Abram alas, senhores e senhoras. A cantora e compositora carioca Marisa Monte, 45 anos - a artista mais importante surgida no Brasil desde a tríade sessentista Elis Regina (1945-1982), Maria Bethânia e Gal Costa -, apresenta no Teatro Castro Alves, de quinta a domingo, o espetáculo Verdade Uma Ilusão. Baseado no álbum O Que Você Quer Saber de Verdade (Phonomotor/EMI), lançado no Brasil e em mais 27 países em 2011, o show já esgotou os seus três primeiros dias no TCA e, por isso, foi criada uma apresentação extra, dia 13 (domingo), às 20h. Os ingressos estão à venda a partir de amanhã.
Marisa Monte é a mais influente intérprete feminina brasileira das últimas duas décadas e já vendeu mais de nove milhões de álbuns (Leonardo Aversa) A capital baiana abre a etapa nordestina da turnê que marca o retorno da cantora após cinco anos longe da estrada. O show estreou em junho de 2012 em Curitiba e vai à Europa, em abril e maio, e aos EUA, em junho. Nele, Marisa interpreta 24 canções - incluindo o bis - de todas as fases de sua carreira. Artes visuais Apoiando-se em recursos tecnológicos de última geração, a maior parte do roteiro musical é acompanhada de projeções, em alta resolução, de 16 obras - quase todas em vídeos - criadas por 15 grandes artistas visuais do país - Luiz Zerbini, Tunga, Cao Guimarães, Marcos Chaves e Marilá Dardot, entre eles. Cada vez mais, Marisa Monte embala a sua música simples de modo sofisticado. Dona de uma estética particular e que influenciou uma geração de novas cantoras de MPB, ela fabrica biscoito fino para as massas. A seguir, confira entrevista, por telefone, com MM. Verdade Uma Ilusão tem uma estética muito elogiada, música e projeções de artes visuais numa grande interação. Para a crítica musical é o seu show mais bonito. No que você pensou conceitualmente ao montar o espetáculo?Essa preocupação com a estética me acompanha desde o começo, você sabe. Antes de gravar meu primeiro disco (MM, de 1989), eu já tinha show com cenário e tudo. O palco é o lugar do meu contato direto com o público e eu tento transformar esse momento em algo especial, mágico, para quem vai me ver. Dessa vez, eu queria que as projeções fossem feitas a partir de imagens de artistas plásticos brasileiros contemporâneos. Tem até uma curadoria dos vídeos, que foi feita por Luísa Duarte, com quem vejo muitas mostras em museus e galerias de arte aqui no Rio. Tenho alguns amigos e colegas da crítica que, embora gostem muito do seu trabalho, dizem que falta mais emoção de intérprete nos shows. Que você é racional demais. Acho que falam isso por causa do nosso sangue latino emocional demais (risos) e também devido à disciplina com que você conduz sua carreira...(Risos) Eu gravo e levo para o palco minhas emoções, o que eu sinto. Acontece que eu sou muito emocional e, por isso mesmo, tenho que racionalizar toda essa relação, senão vai ser uma loucura. Tenho que ter uma certa dose de reflexão perante tanta emoção e uma carreira envolve muita coisa, vai muito além da voz. Um show com a minha banda e um disco representam meu momento de estar no mundo, assim como a minha vida fora disso tudo também, com a minha família, filhos, os meus amigos. A sua banda atual, com nove músicos, inclui Lúcio Maia (guitarras, violões, sitar), Pupillo (bateria) e Dengue (baixo), que são integrantes da Nação Zumbi. Como aconteceu essa aproximação? Conheço todos eles desde o tempo de Chico (Science) e já havia gravado com Pupillo no disco anterior. Quando fui gravar O Que Você Quer Saber de Verdade, eu chamei os três porque queria ter uma sonoridade de banda. Para a turnê, felizmente podemos conciliar a minha agenda com a da Nação Zumbi. Peguei os três emprestados. É uma honra poder tê-los na minha turnê. Você faz turnê de cinco em cinco anos, geralmente. Quando você está na estrada, como agora, os seus filhos (Mano Wladimir, 10 anos; e Helena, 4) te acompanham em algumas viagens? Eles vêm para Salvador?Às vezes viajam comigo, mas só quando estão de férias da escola e quando faço show em cidades que tenho amigos. Acho que eles irão para Salvador, estamos vendo. De todo o modo, exceto quando estou em turnê na Europa e EUA, tem espaçamentos entre um show e outro - e aí volto para ficar uma semana em casa com eles.
O que você costuma fazer quando vem a Salvador, além de rever grandes amigos como Brown? Depois do show, por exemplo, vai a algum restaurante ou lugar especial?Quando estou de férias na Bahia faço tudo que tenho direito, praia, comidinhas, Carnaval, mas em show, em turnê, é diferente. Sou quase uma freira carmelita (risos), vou para o hotel, como algo frugal e vou dormir para estar bem para o público na noite seguinte. Tenho que me preservar, não posso gastar energia à toa. Você tem consciência de sua grande influência sobre toda uma geração de cantoras na MPB nas últimas duas décadas?Não penso sobre isso. Soaria meio pedante e não é confortável para mim pensar em intérpretes que eu possa ter influenciado. Prefiro pensar nos que me influenciaram... Gal, Billie Holiday, Maria Bethânia, Marvin Gaye, Elizeth Cardoso, Caetano, Chico (Buarque), Gil, Clara Nunes... E essa geração ano 2000 da música brasileira? Você tem acompanhado?Sim. Gosto muito da Tulipa Ruiz, da Céu, que tem coisas lindas... Tem muita gente... Criolo, Emicida, Cícero, André Carvalho (NR: filho de Dadi, parceiro e músico de Marisa, e autor de Nada Tudo, faixa de O Que Você Quer Saber de Verdade), Marcelo Jeneci, a Gaby Amarantos, que é super alto-astral, autêntica. Acho que é uma geração que já traz a mistura de MPB e pop internacional de modo orgânico, sem preconceitos e sem compromisso com rótulos. E Pitty, você curte?Ainda bem que você lembrou dela. Gosto muito da Pitty, adoro o jeito dela, o trabalho agora também no Agridoce. Em relação às cantoras, acho essa nova geração mais autoral. Hoje, tem mais mulheres compondo. É algo que veio mudando na música brasileira década após década. Dona Ivone Lara conta que, na época dela, ela precisava dar a música para o primo defender na quadra da escola (de samba), tal o preconceito que existia contra a ideia da mulher compor. Você construiu uma carreira de grande sucesso em meio às transformações da indústria musical, do LP e do CD ao download na internet, rede sociais e novas formas de propagar e divulgar a canção. Qual a sua opinião sobre as mudanças? Tudo que aconteceu foi revolucionário e acho que, no futuro, consumir música vai ser muito mais um serviço do que um produto. As pessoas vão assinar para ouvir música como se fosse uma TV paga. Acho libertador o processo da música não precisar do formato físico. Produzir, ouvir e consumir música se tornou algo muito mais democrático. Matéria original do Correio Primeira turnê de Marisa Monte desde 2007 chega ao TCA; veja entrevista com a cantora
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