Do iBahia, por Camila Almeida
A Conha Acústica do TCA recebe no próximo domingo (23) o cantor pernambucano Lenine, lançando o projeto Lenine.doc . Adorado pelo público baiano, o cantor bateu um papo descontraído com o portal, onde fala sobre aspectos da sua musicalidade, seu processo criativo, sua relação com a Bahia e aproveita para levantar uma questão importante: os direitos autorais no Brasil. Com sua carreira mais que consolidada e suas músicas embalando diversas produções pelo país, Lenine declara, modesto "Costumo dizer que minha profissão é compositor, fui me tornando outra coisa ao longo dos anos..". Sobre a expectativa para apresentação na capital baiana, o pernambucano descreve sua sintonia com o público que lhe prestigia. "A bem da verdade é neste momento que se dá a entrega. Este encontro entre a canção e o público você só consegue perceber ao vivo, no palco". No fim desta entrevista, Lenine diz com exlusividade ao portal sua opinião sobre a música produzida nos dias atuais e a nova equação que se forma no mercado fonográfico: os prós e contras da música disponibilizada on line. Confira na íntegra!
iBahia.com - Depois de trazer Labiata à capital baiana e de participar de ensaio do Ilê Aiyê, você esta de volta à Salvador. Qual sua relação com o público daqui?
Lenine - Nossa relação já vem de muito tempo, todas as vezes que eu toco em Salvador recebo muito carinho, é um público muito bacana. Costumo dizer que são meus 'seguidores' e não fãs. Enfim, é sempre muito bom.
iBahia.com- Sua música é conhecida por misturar valores culturais de diversos cantos do Brasil e do mundo. Como nordestino, em que aspectos da Bahia e do você se inspira para compor?
Lenine Sabe, esse negócio do compor, de criar, não dá pra gente saber em que dosagem entra o quê. É muito mais intuitivo o processo, tem mais a ver com o que eu vivi e que de alguma maneira sai para as minhas músicas quando eu estou criando. É muito difícil pra mim decupar o processo a ponto de entender cada influência que entra em cada canção. Eu acho que eu faço uma música de raíz e de antena, entram em iguais proporções aspectos de uma cultura mais tradicional, mais popular, ou algo mais regionalista. Acho que eu gosto de música, ponto (risos). O adjetivo que eu consigo admitir é o "contemporâneo".
iBahia.com Seu último trabalho, o que você apresenta em Salvador este fim de semana, reune musicas suas que viraram trilhas. Qual a importância dessas composições na sua carreira?
O ".doc" (nome do álbum) surgiu meio que pra ser uma janela. Uma janela em que eu possa de tempos em tempos disponibilizar fisicamente parte deste material que eu fui compondo não pro meu disco, não pro meu repertório mas pra algo específico. Costumo dizer que minha profissão é compositor, fui me tornando outra coisa ao longo dos anos. Foi compondo que eu me transformei em melhor musico, melhor arranjador, melhor produtor, melhor diretor.. mas isso tudo em decorrência do exercício da composição. Então compor é o grande charme da minha profissão, é uma coisa que não pára. O Lenine.doc terminou se transformando numa chancela, pois eu me deparei com mais de 60 canções que nunca sairam nos meus discos e que foram extremamente pontuais, porque participavam de expressões diferentes: como teatro, cinema, televisão, dança. Esse material nunca gerou show, portanto eu nunca cantei estas canções.
iBahia.com Então existirão várias edições do lenine.doc?
Lenine É o propóstio, que isto vire uma janela para que de tempos em tempos eu possa disponibilizar esse material que boa parte do público não conhece, porque foi muito específico.
iBahia.com Existe um novo trabalho sendo produzido. O público pode esperar Lenine em outros idiomas, passeando em outros ritmos, fazendo duetos?
Lenine - Estou mergulhado num disco novo que já tem o nome: Chão. E estou naquela parte de muita criação, muita eletricidade e muita 'orelha de morcego', como chamo. É muito você ficar atento às coisas e questionar o que você quer falar, pra quem você quer falar e porque você quer falar. Estou nesse momento.
iBahia.com O que essa 'orelha de morcego' conseguiu captar de novidade?
Como vou saber?(risos) A criança ainda não foi completamente gerada. Sabe o Cerca-Lourenço? Estou cercando, cercando até a hora de achar. .
iBahia.com - Você chegou a gravar vídeo-aulas para os internautas e fãs aprenderem seu modo de tocar. Qual você acha que é o principal legado que você deixa pra a nova geração de cantores e compositores da Musica Popular Brasileira, que aprendem com você?
Lenine - Esse negócio das aulas é algo que tem feito um puta sucesso, tem aproximado bastante esses meus 'seguidores'. E não sei dizer o que pode me ter como referência, mas eu gostaria de ser lembrado pela ética e pela retidão de atitudes.
iBahia.com Essa retidão de atitudes e ética talvez faça falta em alguns músicos de hoje. Na sua opinião, qual a diferença entre a geração atual e a da sua época?
Lenine São muitos prós e muitos contras. Mas o fato, independente dos prós e dos contras é que há uma mudança real em tudo. Cabe perguntar: existe ainda um mercado fonográfico? Uma questão muito complicada é a questão de direito autoral no Brasil. Esse momento digital agora democratizou muito os meios de produção.Ibahia.com Você considera então a era das músicas on line algo prejudicial aos músicos?
Lenine - É um caminho sem volta. É o música dar de graça a única coisa que ele tem para vender. Tá na hora do criador sentar na mesa de negociação e requisitar a parte que lhe cabe.
iBahia.com- Mas hoje em dia a internet é um meio importante de divulgação. Muitas das bandas que surgem agora preferem disponibilizar material gratuito via web para poder alcançar outras formas de ganho: vendendo show, vendendo imagem..
Lenine - É a questão do pró e contra. Facilita a comercialização da música. Não se vendem mais milhões em música, se vendem milhares. Não são mais milhares de bandas são milhões. Por outro lado, uma coisa fica. Por mais que o cara tire na rede as canções que ele gostam aquele disco, tipo o "Tábua de esmeralda" do Jorge Ben, ele vai querer ter. Então são muitas incógnitas, numa equação muito nova. Essa esquação precisa ser refeita. Mas o que eu estou levantando aqui é a possibilidade de nesta equação entrar o autor.
iBahia.com Enfim, o que público do autor Lenine pode esperar para esta apresentação?
Lenine - Entrega total sempre. Cada show é como se fosse final do campeonato, é aquele momento de entrega. A bem da verdade é neste momento que se dá a entrega. Eu não tô na casa da pessoa, no carro da pessoa ou na sala da pessoa quando ela está me ouvindo. Este encontro entre a canção e o público você só consegue perceber ao vivo, no palco. Então este momento é muito especial pra mim também.
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