Kevin Johansen canta com Daniela Mercury

Dizem que as misturas resultam em coisas interessantes na música. Quando a diversidade está presente na história do próprio artista, então, é bom ficar de olho. É o caso de Kevin Johansen, 48 anos, que, junto com sua banda, a The Nada, lança o álbum Bi (Sony Music), com participação dos brasileiros Daniela Mercury e Paulinho Moska. Nas composições, é grande a influência sul-americana, especialmente andina e do Cone Sul – ele é pesquisador das sonoridades do continente. Seu trabalho de 2007, Logo, entrou na lista dos cinco álbuns latinos mais interessantes do ano do jornal Los Angeles Times, que classificou o som como delicioso. Kevin é filho de uma argentina “anti-imperialista” e de um americano com ascendência norueguesa. Nasceu no gélido estado americano do Alasca, onde viveu até os 7 anos, quando a mãe se casou com um pintor mexicano. E lá se foi Kevin para a Califórnia. Aos 11 anos, nova mudança da família, dessa vez para Buenos Aires, na Argentina. Foi lá que Kevin, um argentino de coração, criou suas raízes. O sangue latino, nesse caso, teve origem perto do Polo Norte. Artista lindaEssa formação tão rica pode ser notada em Bi, com músicas cantadas em espanhol, português e inglês. O toque do folk no violão de Kevin é claramente perceptível. Ouvir o álbum dá uma sensação de viagem pelos Pampas. Mas pitadas do pop folk e do rock também permeiam o trabalho – ele morou por dez anos em Nova York. Além de composições próprias, Bi traz versões de Everybody Knows, de Leonard Cohen e Sharon Robinson; e Modern Love, de David Bowie. “Eles são monstros da música, assim como Gilberto Gil e Caetano Veloso. Então essas influências acabam sendo inevitáveis”, explica. Sobre os seus convidados do Brasil, comenta: “Em 2010, Daniela Mercury veio fazer um show em Buenos Aires. Nem acreditei quando ela me ligou dizendo que queria me conhecer. Ela é uma artista linda, me encantei. E acho que Apocalypso (música gravada pela baiana em Bi) é perfeita para a voz dela”, conta. Já Moska, que canta Tan Facil, foi apresentado a Kevin pelo uruguaio Jorge Drexler, vencedor do Oscar de melhor canção por Al Otro Lado Del Río, do filme Diários de Motocicleta. “Jorge vivia me dizendo ‘você precisa conhecer um artista brasileiro que é a sua cara, você vai amar’”. Os três músicos já se reuniram no projeto Mercosurf, que funde elementos de bossa nova, free jazz e música cubana. Pai e MãeA curiosidade com a cultura brasileira também está em Glass – que já foi gravada por Paula Toller. A letra diz: “Você é tão resiliente, nunca quebra nas dobras. E eu são tão brasileiro, sempre em extremos”. Kevin explica: “Talvez seja por conta do clima de vocês, a alegria aí é tão efusiva”, diz, entre risadas. O americano-argentino diz que também se sente um pouco brasileiro. Uma coisa não exclui a outra. Segundo ele, todos somos binários, filhos de uma mãe e um pai; metade homem, metade mulher. “Acho que minha criação contribuiu diretamente para a minha música. Desenvolvi uma qualidade de observação, algo voyer”, analisa. Por isso que, segundo o artista, Bi fale tanto de questões como passado e origens. Detalhe curioso: as fotos do simpático casal que aparece na capa do disco são dos pais de Kevin. “Não conhecia essas fotografias, minha irmã as encontrou e me mostrou. Achei perfeitas para a ideia do álbum”, afirma. E se o tema é a raiz que cada um traz consigo, a música que fecha o álbum, Nieva en Buenos Aires – Neva em Buenos Aires, em português –, é, nas palavras de Kevin, uma bonita metáfora de sua própria vida. “É um tango. Algo centenário, porém moderno”. Na letra, ele diz que a neve, algo não muito comum na cidade, é como se fosse uma carícia. E que, assim, ele volta ao Alasca. Matéria original: Correio 24 Horas Artista americano de alma argentina, Kevin Johansen canta com Daniela Mercury