Representantes do movimento feminista reagiram nesta quarta-feira às manifestações de apoio ao comportamento do ex-BBB Marcos Harter, expulso do programa após ser acusado de lesão corporal contra outra participante, Emilly Araújo, sua namorada dentro do "Big Brother Brasil 17". Na porta da Delegacia de Atendimento à Mulher (Deam), em Jacarepaguá, onde o caso é investigado, pelo menos quatro mulheres saíram em defesa do médico, que prestou depoimento nesta quarta-feira.
Uma delas, visivelmente abalada, afirmou que a culpa pelo episódio foi de Emilly, que seria a vítima, porque ela irritava o rapaz durante o programa. Outra gritou "Força, Marcos, estamos com você", enquanto uma terceira disse a Marcos que poderia bater nela. Para Bruna Rangel, advogada e integrante do coletivo Não Me Kahlo, as manifestações favoráveis a agressores são comuns, mesmo entre mulheres.
"É sempre desanimador perceber o quanto nossa população é machista, embora a gente já saiba disso", lamenta. "A cada situação de violência contra a mulher que ocorre, muitas pessoas saem em defesa do agressor. Apesar dos avanços dos últimos anos com a Lei Maria da Penha, isso é algo que ainda demorará para ser mudado.
Para a ativista, uma das razões para Marcos ainda receber apoio é o fato de muitas pessoas não saberem como funcionam os relacionamentos abusivos.
"Por ignorância de como funcionam os relacionamentos abusivos, muitos culpam a vítima por ter permanecido naquela relação", revela. "E, para várias pessoas, agressão é sinônimo de espancamento. Qualquer coisa abaixo disso, portanto, elas acham que não tem problema".
Fundadora da ONG Think Olga, Juliana de Faria avalia que, para muitas pessoas, a intimidação, que Marcos teria cometido no programa, não é vista como abuso.
"Estas manifestações de apoio ao agressor são comuns porque não existe educação de gênero. Não é um assunto bem aceito nas escolas V condena". "O papel da mulher na sociedade não é debatido. A educação só tem aumentado nos últimos anos por causa da militância na internet".
Após os episódios em que Marcos agiu de forma agressiva com Emilly e de sua expulsão do programa, foi criado um movimento de solidariedade e alerta nas redes sociais. Muitas mulheres relataram suas histórias usando a hasthtag #EuViviUmRelacionamentoAbusivo, e o assunto foi, anteontem, o mais comentado do Twitter.
Para Bia Barbosa, integrante da Rede Mulher e Mídia, o comportamento da ex-namorada de Marcos no BBB é um retrato da falta de compreensão da sociedade sobre o machismo.
"A violência está tão naturalizada na nossa sociedade que muitas pessoas não veem aquela situação como uma manifestação de violência. É como se imprensar (a pessoa) contra a parede, segurar forte no braço ou forçar um beijo fossem atitudes corriqueiras", assinala.
Nesta quarta-feira, Marcos chegou à Deam acompanhado por três seguranças, da irmã, Caroline Härter, e de uma assessora da Globo, para prestar depoimento. Visivelmente mais magro, o cirurgião deixou a delegacia por volta das 14h, após quase duas horas de depoimento, e não quis falar com os jornalistas.
O ex-BBB aparentava tranquilidade. A irmã dele deixou a delegacia um pouco antes, sorrindo. O teor do depoimento não foi revelado pela polícia, que informou que ouvirá Emilly Araújo na próxima segunda-feira.
Na terça-feira, Marcos usou a sua conta no Twitter para falar sobre a acusação de agressão a Emilly. O médico disse estar surpreso e alegou que nunca teve a intenção de machucar a participante do programa.
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Redação iBahia
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