das mulheres negras, que protestava contra a violência à mulher. O artista cutuca as instituições oficiais: "Colocar polícia nas ruas não basta! Reprimir não é suficiente! Tem que trazer cultura, esporte!" Nas suas músicas, Armeng prefere falar de amor e de relacionamentos, mas ele não ignora o problema da violência, claro. Tanto é que não hesitou em aceitar o convite do diretor Max Gaggino para compor a trilha de um documentário sobre o menino Joel, morto em 2010 durante uma operação da polícia no Nordeste de Amaralina. "Eu conhecia o pai do garoto e me senti de mãos atadas. Com certeza, é preciso ir às ruas, protestar, mas não basta queimar pneu no meio da rua porque assim a opinião pública pode ficar contra você", diz Mr. Armeng, dono de um discurso bem articulado. Guiguio fez mais de 20 carnavais no Ilê AyêO pai de Mr. Armeng, Guiguio, já passou pelo Badauê e pelo Olodum, mas ficou conhecido mesmo pelos 26 anos no Ilê Aiyê. Em 1984, entrou na banda e fez no ano seguinte seu primeiro Carnaval pelo bloco. À frente do Ilê, cantou com celebridades como Caetano Veloso, Gilberto Gil e Daniela Mercury. Ele ainda tem na ponta da língua as músicas que mais faziam sucesso: Negrume da Noite e Depois que o Ilê Passar. Como compositor, teve canções marcantes: O Mais Belo dos Belos, gravado por Daniela Mercury; Ilê, Pérola Negra, em parceria com Rene Veneno, também gravado por Daniela; Adeus, Vai, Vai, com Chico Santana e Juci Pita, gravada por Ivete Sangalo ainda na Banda Eva. Sobre o Ilê, prefere não guardar mágoas, apesar de fazer queixa sobre o irrisório cachê que recebia: nos shows da Liberdade, chamado de ensaios, embolsava módicos R$ 50, que mal pagavam os táxis que tomava para ir até o local e para voltar até sua casa. "Agora, quero pensar no futuro", diz o cantor, que já ensaia com uma banda e em breve volta aos palcos de Salvador. [youtube q857zC1D__I]

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