No dia 16 de março, comecei com uma tosse e uma dificuldade de puxar o ar mais fundo. Nessa época, o novo coronavírus já tinha sido classificado como uma pandemia e os casos no Brasil já começavam a aumentar. Na hora, rola aquela dúvida, parece que não é com a gente. Fiz um esforço para rememorar os passos: onde estive, com quem, o que estava fazendo... Muitas possibilidades, mas nenhuma certeza. E também não adiantava brigar com a memória. Tinha que procurar orientação médica para entender o que estava acontecendo.
O médico confirmou que eu estava com a maioria dos sintomas da doença. Tentei fazer o exame em quatro laboratórios, mas não consegui. Os testes estavam sendo feitos apenas em pacientes internados em estado grave e naqueles do grupo de risco. A primeira medida foi o isolamento social completo. Só dessa forma poderia garantir que, caso estivesse mesmo infectada, não transmitiria o vírus. A única pessoa que vi foi a minha mãe, que vinha na minha casa trazer as compras do mercado e me ajudar com algumas coisas. Claro que a gente ficava preocupada, tanto que mesmo seguindo todas as recomendações (usávamos máscara, mantínhamos distância e ela estava sempre de luva), ela depois higienizava as mãos várias vezes.
O oitavo dia foi o pior: tive uma dor de cabeça muito intensa de madrugada, não conseguia abrir o olho ou falar. Foi algo que nunca havia sentido antes. Em nenhum momento, tive medo de morrer; os sintomas, no geral, se manifestaram de maneira branda em mim. Mas fiquei ansiosa e angustiada: é horrível não conseguir respirar como estou acostumada, no automático, e me preocupava — e ainda me preocupo — por perceber que muitas pessoas não estão levando a sério a situação. Não podemos desafiar o próprio destino e o destino dos outros. Temos que cuidar das pessoas.
Estamos falando de uma pandemia mundial. Não é sobre mim, é sobre o outro. A saúde deve ser priorizada agora, mesmo que para isso tenhamos de abrir mão de algumas coisas. No momento, para quem puder, abra mão de estar na rua e fique em casa! Sou uma pessoa que adora estar com os outros, abraçando, beijando, compartilhando. Sinto muita falta disso no meu dia a dia, mas sei que por enquanto não é possível. Conversar com os amigos por chamada de vídeo ajuda bastante. Já participei até da comemoração do aniversário do (ator) João Vicente Castro assim! Estávamos longe, mas perto.
Nesse período, rezei, porque em tempos duros assim a gente tenta ficar mais perto de Deus. Arrumei a casa várias vezes, troquei coisas de lugar. Aprendi a fazer o meu prato preferido: purê de banana-da-terra! E ficou muito bom! Esse foi um grande feito porque, até então, só fazia ovo mexido, pipoca de microondas, brigadeiro, tapioca e gelo (risos). Fiz ioga, descobri músicas novas.
Vi um movimento lá fora através do Instagram da Emma Watson que ela postava uma plaquinha de #IStayHomeFor citanto os motivos e as pessoas por quem ela ficava em casa. Aqui no Brasil fizemos o #EuFicoEmCasa. Fiz pelos meus avós, pelos profissionais de saúde, pelos que não podem ficar.
Se for uma realidade possível para você, fique em casa também. Vai dar saudade de ir à cachoeira, à praia, de encontrar os amigos, de dançar aglomerado, de ter muito abraço e beijo. De dar e receber afeto pessoalmente. Quanto antes a gente se recolher, antes isso tudo vai passar. Sou otimista, acho que a gente vai vencer. Mas para isso é preciso ficar em casa. Por agora, a gente se alimenta das lembranças de tudo que amamos para continuar. De casa, pela tela, a gente se encontra, mata um pouco da saudade. E depois estaremos onde quisermos, juntos dos nossos.
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Redação iBahia
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