Para comemorar 20 anos de carreira, o grupo Jota Quest preparou um show no Rio de Janeiro com um repertório especial com sete canções do novo álbum “Pancadélico” e duas dezenas de músicas marcantes de todo o repertório do grupo. “Vai ser uma apresentação longa”, avisa o vocalista Rogério Flausino, que, nesta entrevista, também comenta a instabilidade política do país: “Está muito difícil tocar a vida para a frente, com um show alegre, e esse clima de tensão política no ar”.
Foto: Divulgação |
Vocês prepararam algo especial para fazer no Rio?
Vamos estrear a parte visual do show aqui na cidade. Será um telão com dois bonecos animados. Chamamos a apresentação de “baile show”, pois fazemos um passeio por todas as fases da banda. Será uma mistura de músicas lentas e animadas. O grupo sempre foi muito amplo nesse sentido.
Vocês têm uma produção variada e pouco classificável. É algo proposital?
A gente se assume pop exatamente para deixar isso solto. Se você conseguiu ampliar seu público em algum momento da carreira, é porque você conseguiu ser pop. O Jota Quest é isso, sabe? Sempre fomos muito tranquilos em relação a ser chamado de uma banda pop. Eu até gosto de ser camado assim, porque deixa a gente mais livre para fazer o que quiser na hora que entendermos. A longevidade da banda tem a ver com isso.
Numa das músicas novas, vocês cantam com a Anitta. Como isso foi orquestrado?
Procuramos estar perto das pessoas que a gente gosta e que gostam da gente. É uma balança que precisa ser bacana para ambas as partes. A gente já tinha conhecido a Anitta outra vez, num show. Depois, fomos ficando brothers, começamos a trocar WhatsApp e a nos encontrar nos lugares. Pensamos nela na música “Blecaute”. Ela adorou! Pena que não poderá participar do show agora.
Surpreende-se com o sucesso ainda hoje?
Isso acontece a todo momento. Muitas pessoas vêm nos dizer que entraram na igreja no casamento, ao som da nossa música. É muito legal. Quando isso acontece, a música ganha mais não sei quantos anos de vida, né?
Você elegeria um top 5 das melhores?
É tão difícil isso. Acho que podemos por “Na moral”, “Dias melhores”, “Só hoje”, “Do seu lado”... A última eu deixo você decidir!
Recentemente, parte da imprensa noticiou que o Jota Quest poderia captar R$ 3,1 milhões para bancar a turnê de 20 anos de carreira da banda. Isso aconteceu? Vocês realmente escreveram um projeto para apresentar ao governo?
Isso aconteceu mesmo. Existe um projeto, sim, que foi absurdamente aprovado, apesar de o ministério não poder ter feito isso. Mas nada foi captado. Aprovaram um projeto em que faríamos quatro shows gratuitos ao ar livre, onde faríamos shows para um grande público, em capitais, na Praia de Copacabana e no Parque Ibirapuera, por exemplo. Ninguém ganharia dinheiro com isso. Mas o projeto não foi feito por nós. ele foi feito por uma produtora que queria realizar isso. Diante de todo o barulho que aconteceu, nós havíamos desistido disso. Depois que essa turnê atual terminar, talvez a gente faça um show nesse molde, mas totalmente independente da Lei Roaunet.
Como você avalia esse episódio?
Acho que a Lei Rouanet precisa de notificações. Os artistas que optarem por esse caminho necessitam de respaldo e resguardo da própria lei, para que isso seja realizado sem essa fiscalização do nosso próprio meio. Sinto que a gente, do meio artístico, fica jogando contra a gente mesmo. Nós, do Jota Quest, somos a favor que essa mudanças sejam feitas o mais rápido possível. Se ficar caracterizado que artistas grandes, como o Jota Quest, não possam usufruir dessa lei, nós estaremos acatando. Tenho certeza que toda a comunidade artística enxerga alguns erros nessa lei, que precisa de correções. Ninguém aqui quer tirar proveito do dinheiro público para satisfazer seus desejos artísticos. Nós queremos simplesmente correr dentro da linha, dentro do que é legal e moral. O projeto não será captador, embora tenha sido aprovado. Estamos totalmente “out” nessa história.
Essa posição reflete uma postura política também?
Estamos vivendo um momento muito importante no país. É um momento de mudança. Acho que é uma mudança que tem que acontecer em todas as esferas da sociedade. Mesmo! É para termos um país melhor. O que é do coletivo? Como isso deve ser repartido? Não é uma questão que será resolvido de hoje para amanhã. Demoraremos um tempo para corrigir essas coisas...
Você está se referindo também à instabilidade política com a presidência do país?
Estamos a poucos dias de uma votação que talvez gere um impeachment da presidente da república. É um momento muito importante e sério. Todos têm que estar atentos. Inclusive, está até muito difícil tocar a vida para a frente, com um show alegre, e esse clima de tensão política no ar (risos). É um clima difícil e pesado, de competição e tal.
Imagino então que você não toque nesse assunto no show...
Não. Lógico que não. Acho que a função do Jota Quest, o nosso DNA, é fazer um momento relax. Queremos deixar as pessoas relaxadas de tudo isso. Temos músicas que falam de questões políticas. A música que abre o show, por exemplo, se chama “A vida não está fácil para ninguém”. Sempre fizemos crítica social, mas é algo mais brando que tenha uma pegada de humor. Temos nossas posições, mas não queremos ficar bradando. As campanhas podem ser feitas na comunidade, sabe?
Depois desses 20 anos de carreira, quais são seus maiores sonhos?
Esses nossos dois últimos álbuns (“Funky funky boom boom” e “Pancadélico”) nos deram uma renovação, sabe? Trabalhamos com os gringos, o que sempre quisemos fazer. Estamos tentando fazer música nova e dar continuidade. Temos o projeto de fazer bem logo mais um disco com a mesma proposta do “Pancadélico”, só não sei exatamente quando. Queremos lançar um livro de fotos também, mas ainda estamos decidindo os detalhes. No ano que vem, haverá algo marcante. Deve ser um DVD. É a vida que segue! Temos uma história grande? Temos! Mas a gente não quer viver só do que a gente já fez. Precisamos nos arriscar para o jogo ter graça. É isso que a gente quer fazer.
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