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Atriz trans de 'A Dona do Pedaço' planeja redesignação de gênero

Em entrevista, atriz trans revelou detalhes do seu personagem na trama global e da sua vida pessoal

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Redação iBahia

03/06/2019 às 14:59 • Atualizada em 31/08/2022 às 10:14 - há XX semanas
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"Eu não sou falsificada. Sou uma mulher de verdade. Mulher suficiente pra fazer qualquer homem cair aos meus pés. Só que não estou interessada em namorar, casar. Quero ser livre!”. É assim que Britney (Glamour Garcia), segura de si, responde ao entusiasmo da família pelas investidas de Abel (Pedro Carvalho) nela, nos próximos capítulos de “A dona do pedaço”. Transexuais, personagem e atriz já chegaram à novela das nove causando burburinho. Mas, diferentemente de Britney, Glamour é mulher de se amarrar no amor: já foi casada duas vezes e, atualmente, namora o produtor Gustavo Dagnese. Saiba mais sobre a artista de 30 anos que trocou a cidade de Marília, no interior de São Paulo, pelo Rio de Janeiro para se dedicar ao seu primeiro papel em novelas, na Globo.

Foto: Reprodução | Instagram

Sua personagem tem o nome de uma ídolo dos LGBTQI+. Britney Spears é também uma referência pra você?

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Eu amo Britney Spears! Ela é tudo! Sempre fui fã, desde criança. Ela, as Spice Girls e Madonna foram minhas grandes referências femininas. Estou achando o máximo usar o nome Britney na TV.

Estar numa novela da Globo, no horário nobre, era um sonho?

Meu sonho mesmo era ser atriz, independentemente do lugar de atuação: teatro, cinema ou TV. Mas não posso negar que é uma emoção grande estrear na Globo. O carinho comigo é grande, e a minha responsabilidade também. Estou superanimada com esse trabalho. Está rolando um burburinho... Cada vez que mexo no celular, é uma notícia nova a meu respeito.

Gostaria de estrear na figura de uma mulher cisgênero, em vez de trans?

Não! Eu acho Britney o papel mais incrível de toda a minha carreira (entre outros trabalhos, Glamour fez a peça “Salomé”, em 2016; a série “Rua Augusta”, do canal TNT, em 2018; e o longa-metragem “Horácio”, que ainda vai estrear)! O que eu acho mais legal nela é ser trans, porque muitas temáticas sobre esse nosso universo vão poder ser debatidas na trama dela. Esse papel tem um lado bem didático. Abre um diálogo entre a comunidade LGBTQI+ e a sociedade em geral.

E se rolar beijo?

Ih, já dei vários em cena! Não me causa ansiedade. Mas, por enquanto, não estou sabendo de beijo. Há muita polêmica com relação à vida amorosa dos transexuais. Nós somos pessoas normais, seria bom que a novela mostrasse isso.

Você já foi casada duas vezes e agora está namorando. Relacionar-se com homens foi complicado?

Mais complicado do que para as demais mulheres, com certeza. O que mais atrapalhava era o preconceito. Eles não assumem seu desejo, temem demonstrar que se sentem atraídos por alguém diferente. Mas eu paquerei, levei muito sim e muito não. E essas experiências me fizeram crescer como pessoa.

Sua transição aconteceu com que idade?

Com 18 anos. Ficou mais evidente no tipo de roupa que comecei a usar no dia a dia, no meu comportamento. Faço tratamento hormonal há muitos anos, e isso foi mudando minha estrutura física. Mas só há dois consegui minha nova documentação (como Daniela Garcia Machado). Foi burocrático, demorado. Antes, eu me chamava Daniel. Quis preservar um pouco de quem eu era, ninguém muda do nada. Glamour é nome artístico.

Você já passou pela cirurgia de redesignação de gênero?

Não... Eu quero, mas preciso de tempo e dinheiro para isso. Essa operação custa R$ 80 mil, em média. Vou ter que trabalhar muito para pagar. E são seis meses só para recuperação.

Na infância, sofreu muito bullying?

Bastante! Agressões físicas, ameaças... Parar e lembrar disso é triste, doloroso. Mas eu ambém era reativa, sabia me defender. Não ficaram traumas profundos. Não guardo lembranças negativas.

Qual foi a primeira vez em que se sentiu pertencente ao universo feminino?

Numa festa de aniversário de 2 ou 3 anos. Foi uma decepção quando vi a decoração toda azul, acho que era de palhacinhos. Eu queria que fosse rosa, de princesa. Esperneei, chorei, fiquei revoltadíssima!

Sua mãe é psiquiatra. Ela foi importante no seu processo de autoaceitação?

Devo tudo a ela. O conhecimento que tinha por conta da profissão, ela utilizou para me ajudar a ser feliz. Terapia é importante para todo mundo. E foi pra mim: fez eu me encontrar socialmente, preservou minha saúde mental.

Houve atritos em família, especialmente com seu pai?

Sempre tem, né? Foi mais difícil pra ele entender enquanto eu era criança. Conforme fui crescendo, tudo foi se resolvendo. Hoje, adultos, eu e meus pais somos melhores amigos. Sinto muita saudade deles porque estou morando no Rio e eles continuam no interior de São Paulo. Mas eles e meus três irmãos estão orgulhosíssimos me vendo feliz e trabalhando com o que eu gosto.

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