Um dos mais brilhantes jornalistas do Brasil, Pedro Bial estreia seu talk-show na Globo, em 2 de maio, com a intenção de promover mais do que diálogos com um entrevistado por vez. Ele reunirá várias vozes, afins e dissonantes, num sofá único. O programa terá ainda colunistas e uma banda. Tudo isso respeitando o formato clássico que surgiu na TV americana nos anos 1950. Ainda “nervoso, colonizando o novo palco”, entusiasma-se ao repertoriar o que pretende debater. Do humor à ciência, da cultura à política, todos os temas serão bem-vindos. Até aqueles que são tabu e difíceis de encarar — como a morte, discutida numa edição com Gilberto Gil. Ele promete só que ficará “longe do bode que está dominando o país”. E conta aqui como será seu “Conversa com Bial”, que irá ao ar depois do “Jornal da Globo”.
Você seguirá a estrutura do clássico talk-show?
O talk-show é um formato consagrado, não vou fundar nada. Mas quero fazer variações. Tenho vontade de que cada edição traga uma singularidade. Dedicaremos noites ao humor, com a curadoria do Renato Terra (jornalista, documentarista e criador do “Piauí Herald”). Também faremos isso com o cinema. Já gravamos com a Leandra Leal, que dirigiu “Divinas divas”. Com ela, estavam Rogéria e Jane di Castro, personagens do documentário. Teremos uma banda, formada para a atração, com músicos paulistas. Só que os programas não nascem prontos, são como bebês: têm dez dedos nas mãos e nos pés, mas as conexões neuronais vão se fazendo aos poucos. Então, tudo o que eu disser será superado pela prática e pelo tempo.
Quem você acha que te acompanhará nesse horário?
Fizemos pesquisa para descobrir quem é esse público. Ele é feito de pessoas que chegam tarde do trabalho e só então se dedicam aos afazeres domésticos, querem relaxar. É a hora de tirar o sapato e botar a cabeça para pensar, mas sem a aridez do jornalismo. Muitas dessas pessoas assistem à TV sozinhas ou são casais, às vezes cada um ligado a um aparelho de televisão. O horário é bom, dá para falar de tudo sem freios. A sede do debate existe. Vamos ter um lugar para uma entrevista que é uma conversa, não uma reação ao noticiário quente. Refletiremos sobre os fatos. Não quero parecer pretensioso, mas desejo ocupar um espaço que está aí, pedindo para ser ocupado. A TV aberta, antes da internet, já era um ambiente de interatividade, onde o público silencioso, não aquele que esbraveja nas redes, se encontra. Quero propiciar a exposição do pensamento e fazer isso com leveza.
Engraçado você dizer isso: o “BBB” era exatamente um programa movido por esse ódio da internet, não?
Talvez depois de 15 anos fazendo o “BBB”, eu agora esteja desejando o contrário. Não que não tenha sido bom, foi muito bom. Mas o “BBB” é o império da irrelevância, por isso todo mundo se anima a brincar. Ali, aprendi a não me levar tão a sério, a brincar também. Mas passou. Ou melhor: quero seguir Rita Lee e “brincar de ser sério levando a sério a brincadeira”.
Acompanhou o “BBB”?
Tive pouco tempo, estou trabalhando muito. Mas sei que foi um sucesso, inclusive de audiência, e o Tiago (Leifert) se saiu brilhantemente.
Você fala em “conversa”. Segue um roteiro?
Eu estudo. Fui ao Uruguai entrevistar o (ex-presidente José) Mujica e fiz uma superpesquisa. Só que, na hora, a conversa correu tão boa que logo pus meu iPad de lado e deixei rolar naturalmente. Também fiz ótimas entrevistas com Rodrigo Santoro e com Serginho Groisman. E com o Gilberto Gil, em que o assunto era a morte. Foi uma noite temática. Ele passou mais de cem dias internado. É dele aquela canção que diz “Não tenho medo da morte/ Mas sim medo de morrer”. Gil era o astro, mas estavam ali também Roberta Saretta, cardiologista, e Camila Appel, que tem um blog chamado “Morte sem Tabu”.
Quem serão os colunistas?
Sérgio Rodrigues, Karol Conka, Ricardo Rangel, Eduardo Bueno e o economista José Márcio Camargo fazem parte desse time. Temos também um grupo de consultores, pessoas que ouvimos sobre os mais diversos temas. Entre eles estão a jornalista Dorrit Harazim e o cineasta Carlos Nader.
Quem você gostaria muito de receber no programa?
Conversarei com brasileiros que estão produzindo arte e conhecimento, mas não aparecem na grande mídia. Somos uma nação rica e cheia de talentos, pude constatar isso quando participei da “Caravana do ‘Jornal Nacional’”. Adorei gravar com Maiara e Maraisa. Fizemos uma edição sobre ansiedade com Augusto Cury, best-seller de livros de autoajuda, e Tony Bellotto. Também tivemos uma noite em torno da experiência de quase-morte. Devo ir a Israel entrevistar (o escritor) Yuval Noah Harari. Adoraria conversar com Lady Gaga. Neste momento, seria ótimo receber o (ministro do STF) Edson Fachin. Minha ideia é oferecer um lugar reconfortante, onde a pessoa que está em destaque nos jornais possa se manifestar, mas sem a premência dos noticiários.
O programa vai para a rua?
Temos equipes de externa, sim. Mas também pretendo revisitar a minha carreira e voltar a lugares onde estive em coberturas importantes como correspondente. Um deles é Moscou.
O que não terá lugar?
Vou reunir os embates que racharam o Brasil. Mas a nossa ótica não é a do bode. Vamos desafinar o coro dos descontentes (uma referência ao poema “Let´s play that”, de Torquato Neto, que falava em “coro dos contentes”). Acho que o país melhorou nos últimos 30 anos.
Há quem imagine que o apresentador de um talk-show faça humor. É assim?
O talk-show foi inventado por jornalistas, mas acabou sendo monopolizado por comediantes. Me sinto diferente disso. Claro que poderá acontecer de aflorar um humor não premeditado, mas minha praia é a do entrevistador.
Você se preocupa com a audiência e com a concorrência?
Nessa faixa, estarei disputando com (Danilo) Gentili e (Fabio) Porchat. São dois talentos, mas quero que se estrepem (risos). Desejo ganhar deles, claro.
Qual é o desafio de ocupar a faixa que foi de Jô Soares?
Fiz questão de procurá-lo antes de tudo e pedir a sua bênção. Estava com medo do contraste. Ele me apaziguou, disse que não tem mistério. O segredo do formato é não tentar inventar a pólvora e ser o homem atrás da mesa. Esse colo foi importante.
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Redação iBahia
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