Quem ainda não colocou o pé na estrada para curtir o São João no interior da Bahia pode aproveitar esta segunda-feira, dia 24, para sentir o clima da tradicional festa em cidades do Recôncavo e da Região Metropolitana de Salvador. Nem mesmo o retorno ao trabalho na terça impede uma ida rápida a cidades como São Francisco do Conde, localizada a 67 quilômetros da capital, onde se apresentam gratuitamente, a partir das 22h, Aviões do Forró, Harmonia do Samba e Cavaleiros do Forró.
Praça de Amargosa, onde estão sendo realizados os principais shows dos festejos juninos |
Em Cachoeira, a cerca de 1 hora e meia de Salvador, Alceu Valença e Flávio José estão entre as atrações que se apresentam na praça da cidade na noite de hoje. Por lá, a festa se estende até a terça, quando se apresentam Gilberto Gil, Saulo Fernandes e a banda Estakazero. Em Cruz das Almas, a cerca de 150 km da capital, Chambinho do Acordeon (que interpretou Luiz Gonzaga no cinema), Cangaia de Jegue, Adelmário e Aviões do Forró se revezam nos dois palcos montados na praça central da cidade a partir das 18h.
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Para quem prefere misturar o forró com axé, a banda Chiclete com Banana é uma excelente opção e está a apenas 184 km de Salvador. A banda comandada por Bell Marques faz show gratuito em Santo Antônio de Jesus, onde também se apresentam os forrozeiros Flávio José e Del Feliz e o sertanejo Danniel Vieira.
Bell Marques durante desfile em Cruz das Almas |
A cidade está com todos os leitos de hotéis e pousadas ocupados, mas dá para curtir o último dia de festa por lá no esquema bate-volta. É só atravessar a Baía de Todos os Santos pelo ferry e embarcar em um dos ônibus que fazem a ligação entre o terminal de Bom Despacho e a cidade pela BA-046. São cerca de 50 minutos de viagem e dá para voltar a tempo de trabalhar na terça-feira sem levar bronca do chefe.
Cruz das Almas tem clima de Carnaval e homicídio em circuito de festa
Para muita gente que escolheu Cruz das Almas para curtir o São João, a presença de bandas de axé na cidade descaracterizou a festa e provocou um aumento significativo no número de ocorrências policiais. Na opinião da aposentada Sílvia de Santana, de 57 anos, a tentativa da prefeitura de resgatar a festa tradicional ficou apenas na decoração. “Não entendo qual o sentido de colocar tanta música sertaneja e até banda de axé em cima de um palco em pleno São João. Sinto falta do bom forró pé-de-serra”, criticou.
Para o universitário Marcos Azevedo, de 21 anos, a programação da cidade “respeitou a tendência”. Na opinião do estudante de agronomia, “a Bahia é muito complexa para separar as coisas. Não dá para ouvir só forró durante cinco dias de festa”.
Ação da PM durante passagem do bloco do Forró do Bosque, com Chiclete com Banana |
Poluição sonora
Em uma coisa, Marcos e Sílvia concordaram. O clima da cidade estava muito parecido com o do Carnaval de Salvador. “A quantidade de carros com som alto espalhados pelas ruas e o comportamento dos foliões me fez lembrar da festa na capital, está tudo muito diferente da época em que eu era jovem”, comparou a aposentada.
A Praça Multiuso, de onde teve início o desfile do trio do Chiclete, foi transformado em um ponto de concentração de carros com potentes equipamentos sonoros. “A potência do meu som é equivalente à frente de um trio elétrico. Há 16 anos venho para Cruz das Almas no São João e, este ano, a prefeitura oficializou esse espaço para nós”, contou Carlos Bui, proprietário do veículo e das caixas de som que reproduziam músicas do Chiclete com Banana antes da saída do trio elétrico com a banda.
Ao lado do som de Carlos, o empresário Deivison Saturnino, de 25 anos, comercializava chopp no fundo do seu veículo. “Um amigo trouxe de pernambuco e a gente resolveu fazer essa brincadeira aqui para minha galera. Com o som de Carlos, a coisa fica ainda mais animada”, falou. O som era tão alto que Bell precisou pedir para Carlos abaixar o volume antes de iniciar o desfile pelas ruas de Cruz das Almas: “Tô precisando começar o show aqui, gente. Abaixa aí, por favor”, apelou o artista.
Mesmo com dois álbuns com músicas de forró, foram as músicas de axé que predominaram e empolgaram a multidão que seguia atrás do Chiclete com Banana em Cruz das Almas. O clima preocupou a Polícia Militar, que precisou agir com mais vigor para separar as inúmeras brigas próximas à corda. Para o cantor Bell Marques, a presença de um trio no São João representa o resgate de uma festa de rua com a presença do povo. “Na verdade, nós já fizemos isso antes. O CD São João de Rua foi assim. Essa coisa da participação popular é muito bela e precisa ser mostrada. São João combina com rua, com trio elétrico”, contou.
Violência
No dia da apresentação do Chiclete com Banana, durante a madrugada do sábado, um adolescente de 17 anos foi morto com um golpe de estilete após se envolver em uma discussão na praça Senador Themístocles, onde estão montados os dois palcos principais da festa. Evangivaldo de Souza Garcia Junior assistia ao show da banda Estakazero quando foi atingido por Jeferson Silva Lima, de 27 anos, preso minutos depois e encaminhado para a delegacia da cidade, onde confessou o crime e disse ter agido em legítima defesa.
Praça Senador Themístocles, em Cruz das Almas, onde foi morto adolescente de 17 anos |
Amargosa: clima famíliar na cidade e protesto em festa de camisa na zona rural
Em Amargosa, o forró predominou nos primeiros dias de festa. Em casas alugadas, hotéis e pousadas da cidade, grupos de amigos e famílias aproveitaram os espaços organizados pela prefeitura para curtir o São João da maneira mais tradicional, com comidas típicas, muito licor e arrasta-pé.
No Espaço Carne do Sol, um dos locais mais disputados da cidade, 50 membros da família Fontoura se reuniram para assistir ao jogo do Brasil no sábado, dia 22. De acordo com Seu Nelson, de 79 anos, patriarca da família, três casas foram alugadas pelo grupo, que só retorna para Salvador na terça-feira. Para a partida contra a Itália, fizeram camisa especial e gritos de guerra personalizados da família.
A cerca de 3 quilômetros do centro, no Hotel Fazenda Colibri, na rodovia estadual que faz a ligação entre Amargosa e Mutuípe, milhares de jovens experimentavam um clima completamente diferente no Forró do Piu-Piu, que teve como atrações as bandas Garota Safada, As Coleguinhas, Asa de Águia e Timbalada. A festa de camisa às margens da BA-540 congestionou a rodovia, que teve trechos do acostamento ocupados por dezenas de carros.
Dentro do hotel fazenda, a torcida pelo Brasil não era tão grande. Na disputa pela atenção do público, o show das Coleguinhas, iniciado no mesmo horário do jogo do Brasil, ganhou de goleada para a transmissão da partida em um telão ao lado do palco. Durante os gols, as próprias cantoras da banda, Simone e Simaria, chamavam a atenção para o telão e cantavam músicas especiais para a Seleção.
A alegria com a vitória do time de Felipão e a empolgação com os dois primeiros shows do dia, contrastou com a revolta de muita gente quando a cerveja, oferecida de graça para os pagantes, acabou antes do show do Asa de Águia. Teve gente ameaçando garçom, chutando as paredes do principal bar da festa e protestando contra a organização do evento.
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