Entrevista: Sarajane desabafa sobre carreira, amigos e Carnaval

Sarajane de Mendonça Tude nasceu em Salvador no dia 18 de março de 1968

"Vamos abrir a roda. Enlarguecer". Quem curtia o Carnaval nos anos 80 e 90 certamente já pulou e dançou bastante ao som da canção 'A Roda', lançada em 1987 pela cantora baiana Sarajane Mendonça. Quase 26 anos depois, a artista voltou aos holofotes após a mesma música ser entoada pela personagem da atriz Ísis Valverde na minissérie 'O Canto da Sereia' (TV Bahia/Globo). Veja também: "Grito para todo mundo ouvir, preciso de trabalho", dispara SarajaneVeja outras notícias de música no canal do iBahia Iniciou a sua carreira como cantora aos 12 anos de idade gravando jingles no Estúdio WR. Fez a primeira apresentação em trio elétrico no Tapajós, no Rio de Janeiro. Deu a largada no Carnaval de Salvador aos 14 anos de idade no trio Novos Bárbaros, ganhando vários troféus. Ao todo, gravou 18 álbuns e ganhou discos de ouro, platina e diamante. Também chegou a ser capa da revista 'Playboy', em 1990. Sara se orgulha em afirmar que "colocou a música negra, até então restrita apenas aos guetos, nos grandes salões". Em 1985, gravou a primeira música de Carlinhos Brown, considerando-se sua madrinha desde então, o lançando como compositor para o Brasil e o mundo. Foram 35 gravações, ao todo. O também baiano era seu percussionista e amigo de todas as horas. Segundo Sara, foi ela mesma quem 'fez a cabeça' de Brown para ser cantor.

Sarajane conheceu o apresentador Chacrinha durante uma apresentação em Nazaré das Farinhas (BA), quando tinha 16 anos de idade. Apartir daí, ele a apadrinhou, garantindo várias apresentações dela no programa 'Cassino do Chacrinha', da Rede Globo.

Entretanto, o sucesso não durou muito tempo. Após várias decepções profissionais e perda de espaço no mercado tomado por novas estrelas, a ícone do axé music chegou a declarar, em 2011, que estava encerrando a carreira. No dia seguinte, ela, que estava se dedicando ao forró na época, resolveu explicar o porquê da decisão: a escassez de shows e até alguns calotes fizeram com que repensasse a carreira. Após apelos de fãs e conselhos familiares, ela desistiu da ideia. Desde então, Sara tem usado as redes sociais, em especial o seu perfil no Facebook, para vociferar toda a sua mágoa por não ter conseguido se manter no estrelado, assim como os antigos companheiros baianos. Ela chegou a pedir a ajuda de famosos, como Ivete Sangalo, Carlinhos Brown e Luciano Huck, para conseguir trabalho. Recentemente, tem dividido os palcos com Magary Lord em alguns ensaios de verão no Pelourinho.

Sarajane na fundação ACASA, que promove a integração das crianças com atividades artísticas

Há 17 anos, Sarajane coordena a organização não-governamental ACASA (Associação Criança na Arte Sarajane), que promove a integração de crianças e adolescentes, de 4 a 17 anos, com atividades artísticas em Salvador. A entidade, localizada no bairro Santo Antônio, num prédio cedido pelo Governo da Bahia através do Instituto do Patrimônio Artístico e Cultural da Bahia - IPAC, oferece cursos em diversas áreas e ultimamente passou por sérias dificuldades financeiras. Casada pela terceira vez, Sarajane tem hoje cinco filhos e dois netos. Em entrevista ao iBahia, ela faz faz um balanço do que pensa sobre do Carnaval atualmente e dos artistas que fazem parte da folia momesca. Ela também faz um balanço da carreira e ainda abre o jogo sobre família e amigos. Veja. iBahia - Você começou a carreira muito cedo. Conseguiu aproveitar a juventude? Sarajane - Iniciei a minha carreira aos 12 anos de idade gravando jingle na WR, depois aos 13 no Trio Tapajós e depois, no Novos Bárbaros. Tive filhos aos 16 e 17 anos. Tudo foi muito cedo em minha vida. Sustentei minha mãe e meus irmãos. Sou arrimo de família. A vida não foi fácil. Não tive adolescência. Por isso que aos 44 anos sou uma moleca com cara de 55. [risos] iBahia - Como você avalia sua carreira desde os anos 80 até hoje? Sarajane - Iniciei a carreira profissionalmente no trio Novos Bárbaros, em 1982, fiz sucesso nacional até 2002. Depois fui fazer faculdade, afinal iniciei meu trabalho aos 12 anos. Estava cansada. E nunca parei de cantar. É o que me sustenta e paga minhas contas. Hoje, mais madura, quero trabalhar, já fiz sucesso, já vivi o glamour, hoje quero apenas trabalhar de forma digna. iBahia - Recentemente você cantou em uma banda de forró? Como foi essa experiência? Sarajane - Essa banda é minha, a flor de canela, gravei 18 discos ao longo desses anos e o forró esta presente em todos eles, continuarei cantando o meu forró, amo cantar uma música que poucos sabem cantar e traduzir esse clássico.

"A vida não foi fácil. Não tive adolescência. Por isso que aos 44 anos sou uma moleca com cara de 55"

iBahia - Com a repercussão de 'O Canto da Sereia', você recebeu alguma proposta para cantar no Carnaval? Sarajane - Sim, participações [em alguns eventos], como domingo no trio Afro Pop com a Margareth e Magary. iBahia - O que você acha que falta no Carnaval de hoje? Sarajane - Patrocínio para os veteranos, eu faço 30 anos de música [esse ano] e até o momento só tenho um pequeno apoio da Secult, mas não dá para levar um trabalho de qualidade para as ruas. Tudo é muito caro nesta época. Acho que o meu trabalho, o povo e o Carnaval da Bahia merecem um trabalho de qualidade. iBahia - E os cantores de axé de hoje em dia, como Ivete, Claudia Leitte e Saulo. O que você pensa sobre eles? Sarajane - Adoro Ivete. A acho muito competente. Ela é uma pessoa que tenho como alguém próximo. Não a conheço. Nunca fui em uma festa dela. Nunca cantei com ela. Ela nunca me convidou para nada, a não ser para ir ao seu camarote, que foi uma delícia. Os outros [cantores], não reconheço como seres humanos, mas gosto do trabalho do Saulo. Acho muito competente, uma linda voz. Gostaria de conhecer. Ele me passa uma boa energia. A Cláudia é uma boneca, bonita. iBahia - Como é sua relação com Carlinhos Brown hoje? O que você pensa sobre ele? Sarajane - Hoje ele é uma pessoa distante, pela vida ocupada, mas claro que para um amigo tem que sobrar um tempo nem que seja no Twiter, um "eu te amo". Acho muito competente, mas precisa não esquecer dos amigos verdadeiros. Nada é eterno, mas o amor a amizade sempre serão.

"Que pena que não lembra mais de mim, tenho saudades do tempo que andávamos juntos, éramos uma dupla infalível. Por isso é ruim ter amigos de sucesso, poxa, que saudades nego. Jesus te abençõe e te dê em dobro todas as dádivas divinas, mas nunca esqueça dos verdadeiros amigos da sua vida. Tudo é muito passageiro na terra. Muita paz", declara Sarajane sobre Carlinhos Brown em comentário de foto publicada no Facebook

iBahia - Seu filho também é artista. Você acredita que o influenciou de alguma forma? Como você avalia a carreira dele? Sarajane - Meu filho Daniel é arquiteto formado em Florença, na Itália, e nas horas vagas canta. Está no sangue! Ele tem uma linda voz, os outros também são muito competentes. O Mel toca guitarra como ninguém. Estudou em Dallas. Gabriel tem uma linda voz e Mikael, também. A Sara já mostra traços na arte. Ano passado, foi ao meu show e fez uma apresentação. Aliás, todos nós artistas levamos nossos filhos. Acho muito lindo. iBahia - E sua fundação? Como está economicamente? Como você a mantém? Sarajane - A nossa entidade, passa por um inverno, é muito preocupante a falta de apoio às entidades, trabalhamos com auto-sustentação, pequenos shows para pagar as contas, temos voluntários alunos da UFBA fechamos para este ano uma parceria, amigos ajudam, tudo é feito com muito carinho, temos a parceria com o IPAC já 13 anos, eles nos cedem a casa. A Conder reforma. iBahia - Quais são os seus projetos futuros? Pretende seguir cantando forró e axé? Sarajane - Canto músicas, forró, samba, reggae, merengue, etc. Sigo cantando música de qualidade.

"Sou uma cantora que lutou e luta por um Carnaval de verdade onde todos recebam o mesmo tratamento um dia"

iBahia - E o coração hoje em dia? Como está? Sarajane - Em paz, sou espírita, tenho a ong há 18 anos com muito amor. Se eu, através de Jesus, conseguir salvar uma, já fiz um grande trabalho. Tenho um marido maravilhoso, amigos desde o início da minha vida. São poucos. Tenho Jesus e as entidades de luz ao meu lado. Respeito as diferenças, procuro ser justa e sempre estou em comunhão, não sou santa, se não, já teria morrido neste mundo de filhos de Deus. E ao mesmo tempo cansada de lutar, tenho perseverança. Sou uma cantora que lutou e luta por um Carnaval de verdade onde todos recebam o mesmo tratamento um dia. Mesmo velhinha, verei, quem sabe, isso acontecer. iBahia - Você se arrepende de alguma coisa? Sarajane - Muitas. E quem não se arrepende? Começar cedo, sem estrutura, foi uma delas. iBahia - Para encerrar, mande uma mensagem para os seus fãs. Sarajane - Eles me dão forças para sair de casa. Acordo às 5h30 da manhã. Cuido da minha casa e uso as redes sociais. Lá, estão eles, de várias partes do mundo fazendo campanhas para que eu retorne aos palcos. A conspiração do bem foi tão forte que eu ganhei muitos presentes. Acho que isto é o verdadeiro 'estar na mídia'. Recebo o carinho nas ruas, nos ônibus, em todo lugar. Amo todos eles. E mesmo aqueles, poucos, que falam algo negativo, se tornam fãs pelo meu ato de carinho e solidariedade. Amo vocês. Muita paz e desejo toda a prosperidade do mundo. Vocês são quem pagam minhas contas, sejam elas quais forem. Muito obrigada por tudo. Tenho muito respeito pelo Universo. Muita paz. Assista o clipe da canção 'A Roda', exibido pelo 'Fantástico' em 1987:[youtube OuJWSKz6GRE]