A atriz Adriana Esteves se abriu para a revista 'Marie Claire' desta semana e falou sobre momentos delicados de sua vida. Aos 48 anos e com 30 de carreira, a intérprete de Laureta, de 'Segundo Sol', revelou que viu o assédio de perto, logo no início da profissão como modelo.
"Onde mais me aconteceu foi trabalhando como modelo, naquela fase que você não sabe se é menina ou mulher, que não está preparada psicologicamente para lidar com situações como essas. Havia fotógrafos abusadores que, enquanto estavam no domínio, luzes ligadas, te fotografando de biquíni, de lingerie, seguravam e tocavam em lugares do seu corpo que não eram para ser tocados. Um constrangimento horrível. E faziam isso de forma recorrente, com todas as modelos. Eu inventava que estava me sentindo mal, que precisava pegar meu roupão. Isso tem que acabar", afirmou.
Segundo a atriz, as 'investidas', no entanto, aconteciam antes mesmo dela fazer parte da mídia: "quando era criança, morava no subúrbio do Rio de Janeiro [Méier], e brincava na rua. Alguns homens paravam o carro e ficavam chamando as meninas. Eu sabia que aquilo estava errado e saía correndo. Mas não tinha coragem de contar em casa e meus pais não sacavam que era perigoso, a situação se repetia. Não era fácil. Passei anos tendo o pesadelo de correr de um carro, enquanto minha perna ia ficando fraca e não conseguia entrar em casa. Já mais velha, eu pegava três ônibus para chegar à Zona Sul, onde estudava. Dependendo do bairro, colocava um camisetão, amarrava o casaco na cintura. Andava na rua escondendo minha feminilidade. Como era cansativo! Hoje, eu gritaria, contaria para todo mundo e denunciaria".
Adriana recordou também o período que teve depressão, o que não foi fácil. "Eu havia me separado, comecei a fazer uma novela atrás da outra, com personagens grandes, ganhei exposição e tinha pouca maturidade. Fiquei perdida, não segurei a onda. E aí veio a depressão. Passei pela fase de não conseguir comer, de não sair da cama, de achar um sofrimento tomar banho, de engordar muito com o antidepressivo. Acreditava profundamente nas fantasias que surgiam na minha cabeça, não conseguia diferenciar o que era real e o que não era. Tinha certeza de que estavam acontecendo coisas horríveis mas demorei para entender que estava com uma doença chamada depressão. Demorei a tomar remédio. Esse processo durou um ano, um ano e meio. Meu maior sofrimento era que achava que ia morrer, mas queria muito viver. Ficava triste porque pensava “a minha vida era tão boa e já está acabando, tenho tanta coisa para viver”. A dor da depressão foi tão grande que parecia que eu ia morrer e tive a chance de não morrer. A sensação que ficou é de ter ressuscitado. Fiquei muito tempo sem falar sobre isso, hoje não me incomodo. Na época, quando sabia que uma pessoa tinha passado pela depressão, só queria falar desse assunto, queria saber como ela tinha se recuperado. Hoje, se for para ajudar, conto quantas vezes for necessário", disse.
Ela contou que só conseguiu vencer a doença com a ajuda dos medicamentos e um desejo especial: "tinha a vontade forte de ser mãe. Logo que casei com o Marco (Ricca), começamos a tentar, mas sempre que entrava um trabalho, a gente segurava. Demorei seis anos para engravidar, era uma frustração, uma dor enorme. Tínhamos duas saídas pensadas: inseminação e adoção. A minha irmã mais velha, Márcia, morava em Porto Alegre e estava amamentando meu sobrinho na época. Uma conhecida dela tinha tido um bebê, que precisava ser adotado. E ela falou: eu o amamento para você. Mas a novela estava na reta final, eu trabalhava muito, teria que ir para a casa da minha irmã, ficar com a bebê lá para começar a minha maternidade. Falei para o Marco: “não vai dar para ter um filho dessa forma”. Na mesma época, fiz um procedimento médico, uma desobstrução de trompa. Acabou a novela, fomos fazer um mochilão pela Espanha e combinamos de tentar a inseminação na sequência. Não precisou, voltei grávida do Felipe".
Outro momento difícil para a atriz foi a morte de uma das suas irmã, Cláudia, aos 31 anos. "Ela morreu do coração, de uma hora para outra, em casa. Depois que faleceu, fomos entender que ela tinha uma síndrome que isso poderia acontecer na faixa dos 30 anos. A minha irmã tinha algumas diferenças desde nova. Mas diferenças delicadas, que na minha geração não se falava muito, só a família percebia certas dificuldades. Então, não chegou a ser uma surpresa. A síndrome era discreta, hoje é denominada como [Transtorno] do déficit de atenção, [Transtorno de personalidade] limítrofe, borderline e milhares de outros nomes. Mas, quando faz parte da nossa vida, não importa nome nenhum; é uma pessoa que você ama e que é diferente. Quando lembro dela, vem a ausência. A gente quase não fala da minha irmã. Eu nunca dou entrevista, e quando dou, como não sou muito formal, acabo dizendo coisas que só falo na terapia porque nem na família tocamos no assunto. É delicado. As pessoas fogem da dor, né? Às vezes, não é nem dor, às vezes fugimos de nos emocionarmos, parece que não dá tempo de se emocionar, porque sempre há um compromisso. É filho, é preocupação com os pais, a gente vai fugindo", explicou.
Questionada sobre o sexo com Vladmir Brichta, com quem está há 14 anos, ela foi sincera: "acho que melhorou, ficou mais natural. E entendi que o casamento precisa desse namoro, precisa se entrelaçar. Um dos presentes do casamento é ter uma pessoa com quem você gosta de fazer sexo e que gosta de fazer sexo com você. Ninguém vai ter uma noite de amor deliciosa se brigou no café da manhã, se não aplaudiu o trabalho do outro, se não protegeu numa situação familiar difícil. Eu não quero essa relação. A hora do entrelaçar é consequência do carinho e do respeito do dia inteiro".
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Redação iBahia
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