Quando Nanda Costa termina seu café na varanda de uma padaria na Gávea, bairro em que também mora, na Zona Sul do Rio, alguns olhares são dirigidos a ela, sem que a atriz perceba. Os de duas senhoras, na faixa de 60 anos, chamam atenção. São olhares de reconhecimento, mas têm um quê de indagação. Já na calçada, duas estudantes da rede municipal de ensino, ambas pré-adolescentes, encontram a atriz e logo a abraçam, falam da novela, elogiam e se despedem carinhosamente, felizes por terem encontrado uma pessoa famosa.
No olhar das sexagenárias, talvez o não entendimento por Nanda ter assumido, após cinco anos, seu relacionamento com Lan Lanh, veja só, uma mulher. No das fãs... Bom, no das fãs não existia questionamento. “Eu senti necessidade de me colocar, de dizer: ‘eu tenho o direito de me relacionar com quem eu quiser sem ficar me escondendo ou me protegendo’. Não tenho por quê ficar me policiando pra não expôr a minha vida e o amor, que, para mim, é a coisa mais importante do mundo”.
Como as pessoas reagiram após você assumir o namoro com Lan Lanh?
Mesmo antes do dia 12 de junho, quando publiquei a foto nas redes sociais, eu recebia milhares de mensagens agradecendo a representatividade na novela. Uma mãe disse que conseguiu entender a filha vendo a Maura. Foi uma onda de amor tão grande... Não fazia mais sentido não me colocar nesse momento. Não seria em nenhuma época se não agora.
O que contribuiu para este momento?
Os trabalhos que fui fazendo, as experiências que eu tive me transformaram em quem sou hoje. Obviamente, estou me sentindo mais leve. Estou há quase cinco anos num relacionamento superestável com uma das pessoas mais legais que eu conheço e tenho orgulho do que estou vivendo.
O que essa relação te traz?
As boas influencias, a leveza, a tranquilidade, a paz. A Lan me ajudou a entender que a vida é cíclica, que uma hora a maré está alta, noutra não. Ela tem 50 anos e experiências incríveis. Já tocou com Cindy Lauper, Tim Maia, Elba Ramalho... Com tanta gente incrível. Eu entendi isso, que temos altos e baixos e isso tudo me trouxe uma paz e uma calma. Sei que tudo passa muito rápido, e não fazia mais sentido não ser eu verdadeira e honesta com o que sinto.
Em casa, essa transição também foi tranquila?
Sempre foi. Minha família sabe e me ensinou que as coisas mais importantes da vida são honestidade, dignidade e amor. No começo, tem a coisa de não esperar, porque, às vezes, a gente projeta num filho certas idealizações, mas foi tão natural, tão coração que não havia como não entender, não aceitar.
Você vem de uma linhagem de mulheres muito fortes. Se considera uma feminista?
São mulheres muito guerreiras, íntegras, com exemplos muito práticos do que é feminismo. Minha bisavó foi a primeira vereadora mulher do estado do Rio. Ela criou cinco filhos sozinha, morava numa fazenda, fundou uma loja que existe há 60 anos em Paraty, passou para a minha avó, eu trabalhei lá... Ainda tenho uma tia que tem seis filhas e produz cachaça, é uma das maiores produtoras do país. Nunca entendi a mulher como sexo frágil, desde criança isso nunca fez sentido pra mim. O meu feminismo está nas minhas ações, na forma como eu vivo a minha vida. Eu sigo em frente.
Seu pai saiu de casa quando você tinha apenas 1 ano. Têm algum contato?
Nós nos encontramos quando eu tinha 11 anos, estava indo para a França e precisava da autorização dele. O conheci, foi tranquilo e depois nos falamos quando comecei a fazer “Cobras & lagartos”, mas não temos muita afinidade. Ele ele não foi presente e isso se perdeu.
Sentiu essa ausência?
Meu avô preencheu tudo isso. Morei com ele. Ele era um ídolo para mim. Pessoa fantástica, maravilhosa. Me incentivou, me ensinou a cozinhar. me levava na escola, ia na festa do Dia dos Pais. Tive um avô duplo ou um pai duplo. Ele dizia: ‘você quer ser atriz? Mira no Oscar”.
Você ainda mira?
Hoje em dia não tenho mais essa imagem. Poxa, já conquistei tanta coisa, estou tão feliz. Claro que eu tenho metas. Fazer cinema francês, até porque é um idioma que domino bem. Tenho sonhos e desejos. Se parar de ter isso, a vida vai ficar sem graça.
Ser mãe e constituir uma família está nestas metas e sonhos?
É um desejo, mas tem muita coisa aí. A gente fala sobre, há muitas maneiras de constituir uma família. Só que eu evito falar sobre filho. É uma vontade. Mas se uma mãe não fala sobre a gravidez antes dos três meses de gestação, por que eu ficaria falando sobre isso sem nem ter um bebê na minha barriga? Fica parecendo que eu estou falando mais da minha vida, que eu sempre quis proteger, e não da minha carreira ou trajetória só para dar uma aspa que renda uma manchete.
Tem algum receio de levantar bandeiras?
Quando você levanta uma bandeira, você abaixa todas as outras. ‘Ah, a Nanda é lésbica!” Se estar com uma mulher há cinco anos é isso, sou também. Mas já estive com homens. E aí, sou bi? Eu espero que eu esteja amanhã e depois e depois com a Lan, que é uma pessoa que eu amo, que eu quero e está tudo certo. Mas vamos supor: se eu tivesse feito isso antes, me assumisse, aí terminasse o relacionamento e namorasse um cara. Porque sem eu ter falado “sou lésbica”, já me colocaram aí. Essa frase nunca saiu da minha boca. E se um dia eu apareço com um homem? Tenho 31 anos. E se aos 60 estiver com um homem? Vou estar traindo a classe LGBT? Pô, eu quero ser livre! Não quero ficar numa caixinha.
Sua personagem está passando por isso em “Segundo sol”...
Tudo é muito rápido, a internet se manoifesta, as pessoas não entendem, de repente, que cada um tem a sua história. Você assiste a um filme, de uma hora e meia, tem ali todos os ingredientes no roteiro e fim. A novela é uma obra aberta, ainda tem tanta coisa para acontecer. Mas já estão antecipando algo que a gente nem sabe se vai acontecer.
O que mudou na sua rotina com a Lan Lanh após tornar pública a relação?
Não deixei de fazer nada do que eu já fazia com a Lan. Só que a gente tinha um código. Tem paparazzo sempre aqui no shopping, então, não queria dar uma foto para render uma legenda X e uma chamada tal. Antecipar uma coisa que eu não queria falar antes. Não me sentia segura para falar sobre. Rola uma cobrança: “você tem que dar voz, é um ato político”. Eu não estava preparada, poderia ajudar algumas pessoas, mas talvez me prejudicasse. Foi no momento certo, hoje em dia está tudo tranquilo. Eu posso fazer um carinho na minha namorada sem olhar para trás, sem me preocupar.
É mais difícil quando se é famoso?
Não me vejo uma celebridade. Sou tão de verdade. Não estou na rede social a toa. Gosto da troca, de transitar no comum. Só não quero ser invadida. Não tolero preconceito. Vou lá e bloqueio. Não só comigo. É legal o discordar, vamos trocar uma ideia? Isso é saudável. Sou respeitosa e não gosto de pedir respeito ou exigir. Tem que ser natural. Ninguém tem que exigir nada. É delicado demais falar disso. Quando falo do meu relacionamento, sei que estou militando, mas com tranquilidade e leveza porque para mim é natural.
Comédia na veia
De certa forma, você conquistou os internautas ao tornar Sandra Helena, sua personagem em “Pega pega”, ainda mais popular após os vídeos das danças no #loucodance. Foi planejado?
Nada! Sandra Helena foi um superdesadfio. Nunca tinha feito comédia. Meus amigos dizem que sou engraçada, mas eu não sabia se o povo me achava cult ou popular. Foi uma forma de fazer o público se aproximar. Comecei a fazer uns vídeos sem me levar a sério. As pessoas aparecem lindas na internet. E eu fazia com o cabelo detonado, brincava e as pessoas se identificaram. E a dança foi meio a continuidade disso. Começou numa brincadeira com o João Baldaserini e virou uma febre. Eu fazia toda sexta-feira. As pessoas me cobram, me pedem, já estamos fazendo alguns em “Segundo sol”.
Você disse que gosta de transitar no comum. As pessoas te veem assim?
Toda vez que eu faço uma personagem, elas acham mesmo que sou aquela que está ali. Quando fiz a Morena (de “Salve Jorge”), fui fazer uma campanha de publicidade e o cliente veio me cumprimentar e dizer que era legal eu estar tendo aquela oportunidade porque ele também tinha vindo de comunidade e sabia como era difícil. Nunca falei para ele que eu tinha crescido em Paraty, que não era da comunidade. Tive medo de perder o trabalho. Fico muito feliz quando isso acontece porque é sinal de credibilidade.
Um #TBT de 12 de junho de .... alguém adivinha?
Uma publicação compartilhada por Nanda Costa (@nandacostareal) em 12 de Jul, 2018 às 12:18 PDT
“Se juntas já causam, imagina juntas” ???? @v_vital7
Uma publicação compartilhada por Nanda Costa (@nandacostareal) em 3 de Ago, 2018 às 6:50 PDT
Uma publicação compartilhada por Nanda Costa (@nandacostareal) em 5 de Ago, 2018 às 9:16 PDT
Uma publicação compartilhada por Nanda Costa (@nandacostareal) em 5 de Ago, 2018 às 4:32 PDT
Uma publicação compartilhada por Nanda Costa (@nandacostareal) em 8 de Ago, 2018 às 12:25 PDT
A tradicional praia carioca: Sol, biscoito Globo e amor ????
Uma publicação compartilhada por Nanda Costa (@nandacostareal) em 1 de Set, 2018 às 1:17 PDT
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Redação iBahia
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