De cara lavada ou maquiada, a carioca Fernanda Gentil, de 31 anos, é gente como a gente: brincalhona, simpática, boa-praça. Fala olhando nos olhos, não tem respostas ensaiadas, encara a vida com rara naturalidade. Na manhã em que as fotos deste ensaio de moda foram feitas, no solo sagrado do Maracanã, coube à apresentadora da TV Globo manter a equipe gargalhando durante horas.
— Gente, basicões esses looks, né? Do tipo que eu uso todos os dias. Avisa à Gisele Bündchen que ela tem uma forte concorrente, tá? — brincou. — Esse é o trabalho mais fácil que o Ricardo (Tavares, maquiador) já fez!
Mas ao lado da faceta espontânea de Fernanda existe uma mulher corajosa, batalhadora, transparente e apaixonada pelo que faz. E é essa paixão pelo esporte que ela levará para a Copa do Mundo da Rússia.
— Essa é a terceira Copa que eu cubro e a que vou com mais esperança de a Seleção levar o título. Só aumentam meu prazer e meu tesão. Além de apresentar o “Esporte Espetacular”, vou ser a âncora da manhã, ao lado do Alex Escobar. O sarrafo só aumenta e eu espero corresponder.
A cobertura será protagonizada por mulheres. Além de Fernanda — que vai abrir oficialmente a Copa na TV no dia 10, com a apresentação do “Esporte Espetacular” diretamente do estúdio panorâmico montado em plena Praça Vermelha —, as jornalistas Ana Paula Araújo, Glenda Kozlowski, Renata Vasconcellos e Sandra Annenberg vão ancorar da Rússia telejornais e programas da Globo. No SporTV, Janaína Xavier vai apresentar o programa “Planeta SporTV” de lá. E na terceira emissora que vai transmitir os jogos da Copa da Rússia, a Fox Sports, Isabelly Morais, Renata Silveira e Manuela Avela, vencedoras do projeto “Narra Quem Sabe”, serão as primeiras mulheres a narrar um jogo do evento na TV brasileira.
— O protagonismo feminino se vê em conquistas e atitudes ao longo do tempo — observa Renata Vasconcellos, que vai repetir a dobradinha com Galvão Bueno no “Jornal Nacional”.
Apresentadora do “Bom dia Brasil”, Ana Paula Araújo também entra em campo:
— Cada vez mais não há definições sobre o que é de homem ou de mulher.
Com a maior participação de mulheres na cobertura da Copa da Rússia, Fernanda não se espanta. Ressalta que nos bastidores do jornalismo esportivo a presença feminina é quase equivalente à masculina.
— Na redação, temos muitas redatoras, produtoras, editoras e chefes. E no vídeo a nossa atuação só aumenta. Se nós, mulheres, chegamos até aqui, é porque temos capacidade. E a Copa da Rússia coroa tudo isso — analisa a apresentadora, que apoiou o movimento #deixaelatrabalhar, lançado em março.
O objetivo da campanha, que partiu de 52 jornalistas que trabalham com esporte, é lutar contra o assédio moral e sexual sofrido por elas nas ruas, nas redações e nos estádios.
— São situações que acontecem principalmente com repórteres de campo. A menina atravessa o campo para falar com um jogador. Se o time está perdendo, ela é xingada de “piranha” pelos torcedores; quando ela volta, caso o time esteja ganhando, a torcida grita “gostosa”. O movimento #deixaelatrabalhar é uma resposta de nível a esse tipo de comportamento, mostrando que estamos e vamos continuar aqui. E que seremos cada vez mais.
Para passar 42 dias do outro lado do mundo, Fernanda vem se preparando com afinco. Além de manter sempre por perto o caderno em que anota informações sobre países e jogadores, a mãe de Lucas, 10 anos, e Gabriel, 2 anos e 8 meses, desdobra-se para organizar a rotina dos filhos e da casa. A boa notícia é que agora ela e a namorada, a jornalista Priscila Montandon, dividem o mesmo teto.
— Priscila e eu passamos a compartilhar tudo, o que torna a vida mais fácil. Os meninos ficarão com ela e seus respectivos pais no Rio. E, nos últimos dez dias da Copa, a Priscila vai com eles e a minha mãe para a Rússia.
A maternidade entrou na vida de Fernanda de forma inesperada. Assim como Priscila. Nas duas situações, ela ouviu a voz que vem do coração. Tornou-se mãe da seguinte maneira: seu tio Marcos, irmão da mãe de Fernanda, e a mulher dele, Adriana, tiveram um filho chamado Lucas. Fernanda foi escolhida madrinha pelo casal. Quando Lucas completou cinco meses, Adriana foi diagnosticada com câncer e morreu um ano depois. Foi aí que a apresentadora viu sua vida mudar completamente.
— Quando voltei do enterro de Adriana, eu olhei para o Lucas e pari. Senti exatamente o que uma mulher sente ao dar à luz. Eu tinha 21 anos, estava solteira, não trabalhava. Mas aí a gente descobre uma bondade que nem sabe que tem. Virei uma espécie de polvo com leoa. Lucas passou a morar comigo e me abriu os caminhos; a partir daquele momento, tudo na minha vida deu certo —lembra ela, que se formou em Jornalismo pela PUC-RJ e começou a carreira em 2006 na TV Esporte Interativo. De lá, seguiu para a Band, chegou ao canal a cabo SporTV em 2009 e migrou para a Globo em 2011.
A relação com Priscila também tirou Fernanda da zona de conforto. Depois de se separar do empresário Matheus Braga em abril de 2016 — eles foram casados por cinco anos e são pais de Gabriel —, Fernanda assumiu publicamente, em setembro do mesmo ano, o namoro com a mineira.
— Ou você fala ou vive escondido de uma nação, o que não funciona para mim. Minha vida sempre foi um livro aberto. O dia em que divulguei a notícia foi especial, recebi de volta muito carinho e otimismo em relação à nova era que estamos vivendo. Todo mundo um dia na vida tem que ter coragem de bater no peito e chamar a responsabilidade para si — afirma a apresentadora, que contou com o apoio da família. — O Lucas virou-se para mim e disse: “Beleza. Posso ir para a escola agora?” Já meus pais não bateram palmas, precisaram de um tempo para assimilar.
Passado o turbilhão, elas seguiram em frente, vivendo as delícias de ser um casal. Nas horas de lazer, gostam mesmo é de ficar em casa. Fazem churrasco com as crianças, adoram degustar um vinho quando estão a sós e assistir a shows.
— Eu sou do pé-sujo, da cerveja, do pagode anos 90, ouço Raça Negra, Belo e Katinguelê. Já Priscila prefere Marisa Monte e Paulinho da Viola. A gente se completa — diz Fernanda, que não descarta a possibilidade de aumentar a família. — Tenho vontade de ter uma menina.
Enquanto isso não acontece, a apresentadora exerce seu dom maternal na ONG Caslu, criada em 2013 por ela em parceria com o ex-marido e os amigos de infância Patrick Lopes e Felipe Cantieri.
— Caslu é Lucas ao contrário. Senti a obrigação de ajudar crianças que tiveram uma história triste como a do Lucas, mas que não contaram com uma família para abraçá-los. A gente auxilia instituições do Rio que cuidam de crianças e adolescentes. Nossa única fonte de renda é a camiseta, adquirida pelo site (mundocaslu.com.br). E o dinheiro arrecadado é revertido em doações — explica.
Linda por natureza, a apresentadora confessa ter pouca paciência para assuntos relacionados a moda e afins.
— Meu lado menininha é bem pequeno. A primeira vez em que Priscila foi à minha casa, ela perguntou onde eu guardava o secador de cabelo. No que eu respondi: “Que secador?”. Só depois desse episódio que eu passei a ter um. No dia a dia, gosto de usar jeans, camiseta básica e tênis. Utilizo maquiagem apenas para trabalhar e odeio prova de roupa.
Indagada sobre como se sentiu ao ser eleita Musa da Copa de 2014, ela garante ter recebido o título como um carinho do público, que hoje pode acompanhá-la em sua conta no Instagram, que contabiliza mais de quatro milhões de seguidores. E completa, rindo, na sequência:
— Mas ser a “baranga” da Copa ninguém quer.
Esse risco ela não corre.
Veja também:
Leia também:
AUTOR
Redação iBahia
AUTOR
Redação iBahia
Participe do canal
no Whatsapp e receba notícias em primeira mão!
Acesse a comunidade