Leticia Colin foi atriz mirim. Não, essa rima fácil não faz parte de um poema. Embora a moça, daqui a pouco com 27 anos, seja boa de prosa e musa de verso. Enquanto posa para o fotógrafo na Urca, o bairro chique da Zona Sul carioca, ela ouve do praticante de remo: “você é muito linda!”. E devolve, “você também é lindo!”. E não é protocolar. Leticia é uma dessas mulheres possíveis, que não fazem pose na vida e só aparece. Ela é de verdade. Enquanto faz o cabelo na cadeira do bar, pede um antialérgico na drogaria ao mesmo tempo em que escolhe uma taça de vinho. Com o sotaque paulista de Santo André aliado ao carioquês típico do Rio de Janeiro, ela gesticula e diz que é do partido dos pequenos prazeres. “Racionalmente, não deveria beber esse vinho, estou prestes a fazer uma cena de biquíni num filme. Mas, poxa, hoje é sexta-feira, minha mãe e minha tia estão aqui, estamos conversando. Quer saber? Eu mereço!”, justifica a atriz.
Na TV como a ardilosa Julia de “Nada será como antes”, ela experimenta um papel de época pela primeira vez. No cinema, vai rodar “A costureira e o cangaceiro”, na pele de uma rica feminista inconsequente dos anos 30 à frente do seu tempo, e ano que vem vai aparecer na telinha em mais algum lugar do passado, na novela das seis “Novo mundo”. “Acho que projetei isso para o universo e ele está me respondendo. Três trabalhos consecutivos num lugar em que jamais estive, algo que queria muito”, observa. Na série da Globo, ela vive uma tensão sexual com a cunhada, protagonizada por Bruna Marquezine. Até beijo na boca ja rolou entre elas. “Quanto mais a gente falar sobre o assunto, mais natural será. E a Bruna é uma parceira incrível, disponível, pronta. Só podia dar certo”, elogia. Leticia é positiva. Já acreditava na causa e efeito de suas atitudes antes mesmo de descobrir o Budismo, há um ano e meio. Freud veio antes. Leticia faz psicanálise há anos. “O processo do ator tem muitos questionamentos, acho mesmo que temos uma sensibilidade maior para as coisas e vamos pegando um pouco das pessoas que a gente interpreta. Tem hora que só a análise dá jeito”, avalia. Agora ela descobriu a Filosofia e está estudando com um professor indicado pelo namorado, Michel Melamed, ex-marido da atriz Bruna Linzmeyer. Leticia e o ator estão há seis meses juntos.
“Já nos conhecíamos, eu namorava, ele era casado. Já admirava o trabalho dele e um dia, ambos solteiros, nos encontramos, começamos a sair e ver que havia tanta afinidade... Foi natural querer estar junto”, conta ela, que ainda não tem planos de juntar os livros da estante com Melamed: “Nunca morei junto ou casei. Cada um na sua casa está ótimo. Nem eu nem ele pensamos nisso. Temos uma rotina muito saudável no sentido de gostar das mesmas coisas e de querer descobrir outras tantas juntos”. A menina que começou aos 9 anos na TV e sofria certo bullying na escola é de uma segurança admirável. Leticia não é neurótica com o corpo, é desencanada do glamour que ronda a profissão e transita entre o cult e o popular com pisadas bem firmes. “Aprendi muito quando passei pelo filme ‘Bonitinha, mas ordinária’, diz a atriz, que, aos 18 anos , fez tórridas cenas do universo rodriguiano e só foi ver o resultado cinco anos depois. “Todo mundo iria me ver como protagonista e eu ia ter um salto na carreira. Mas não! As coisas foram acontecendo e quando o longa ficou pronto eu entendi que tudo tem que ser na hora que tem que ser. Eu não tenho o controle e isso me deixou muito mais relaxada com tudo”, pondera. É assim também com o espelho. “Me acho uma mulher bonita, com o corpo legal, se eu malhar fico sarada. Mas não é a minha. Não julgo quem queira ser. Cada um é feliz com o seu. Estou bem feliz comigo, com o que vejo e com o que escolhi ser. Sou zero encanada. É meu trabalho que vai estar em jogo quando eu estiver em cena. E desse eu sei que dou conta”. Mais uma taça para ela, por favor, garçom. Letícia realmente merece.