Rogéria e Divina Valéria apresentam show inédito no Teatro Sesc

A década de 1960 é conhecida como o início dos anos de chumbo no Brasil. Mas é também a década que duas das maiores divas do Brasil despontam no cenário nacional. Comemorando 50 anos de carreira, as transformistas Divina Valéria e Rogéria se apresentam em um show inédito em Salvador, no Teatro Sesc Casa do Comércio, na sexta-feira (12) e sábado (13), às 21h.

As amigas se apresentam pela primeira vez, juntas em um espetáculo inédito no Teatro Sesc Casa do Comércio (Foto: Divulgação)

O show deste fim de semana é estreia mundial, como elas mesmo falam. “Quem não vir esse show aqui em Salvador, vai ter que ir a Paris para assistir”, brinca Rogéria. Essa é a primeira vez que as duas se apresentam juntas no mesmo palco, em um espetáculo das duas. “A gente sempre se encontrou em espetáculos, mas dentro de um elenco específico”, conta Divina Valéria. As carreiras individuais das duas não permitia um encontro dessa natureza, nem mesmo quando as duas amigas moraram na França, onde se apresentavam no Carrossel de Paris, famosa casa parisiense que apresentava show de travestis, na década de 1970.Divina Valéria e Rogéria, duas geminianas autênticas, são pioneiras na arte no Brasil, com destaque para a época em que começaram a se “montar”, que coincide com o endurecimento do estado e perseguição, uma época em que gays e travestis eram muito mais reprimidos que os dias atuais. Antes delas algumas já faziam isso, mas a dedicação e o talento das duas divas fizeram com que, cinquenta anos depois, ainda sejam aplaudidas de pé quando se apresentam. A receita para a longevidade do trabalho: “talento”, afirmam as duas.Vida e ArteNo final dos anos 1960, o Brasil estava mergulhando ainda mais na dureza da ditadura. Na Espanha, a ditadura franquista também restringia direitos, enquanto a França passava por uma efusão cultural logo depois do Maio de 1968. Nesse contexto, as duas saíram do Brasil, Divina Valéria um pouco antes.“Cheguei na Espanha, pra trabalhar em uma casa, mas os shows de travestis tinham acabado de ser proibidos. Como eu precisava pagar minhas contas cantei vestida de homem”, conta Valéria. Seis meses depois viraria estrela de uma revista. “Quando a revista foi passada para a censura, os censores permitiram que eu trabalhasse de mulher porque me consideraram uma artista”, finaliza. Alguns meses depois ela partiria para Paris, onde, de alguma forma, prepararia os caminhos para Rogéria, que estava de partida para a Espanha para trabalhar no mesmo lugar que a amiga. Em Paris, trabalhando no Carrossel, as duas começaram a usar roupas femininas em tempo integral.Assista a uma performance de Rogéria: [youtube kPWzZjChWns]Também foi em Paris que Divina Valéria conheceu um grande amor, como conta Rogéria. “Ela arrajou um homem riquíssimo, um conde”, conta. “Eu não tinha nem noção do que estava vivendo”, relata Divina. Aos risos, ela diz que ainda se pergunta se ele estaria vivo. As duas concordam: foi um amor arrebatador.Depois da temporada na Europa, as duas voltaram para o Brasil. Rogéria não voltaria mais a morar no Velho Mundo, ao contrário de Divina Valéria, que alguns anos depois de trabalhando nos palcos brasileiros voltou a se apresentar em Paris e a fazer turnê pelo mundo.Assista também a uma performance de Divina Valéria:[youtube 80GL40gxRNE]Histórias e CancõesEssas e outras histórias estão no show 'Histórias e Canções' que elas apresentam em Salvador neste fim de semana. Segundo as duas, elas tem recebido propostas para levar o espetáculo a outros palcos brasileiros. No entanto, um grande show deve acontecer em 2015 para comemorar os 50 anos de carreira das duas e de mais oito divas do transformismo no Brasil. O espetáculo comemorativo será apresentado no lançamento do filme 'Divinas Divas', longa documentário dirigido por Leandra Leal, que tem lançamento previsto para o próximo ano. Também participaram do longa Jane Di Castro, Camille K, Fujica de Holliday, Eloína, Marquesa e Brigitte de Búzios.Assista ao trailer de 'Divinas Divas':*Com supervisão e orientação de Márcia Luz