O irreverente Odair Cabeça de Poeta, vive em Guaibim, paraíso localizado em Valença, na Bahia |
Embora há 10 anos afastado dos palcos, por escolha própria, nunca esqueceu a vida de artista. “A música está no corpo da gente, na alma da gente”, revela o artista. E com essa declaração, após uma conversa de aproximadamente 20 minutos, contando sobre seus feitos na música, as parcerias, os shows, Odair se emociona, e com voz estremecida pelo choro, pede para continuarmos a entrevista no dia seguinte. “Me desculpe, mas é que estamos falando de lembranças de mais de 30 anos atrás.”, e concluiu a entrevista, fazendo um pedido: “Vamos continuar amanhã, mas me ligue de noite! Eu ainda tenho horário de artista, durmo 4h da manhã e acordo tarde!”, e assim desligamos o telefone, com a promessa de continuarmos a conversa no dia seguinte.
Em 2001, seu plano era desenvolver um trabalho ligado à percussão e levá-lo para os Estados Unidos. Para isso, resolveu sair de São Paulo, e ir para Boipeba – ilha inserida no Arquipélago de Tinharé, distante 340 km de Salvador - lugar pacato, onde ia conseguir conceber o seu projeto com tranquilidade. “Fui pra ficar dois meses, mas gostei tanto e acabei ficando 10 anos! Abri uma pousada, depois vendi e fui para Guaibim – distante 18 km de Valença - , onde estou morando agora”, contou. Foi ai, segundo ele, que se afastou do mundo frenético de fazer shows, ensaios, discos e resolveu descansar. “Praticamente desde 14 anos trabalho com música, já cheguei a ficar dois meses viajando! Quis um descanso”.O último trabalho que fez, embora já estivesse sem gravar discos e fazer show, foi há três anos, comandando o programa de rádio “Rebuliço”, exibido todos os sábados, na Band FM. Há quatro anos, ele é dono de um provedor de internet em Guaibim e diz estar dando muito certo. A escolha por trabalhar com internet surgiu muito do seu interesse por tecnologia, juntando o útil ao agradável.
“Já cheguei a ficar dois meses viajando, quis um descanso” |
Odair, em show no Canecão (RJ). |
Mágoa de um artistaA sexta chegou, e eu esperei a noite chegar. Afinal, a entrevista teve o tempo e a intensidade do artista. E foi neste ritmo que Odair declarou estar muito magoado com o que tem lido na internet, a respeito do seu trabalho. Mas o que andam dizendo? Pergunto, em busca de mais detalhes. “Tá tudo completamente distorcido! Por exemplo, eu li uma espécie de biografia dos Novos Baianos na internet, escrita por um jornalista que disse que Pepeu tinha sido o dono do grupo Enigmas, e não é verdade! E mais, que eu não fui um dos Novos Baianos...Eu jamais ia dizer uma coisa que eu não tivesse feito!”, relata, indignado.
Projetos para o futuro. Sim, ele vai voltar!
"Alguns jornalistas dizem que eu não fui um dos Novos Baianos...Eu jamais ia dizer uma coisa que eu não tivesse feito!” |
Odair faz poesia desde 18 anos. O primeiro poema que escreveu foi O Dragão que São Jorge Matou Não Morreu. Inclusive, muitas canções nasceram como poemas. E vai ser através da poesia que Odair Cabeça de Poeta pretende retornar ao meio artístico. No momento, está terminando um livro que reúne seus escritos poéticos e pretende lançar em breve.O título ainda não está definido, mas tem duas opções: Katraka (mesmo nome do provedor de internet do qual é dono, e que expressa uma espécie de antropofagia, “de o mundo girar, e a catraca rodar, como uma cobra sendo ao mesmo tempo a sua própria comida”), ou Sertão de Nova York. Além do livro, fala da possibilidade de voltar aos palcos: “Se eu entrar no palco e pegar uma guitarra vou me sentir muito bem!”, conclui, deixando um tanto de esperança, e provando que a chama criativa e efervecente ainda existe, pronta para incendiar novamente. Confira um poema, escrito por ele, que estará no livro a ser lançado em breve.Quando o país começa a cantar"Quando o país começa a acordarRespeitar sua raizFica como a cachoeira Que desemboca lá na clareiraO nosso índio é quem diz.Quando o país começa a cantarRespeitar o que o povo dizFica como uma estrelaQue brilha tão verdadeiraO sertanejo é quem diz.Não há nada tão sinceroQue condene o nosso cantoPra acabar com a nossa sorte.Não há nada que venha ferirDestruir o nosso cantoPra matar a nossa morte."
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