Duas Elbas convivem no mesmo ser. Uma é o dínamo do carnaval e do São João, que aos 67 anos de idade corre uma hora por dia na areia fofa da praia para aguentar um tranco que bem pode ser o de ter que fazer 14 shows em 10 dias. “Quando toca o frevo, eu fico doidinha”, justifica-se a cantora, ativa nos grandes palcos do país também por causa do Grande Encontro, com Alceu Valença e Geraldo Azevedo, projeto que, em seu 22° ano de vigência, não dá sinais de cansaço.
— Eu diminuo o ritmo na medida do possível, mas ao mesmo tempo eu gosto. Às vezes tem uma cidade a 400 quilômetros de Recife que eu fico com pena de não ir... o prefeito tá querendo, o povo tá pedindo. Gosto da estrada e me realizo muito quando estou no palco — conta.
Outra Elba Ramalho é aquela que, na tranquilidade bucólica de sua casa em São Conrado, promove saraus com cantores como Almério e Daíra, e que, no estúdio que montou para o filho Luã, grava discos de pegada quase indie , como o recente “O ouro do pó da estrada”, que já chegou ao streaming e no ano que vem se materializará nas lojas em CD e LP. É o 38° álbum de Elba em uma carreira fonográfica que completará 40 anos em 2019.
— Eu já não aguento mais cantar “Banho de cheiro”! — desabafa a cantora, deixando claro, porém, que jamais conseguirá (e nem deseja) se livrar do seu grande hit. — Eu queria fazer um disco dos 40 anos e me desacomodar. Chega uma hora em que você fica plagiando a si mesma. É sempre um novo show com velhas canções. Tenho colegas, contemporâneos, que falam: “Ah, não vou mais gravar não, tenho os meus sucessos, tô bem”. Mas se eu ficar quieta, esperando o tempo passar, vou sentir um certo tédio artístico.
Com sonoridades variadas e produção da dupla pernambucana (sobrinho e tio) Yuri e Tostão Queiroga, “O ouro do pó da estrada” nasceu da canção que dá nome ao disco, feita por Yuri com outro tio, Lula Queiroga.
— Quando ouvi a música, ela só tinha a primeira parte. A partir dela, fomos encontrando o resto do disco, e só bem depois Lula mandou a segunda parte. Esse disco é um caminhar, é o disco da estrada — analisa Elba, que foi pescar em “Baque solto”, (1983) LP de estreia da dupla Lenine & Lula Queiroga, a canção “Girassol da caverna”, que regravou em seu novo disco em duo com Ney Matogrosso. — O meu ofício como cantora é resgatar as pérolas que foram jogadas aos porcos, algo que aprendi com Nelson Motta. Sou intérprete, não componho. Se pudesse, gravava um disco só com as músicas de Lenine e de Lula Queiroga, são dois artistas com quem eu me afino muito.
Com regravações de “Girassol” (sucesso do Cidade Negra), de “O mundo” (do Karnak de André Abujamra, com as vozes amigas de Roberta Sá, Maria Gadú e Lucy Alves) e de “José” (do grupo Mestre Ambrósio), ao lado de inéditas como “Na areia” (de Juliano Holanda, da nova geração de compositores pernambucanos), o disco de Elba vira um show que ela leva aos teatros em fevereiro.
— O espírito é você amadurecer com sabedoria e serenidade — define. — Não estou preocupada, como antigamente, se o disco vai entrar na parada, se vai tocar muito, se vai vender milhões. Talvez eu esteja numa contramão no momento atual.
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Redação iBahia
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