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Perrone é descrito como uma pessoa tranquila e alto-astral |
Nem a música, a alegria e o amor pela vida do baterista Paulo César Perrone, 32 anos, exibidos em sua página de Facebook, foram capazes de protegê-lo da onda de violência que toma conta de Salvador. O crime mobilizou amigos e músicos de duas maneiras distintas. De um lado, a tristeza. Do outro, a revolta.“Que tristeza meu Deus, um amigo e um caro trabalhador” e “estou assustado com Salvador”, foram tweets postados por Froza, atual vocalista da banda Rapazolla. O fotógrafo Rafael Kent, também usou a rede social para expressar a indignação. “E quando a patifaria em Salvador machuca um amigo teu? E nego ainda quer Copa! Que Copa?”, postou ele no Twitter.Perrone foi vitima de uma suposta saidinha bancária, na tarde de terça-feira, no Caminho das Árvores. Segundo testemunhas, dois homens em uma motocicleta abordaram Perrone, que dirigia um Uno verde e, em seguida, o balearam na cabeça.
Cirurgias O músico, que já havia passado por uma cirurgia para retirada da bala, foi submetido ontem a um novo procedimento para drenar um sangramento na cabeça, identificado através de tomografia. Agora, ele segue em unidade de terapia intensiva, no HGE, em estado grave. Em seu facebook, o músico, descrito pelos amigos como “um ser humano fantástico”, tem em um de seus álbuns de fotos o título “Viver é Bom Demais!”. Nas suas citações favoritas, a música Paciência, do cantor Lenine, que termina com a frase “a vida é tão rara, tão rara...”. Uma prima de Paulo César, que não quis se identificar, contou que a família do músico está em estado de choque. “Ele é um rapaz supertranquilo e foi vítima de um crime absurdo como este. Mas estamos com esperança de que ele consiga sair dessa vivo”. Cleide Leite, funcionária da mãe de Perrone e amiga da família, afirmou ter apenas coisas positivas a dizer sobre o baterista. “Ele é muito pacato, alegre, astral lá em cima, superprestativo e tem uma educação maravilhosa”, conta. Segunda a assessoria da banda Estakazero, na tarde do crime, mais de 50 músicos foram ao hospital para buscar informações sobre o estado de saúde da vítima. Perrone, que trabalhava há mais de um ano com o grupo, também já tocou com bandas como Forró no Kilo, Dr. Kifura, Filhos da Mãe e cantores como Pablo Dominguez, e Márcio Mello, que estava revoltado com a situação da cidade. “Tenho 44 anos e já perdi três amigos assassinados em Salvador. Tá cada dia mais difícil isso”, disse. O técnico de som Richard Meyer, que trabalhou na Estakazero por sete anos e indicou o músico, contou, emocionado, que ele está construindo uma casa na estrada do CIA. “Conheço Perrone há dez anos. Ele é muito família e nunca o vi bebendo ou fumando”.
Abalados O cantor Pablo Dominguez, que agora vive em São Paulo, afirmou estar abismado. “Eu morava próximo do local, passava por ali todos os dias. Ele é um cara que sempre passou coisas boas pra gente, toca bem pra caramba, com a alma. Gostava de ouvir desde o jazz e música instrumental até o rock mais pesado”, disse. Segundo a assessoria da Estakazero, os músicos estão muito abalados com o crime e preferem não comentar o assunto. O caso está sendo investigado pelo delegado Marcelo Tannus, do Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP). Ontem, o CORREIO tentou falar com o delegado, mas até o fechamento desta edição, ele não foi localizado. A assessoria de comunicação da Polícia Civil, que também não conseguiu contatar o delegado, informou que não há novidades sobre o caso e que a autoria do crime permanece ignorada.
Motociclistas temem o preconceitoA sequência de crimes cometidos por motociclistas voltou a ser alvo de comentários depois de mais uma tentativa de homicídio, desta vez, no Caminho das Árvores - bairro nobre da cidade. Para a polícia, a ação dos motocidas tem tido notável crescimento já há algum tempo, mas, virou rotina há cerca de cinco anos, com o boom da violência. Diante da repercussão de mais um crime dessa modalidade, o presidente da Associação dos Motociclistas do Estado da Bahia (AMO-BA), Ruiter Franco, declarou que a “negatividade” ligada à imagem dos pilotos de motos tem prejudicado a rotina daqueles que não têm ligação com o crime. “A divulgação feita dessa forma causa dano a uma gama muito grande de pessoas sérias e coerentes com a responsabilidade do uso da motocicleta”. Para ele, o fato do motorista ser colocado como algo inerente ao veículo, torna pior a situação. “Quando um crime acontece com um carro, se diz que alguém usou o veículo para tal, mas quando o mesmo passa com a moto, dizem que foi um motociclista”, argumenta. “O motocida não é um motociclista, mas sim um homicida que usou uma moto para o crime”, explica Franco. Segundo a polícia, a evolução desse tipo de crime deve-se à facilidade de fuga que a moto proporciona, já que ela permite uma maior mobilidade em locais onde o carro não tem acesso, como escadas e becos. Isso obriga que o policial tenha que fazer buscas a pé e, por isso, se expor.