O jeitinho brasileiro sempre foi associado à malandragem: furar fila de banco, driblar o imposto de renda, dar uma “mãozinha” na hora de mandar a bola pra rede. Mas injustiças à parte, o jeitinho brasileiro também pode ser uma forma criativa (e legal) de sobreviver em meio às exigências do mercado. Em Salvador, essa criatividade está sendo usada para promover festas originais em lugares inusitados.
O Circo Picolino, situado na orla de Patamares, durante o dia oferece aulas básicas de circo para crianças e adolescentes, possui projetos com escolas municipais e organiza espetáculos periódicos abertos ao público. Mas, ainda assim, a verba arrecadada não é suficiente para atender todas as necessidades do espaço.
Foi aí que João “Jonga” de Lima, músico e amigo de Anselmo Serrat, diretor do circo, teve a idéia de criar uma noite de samba. O músico reuniu alguns amigos e criou o coletivo Circo dá Samba, que, desde janeiro de 2008, toca todas às terças-feiras na tenda alternativa do circo.
Feito para durar dois meses, período em que a cidade recebe maior número de turistas para o Verão, o projeto fez tanto sucesso que até hoje recebe em média 200 amantes do samba de roda, que dançam ao som de músicas de Jorge Bem Jor, Chico Buarque e Cartola.
O dinheiro arrecadado pela venda de ingressos é dividido entre o entre o circo e os músicos. Anselmo afirma que essa “foi uma maneira de trazer mais dinheiro, mas também uma ótima forma de divulgação, importante para o espaço poder sobreviver”. Quem também ganha com a noite de samba é Maria Lopes, que monta dois balcões onde é possível comprar cerveja e alguns quitutes.
Outro lugar inusitado é a Borracharia, localizada no Rio Vermelho. Aberta há 24 anos, o lugar começou a ser ponto de encontro dos amigos do dono, Alberto Magno, que se reuniam entre pneus e ferramentas para tomar uma cerveja e colocar o papo em dia. Mas as reuniões foram crescendo, até que o espaço passou a ser usado para festas de aniversário, até virar balada.
Logo na entrada, pneus e paredes sujas de graxa. Mas andando em direção à pista de dança, é possível reparar em detalhes interessantes que tornam o espaço especial. Alberto conta que hoje não cuida mais da administração, passada ao sobrinho Rafael. “Prefiro me dedicar à decoração, com novos objetos e pinturas, além de cuidar da reparação do que foi danificado durante o fim de semana”, explica.
A Borracharia continua funcionando diariamente em horário comercial para reparos em automóveis, e as quintas, sextas e sábados recebe um público descolado, que gosta de samba rock, pop e groove. DJ Ruy explica que o sucesso do lugar nasceu de uma necessidade do público. “Não existe em Salvador uma balada que funcione até 5 da manhã e que toque músicas bacanas da década de 60 e 70”.
Mais um caso de criatividade, os postos de gasolina foram feitos originalmente para funcionar como um pit stop, com atendimento rápido e eficaz, e acabaram transformando a dinâmica da noite de Salvador. Há dez anos, quando surgiram na cidade, as lojas de conveniência, situadas dentro dos postos, foram uma ótima solução para quem queria matar a fome depois de horas dançando, ou ainda tomar uma saideira.
O Posto Namorado, localizado na Pituba, funciona em dois “turnos”: entre às nove e meia noite, o público faz um “esquenta”, ou seja, se prepara – com cervejas e outros drinks – para a noite que está só começando. Já entre às 2h e 5h da manhã, os freqüentadores preferem lanches rápidos para não dormir de barriga vazia.
Já em Stella Maris, bairro próximo a Lauro de Freitas, a festa é diferente. Sem muitas opções de bares e boates nas redondezas, os moradores fazem do posto de gasolina o próprio lugar de festa. Mas nem tudo é diversão: investidas cada vez mais severas proíbem som alto, grande atrativo da festa. E sempre vale o aviso: evite fumar perto das bombas de combustível e claro, se beber, não dirija.
Ficou animado? Confira aqui fotos do Circo Dá Samba!
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