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NEM TE CONTO

'Estou na pista': Zezé Motta fala sobre solteirice

Atriz era muito ligada a Marília Pêra e a Elke Maravilha

Redação iBahia • 14/07/2019 às 19:12 • Atualizada em 31/08/2022 às 9:47 - há XX semanas

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Muito prazer, eu sou Zezé.” O refrão da música composta por Rita Lee é o retrato falado de Maria José Motta de Oliveira. Com sorriso largo e olhar acolhedor, a atriz e cantora Zezé Motta se apresenta, sem se dar conta do impacto que provoca por onde passa. Com essa mesma naturalidade, dias antes, ela se despiu no set de fotos desta reportagem, diante da equipe. “Se a Playboy me chamar, eu divido o cachê com vocês”, brincou, entre um clique e outro.

Foto: Thais Vandanezi | Divulgação

Zezé acaba de completar 75 anos de idade e contabiliza 55 de profissão. A carreira anda a pleno vapor. Além de nos shows de seu décimo quarto álbum, “O samba mandou me chamar”, ela pode ser vista no seriado “3%”, da Netflix, na novela “Ouro verde”, da Band, emprestou a voz para a série “Serengeti”, do Discovery, cuja versão americana tem a atriz Lupita Nyong’o como narradora, e acaba de lançar um canal no YouTube em que denuncia preconceitos e intolerâncias. Como se não bastasse, é a grande homenageada do 18º Grande Prêmio do Cinema Brasileiro, em agosto.

O começo de tudo

“Nasci em Campos (RJ), mas vim para o Rio muito cedo, aos 3 anos. Minha mãe era modista e meu pai, músico. Fomos morar no morro do Cantagalo. Como eles passavam o dia inteiro fora, pediram para o meu tio Sebastião, que trabalhava como porteiro num prédio no Leblon, tomar conta de mim. Lá, eu conheci uma menina chamada Marieta, com quem brincava. Quando completei seis anos, fui transferida para um colégio interno, onde fiquei até os 12, e depois estudei numa escola na Cruzada São Sebastião, que incentivou o meu dom artístico. Por ser assídua nas atividades culturais oferecidas pelo colégio ganhei uma bolsa no Tablado, numa época em que a própria Maria Clara Machado ( fundadora do teatro ) era professora. Estreei em 1967, na peça ‘Roda Viva’. A Marieta Severo integrava o elenco. Na plateia, estava a mãe dela, Dona Ligia. Ao me ver no espetáculo, ela perguntou: ‘Qual é o nome daquela moça que faz um solo no coro?’ Marieta disse que era Maria José. Dona Lígia vibrou: ‘É a sobrinha do Seu Sebastião!’ Foi um reencontro emocionante, eu e Marieta demos um abraço muito especial. E, toda vez em que nos encontramos, esse abraço é renovado.”

Zumbi de peruca Chanel

“Na adolescência, eu me achava muito feia. As meninas diziam que meu nariz era chato, meu bumbum, grande, e o meu cabelo, ruim. E eu acreditava. Alisei os fios até os 23 anos e cheguei a usar uma peruca Chanel para escondê-los. Em 1969, fiz parte do elenco das peças ‘Arena conta Zumbi’ e ‘Arena conta Bolivar’, de Augusto Boal. Viajamos para os Estados Unidos, no auge do movimento ‘Black is beautiful’, e apresentamos ‘Arena conta Zumbi’ em pleno Harlem ( bairro negro de Nova York ). O Boal tinha um método chamado curinga, no qual todos os atores interpretavam todos os personagens. Então, subi ao palco vivendo Zumbi de peruca Chanel. Claro que levei um safanão do pessoal do Harlem, que perguntou para o Boal quem era aquela mulher alienada. Pode imaginar Zumbi de peruca Chanel?”

Símbolo sexual

“‘Xica da Silva’ foi um divisor de águas na minha vida. Não esperava que fosse se tornar um sucesso mundial. Lembro de sentir muito orgulho de ter sido eleita e, graças ao filme, conheci 13 países. A popularidade da personagem fez com que os homens, por um tempo, não se relacionassem com a Zezé e, sim, com a Xica, que ficou grudada no imaginário masculino. Ao ponto de um parceiro, nessa fase, me falar depois de uma transa: ‘O filme se tornou realidade’. Nessa época, tive problemas de autoestima por notar que alguns parceiros queriam transar com a Xica. Mas até eu perceber, já tinha transado... Afinal, estamos falando da década de 1970, anos de sexo, drogas e rock and roll. Com alguns, senti prazer; com outros, não. Fiz análise para digerir isso tudo. Nessa fase, vivi uma das piores experiências da minha vida: quase fui sequestrada por um taxista, que tentou acariciar as minhas coxas. Ele, que dirigia furando os sinais, foi obrigado a parar em um, em Copacabana. Em pânico, saltei do carro e saí correndo.”

Filhos do coração

“Ao longo da vida, engravidei algumas vezes, mas por ter útero infantil não conseguia levar a gestação adiante. No início da década de 1980, procurei um médico e fiz, durante um ano, tratamento para conseguir gerar um bebê. Quando, finalmente, meu ginecologista disse que eu poderia engravidar, estava com 38 anos e já tinha encontrado duas dos meus quatro filhos do coração. Não os adotei legalmente, mas, vindo de diferentes famílias, todos eles moraram comigo numa fase da vida, por quatro, seis, dez anos. Tenho ainda sobrinhos que me consideram mãe. Na infância, tinha a ideia fixa de que criaria várias crianças. Não cuidei de 60 como imaginava, mas sou agregadora.”

De peito aberto

“Tive a crise dos 30, dos 40, dos 50 e dos 60 anos. Com 70, cansei, achei que era palhaçada. Durante um tempo, quando as coisas não davam certo, pensava: ‘Estou velha, engordei’. De repente, passei a ver meninas lindas sendo trocadas e rejeitadas. Então, me dei conta de que isso faz parte da vida, assim como a tristeza. Na juventude a gente sofre mais, é muita ansiedade, dúvidas e cobranças. Na velhice, o que incomoda é a solidão. No momento, vivo sozinha, mas estou na pista. Sou uma mulher saudável de 75 anos, faço reposição hormonal. Adoro sexo! Já usei vários métodos de reposição e cheguei a ficar inchada de tanto remédio. Atualmente, tomo uma cápsula à base de inhame, indicada pelo meu clínico geral. Espero ter ainda muito prazer.”

A mil por hora

“Graças a Deus, estou cheia de trabalho. Fiquei muito orgulhosa em fazer a narração da série ‘Serengeti’, cuja versão americana é feita por Lupita. Meu personagem em “3%” é maravilhoso, e estou viajando pelo Brasil fazendo shows. Também lancei um canal no YouTube, quero usar a tecnologia para o bem. Por meio dele, vou combater o racismo, o feminicídio, a destruição a natureza, denunciar o preconceito contra LGBTs, quilombolas e ciganos. Todo preconceito é cruel. Eu me considero uma das exceções entre os artistas negros, mas tenho consciência de que a luta continua.”

País do preconceito

“Em 1984, quando fiz par com o ator Marcos Paulo na novela ‘Corpo a corpo’, a reação do público foi violenta. De lá para cá, o que mudou é essa discussão ter deixado de ser tabu. O racismo, hoje, está escancarado. Jogadores são atacados nos campos de futebol, em pleno exercício do trabalho, atrizes e apresentadoras são xingadas na internet. Mas o racismo não é só o que me preocupa no Brasil. Fico chocada com o descaso em relação aos indígenas, quilombolas e em ver como os animais são maltratados. Aqui existe preconceito em relação a tudo, pelo fato de a pessoa ser gay, pobre, gorda, magra... O Brasil é um dos países mais preconceituosos do mundo.”

Saudades sem fim

“Esses últimos anos foram difíceis por ter perdido pessoas queridas como Marília Pêra e Elke Maravilha. Não tem muita fórmula para elaborar isso. O encontro com Marília mudou a minha vida. Ela foi quatro em uma: amiga, irmã, madrinha e comadre. Foi Marília quem me ‘batizou’, quem me nomeou Zezé Motta. A Elke Maravilha também era uma grande amiga. O Leme não se conforma com a sua partida ( Zezé, assim como Elke em vida, mora no bairro, mais precisamente no apartamento em que viveu a escritora Clarice Lispector) . Antes de morrer, Elke escreveu no Face: ‘Queridos, não sofram, fui brincar de outra coisa’. Ela não se identificava mais com esse planeta, o mundo encaretou demais.”

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