Na mesma tarde em que uma performance com atores nus era vetada dentro de um museu no Centro do Rio, Chay Suede comentava o quão lhe é natural ficar sem roupa. Sem paranoias, preconceitos ou questões, o ator de 26 anos diz que não tem pudor quando precisa fazer cenas de nudez. No dia da nossa foto de capa, não foi diferente: Chay manteve-se tranquilo ao ser clicado pelado por Bob Wolfenson no estúdio.
— Eu fui perdendo qualquer pudor conforme a frequência das cenas em que eu precisava mostrar o corpo no set aumentava. Meus personagens sempre fazem cenas de sexo, no banho ou só pelados mesmo. Os diretores gostam de tirar a minha roupa, e isso simplesmente não é uma questão para mim — avisa ele, deixando claro que sabe o quanto a nudez é algo inerente à arte. — O corpo em si é algo que você tem ali, naquele momento. Estou bem com o meu, me acho bonito. Ele é o resultado das minhas escolhas recentes. Se eu quiser mudar o jeito como meu físico está, eu consigo. São mudanças de hábito, apenas. Os padrões de comportamento é que são complicados. Para transformá-los, é preciso ter muita autocrítica, vontade e tempo.
No fim do ano passado, ao terminar a novela “Segundo sol”, ele precisou perder cinco quilos de massa muscular para viver um ladrão no thriller argentino “4x4”, dirigido por Mariano Cohn e João Wainer. Em poucas semanas, tinha chegado à meta.
— Emagreci fazendo boxe, esporte que descobri há tão pouco tempo e no qual estou viciado. Faço quase todo dia, suar é uma questão de necessidade. Se acordo e não me exercito, sinto que o dia não aconteceu — conta ele, que, volta e meia, ainda faz musculação e levantamento de peso olímpico.
Enquanto essa parte está bem resolvida, Chay conta que se policia muito para tentar deixar o machismo longe de suas atitudes. É uma preocupação diária, que ele combate a todo instante.
— Procuro ser mais femininista a cada dia. Como o machismo é algo intrínseco, fico atento a tudo, nas minhas mínimas atitudes. É preciso estar de olho nos detalhes, porque o machismo sobrevive nas pequenas coisas. Não há mais espaço para um homem não ser feminista — afirma o Chay, que ainda busca ter o temperamento mais calmo. — Para isso, a oração me ajuda muito. As cargas pesadas da vida, essas que eu não consigo dar conta sozinho, oro e entrego a Deus.
Criado em uma família presbiteriana, ele lembra que teve uma educação rigorosa mas que, hoje, não é religioso e não frequenta a igreja.
— Existem coisas da religião de que não quero participar e nem julgar. Tenho muita fé, desde menino, e aprendi a me conectar com Deus de uma maneira não-religiosa. Amar a Deus foi a coisa mais importante que aprendi com a minha família, assim como ter respeito pelas pessoas, ser sincero e não ter vergonha de expor as minhas fraquezas.
Chay diz não acreditar em acasos. Em sua vida, considera ser tudo “um plano de Deus”. Como aconteceu há três anos, quando tirou uma foto despretensiosa com Erasmo Carlos e, logo depois, foi chamado para fazer o filme “Minha fama de mau”, sobre os altos e baixos da Jovem Guarda pelo olhar do Tremendão. O longa, que tem direção de Lui Farias, estreia no próximo dia 14.
— Minha vida é isso o tempo todo. As pessoas quase não acreditam. O começo de “Minha fama de mau” foi mais um deles. Estava em um evento em que o Erasmo iria se apresentar. Sempre fui fã e, apesar da timidez, pedi para tirar uma foto com ele. Fiquei olhando o retrato e pensei que poderia fazer o Erasmo jovem, que tínhamos algo parecido. Até falei com o meu empresário. No dia seguinte de manhã, recebo um e-mail da produtora de elenco Marcela Altberg me chamando para fazer o teste. Ela não tinha ideia de que, na noite anterior, eu tinha imaginado como seria legal fazê-lo em algum trabalho. E eu não sabia que havia um filme em pré-produção. Quando fiz o teste, tinha certeza de que o papel seria meu — lembra Chay, que, durante as gravações, viu sua admiração pelo músico só aumentar. — Nos encontramos poucas vezes, ele preferiu não visitar o set para não impor algum peso. O que não aconteceria porque ele é muito agradável e doce. Mas o Erasmo é tão elegante, que até nisso pensou.
Depois de uma reforma que durou quatro anos, Chay acaba de chegar em sua nova casa. Apesar de adorar viver no Rio, ele se apaixonou por essa morada construída nos anos 1970 no Alto de Pinheiros, em São Paulo. Um dos motivos foi o jardim cheio de árvores frutíferas e até palmeiras imperiais. É lá que ele, a noiva, a atriz Laura Neiva, e seus cinco cachorros vão viver juntos.
— É o lugar dos meus sonhos, parece uma casinha de fazenda. Quando entrei, tive a certeza de que deveria comprá-la. Temos pés de limão, goiaba, tangerina, pitanga e lichia ao redor dela. Laurinha e eu, que adorávamos receber os amigos para festinhas diurnas no nosso apartamento na Gávea, vamos continuar armando os nossos eventos aqui. Sempre preparamos moquecas: uma baiana e uma vegetariana para ela, que não come carne. Sou muito caseiro, adoro cuidar da casa, fazer faxina ouvindo música, cozinhar o almoço do dia a dia e até escutar o barulho da máquina de lavar batendo roupa — diz Chay, que vai se casar com a modelo e atriz em breve. — Laurinha é que cuida mais da decoração, sabe os nomes dos designers, fica pesquisando novas peças para os ambientes.
Muitos dos móveis da casa foram desenhados pelo casal. Chay conta que adora ter peças únicas. Ele cria também as joias que usa. Seus colares, anéis e pulseiras são pensados por ele e confeccionados pelo designer André Lasmar.
— Estou sempre com muitos colares, pulseiras e anéis. Todos têm frases, significados e segredos — diz ele, fã também de tatuagens. — Tenho 11 ou 13 (que vão de mapa do Brasil no braço esquerdo à palavra “here” no peito) , não sei ao certo. Também não gosto de contar os significados. Há coisas que prefiro guardar para mim. Mas algumas são mais óbvias, como o caranguejo do signo de Câncer. A Ingrid Guimarães, uma das minhas melhores amigas, é muito canceriana e me ensinou a gostar desse signo. Admiro as características: ser sensível e observador.
Em tempos de redes sociais, esse lado discreto do ator poderia ficar abalado. Difícil esconder-se quando vivemos numa ode à exposição. Mas ele garante que não é incomodado, nem mesmo quando interrompeu o noivado com Laura, no auge de seu personagem em “Segundo sol”.
— Você se expõe o quanto quer nas redes sociais. E isso é fácil de administrar. Já os canais de fofoca, eu realmente não acompanho. Não acho esse disse-me-disse saudável. As informações que chegam até mim são naturalmente filtradas pelo meu gosto, então acabo passando ao largo da fofoca e me incomodando muito pouco. Será que não há nada mais interessante para consumir do que isso?
Na cabeceira de Chay, além da estátua de três macaquinhos de pedra que o acompanham há mais de dez anos, estão seus livros da vez: “Neandertal, nosso irmão”, de Silvana Condemi e François Savatier; “21 lições para o século 21”, de Yuval Noah Harari; e “Babilônia: a Mesopotâmia e o nascimento da civilização”, de Paul Kriwaczek.
— Não leio ficção, adoro livros de História — diz ele, que na adolescência pensou em ser professor e se diz perplexo com a fase que o Brasil vive. — Já estou chocado há um tempo. Agora, me impressiona tanta inexperiência sendo mostrada em menos de um mês de governo. Fico pensando onde é o fundo desse buraco. Será que é a barbárie mesmo? Me posicionei quando achei que devia, desde o impeachment ( de Dilma Rousseff ). Agora, escuto mais do que ajo.
Chay fala com orgulho da sua geração, dos artistas com menos de 30 anos que exibem trabalhos profundos e são politizados. De atores como Letícia Colin e Gabriel Leone, estilistas como André Namitala, da Handred, e artistas plásticos como o carioca da Rocinha Maxwell Alexandre:
— Quero muito ter um quadro dele, acho lindo. Não o conheço pessoalmente, mas o sigo no Instagram. Os outros são meus amigos queridos de quem sou cada vez mais fã. O Namitala eu conheci como cliente há anos, em uma feira em Botafogo, antes de ele se tornar esse estilista reconhecido. O mais legal é que a roupa dele é tão boa, que a bermuda e a camisa que comprei na época continuam impecáveis. Depois, ficamos amigos e até fiz uma campanha da Handred no Marrocos. Tudo o que sei sobre Saint Laurent, a inspiração da foto de capa, foi André que me ensinou.
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Redação iBahia
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