A farsa de Beto Falcão está com os dias contados para chegar ao fim. O segredo que se arrastou pelos primeiros 93 capítulos de “Segundo sol” para os telespectadores — 18 longos anos, na visão dos personagens da trama de João Emanuel Carneiro — será revelado na próxima quarta-feira (dia 29), durante o julgamento de Luzia (Giovanna Antonelli). O próprio músico é quem vai contar que Miguel, na verdade, não existe: sob sua identidade, está o cantor de axé, que virou um mito na Bahia, mas não morreu naquele acidente de avião.
“Peço desculpas a meu filho, Valentim (Danilo Mesquita), a quem só me revelei há pouco tempo... Aos meus fãs... Meus ex-fãs... Peço que não julguem minha família... Eu sou o único responsável. Meus pais e meus irmãos se calaram contra a vontade, a meu pedido... E queria agradecer a Luzia por ter me feito tomar coragem de dizer a verdade. É por ela que estou aqui, disposto a tudo, por amor a Luzia... Por amor a Ícaro (Chay Suede) e Manuela (Luisa Arraes), filhos dela. Eu posso ser preso, execrado, crucificado, odiado, não importa. Salvar minha mulher é a decisão mais certa que já tomei na vida... Eu te amo”, discursa Beto, na frente de juiz, advogados, promotores e de todos os presentes no fórum, causando um alvoroço daqueles, dentro e fora do recinto.
— Eu estava muito ansioso por essa virada, não aguentava mais ficar tocando violão (risos). Achei sensacional Beto se revelar num julgamento, porque é um momento crucial da novela, que junta tudo. Ele defende Luzia da acusação de assassinato e acaba com a mentira, se liberta. É como um renascimento da Fênix — sentencia Emilio Dantas, intérprete de Beto e de todas as facetas (Miguel, Marçal e Chico) que o cantor e compositor usou até então para se camuflar.
“A parte musical” é o elo, a peça-chave na conexão entre personagem e ator. Mas, diferentemente de Beto Falcão, que ia de mal a pior como cantor e compositor de axé antes de “sumir do mapa”, Emilio viu sua carreira dar belas guinadas, ano após ano, desde que assumiu, em 1997, sua veia artística. Inicialmente, como vocalista de uma banda de rock, a Mulher do Padre/Patuvê, que o homenageou no último dia 5, no palco do “Domingão do Faustão”, durante um emocionante “Arquivo confidencial”.
— A banda acabou depois de dez anos, mas nossa amizade nunca. Esses caras são irmãos, estão na minha vida desde sempre. A gente sonha retomar a Patuvê um dia, mas só de curtição. Profissionalmente não dá, nossas vidas se transformaram e tomaram novos rumos — afirma Emilio, que depois de se revelar fã de Bruno & Marrone e de cantar ao lado da dupla no dominical começou a receber outros tipos de propostas: — Acredita que me convidaram pra ir a Goiânia e virar cantor sertanejo, gravar CD e tudo? Sem chance! (risos).
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Pouca gente sabe, mas Emilio já tem um EP solo gravado. “Aqui, onde não estou” traz seis canções autorais numa pegada pop-rock.
— Foi um projeto independente. Fiz porque já haviam passado uns dez anos daquelas composições e eu queria registrá-las, antes que perdessem sua verdade. Chega uma hora em que as coisas que você canta não fazem mais sentido, porque já se superou tudo aquilo — explica ele, contando que ainda tem uma ou outra composição guardada, “mas nada que pense em gravar, são só músicas feitas entre amigos”.
O lançamento se deu em 2007, num momento em que o carioca descobria sua porção ator, apadrinhado pelo cantor e compositor Oswaldo Montenegro, de 62 anos.
— O que mais me chamou atenção quando conheci Emilio foi sua informalidade. Ele tinha um jeito que era muito natural, em qualquer circunstância. Além disso, tinha a versatilidade como marca: transitava da música para o drama e o humor com facilidade absoluta. E ainda desenha muito bem, tem dom para as artes plásticas também! Acho que era uma questão de tempo Emilio se tornar conhecido em todo o Brasil, porque é um cara que acrescenta a todo talento evidente o fato de ter muito charme. E talento misturado com charme não falha! — sentencia Montenegro.
Aconteceram, então, uma série de trabalhos no teatro e no cinema em que música e atuação andaram lado a lado: entre eles, destaque para “Leo e Bia” (2010), “Rock in Rio, o musical” (2013) e “Cazuza — Pro dia nascer feliz, o musical” (2013), que o lançou, definitivamente, ao reconhecimento nacional.
— Não me considero mais cantor que ator nem vice-versa. Se for parar pra pensar, não estudei pra nada disso, nem pra desenhar, que é a minha outra paixão artística. Na realidade, sou um curioso que gosta de brincar de tudo — diz ele, contando que sempre foi afinadinho e aprendeu sozinho a tocar violão, gaita, saxofone, baixo, washboard...: — Coleciono instrumentos em casa. Sempre que encontro uma coisa bacana, tento tirar um som. Acho que o universo conspira a meu favor. Foi um presente trilhar minha estrada de ator com papéis ligados à música. Até quando não existia, eu insistia nessa aproximação... Lembro que interpretei um guia turístico no filme “Anhangá, espírito da Amazônia” (2014) e dei um jeito de colocá-lo tocando uma gaitinha em cena (risos). O mundo está cada vez mais multimídia, né? As músicas permeiam a nossa rotina...
No trabalho ou em casa, ela está lá, acompanhando Emilio. Debaixo do chuveiro, ele solta o gogó num repertório diversificado. Na hora de encarar uma pia cheia de louça suja, também.
— Como eu só sei preparar ovo e gelo, quem faz a comida é Fabiula (Nascimento, de 40 anos, com quem ele se relaciona há quase dois). Acho que ela cozinha tão bem quanto Cacau (personagem da atriz em “Segundo sol”), embora diga que não. É falsa modéstia. Ela faz uma cuca de banana boa pra caramba, umas saladas, um caldo de couve-flor delícia! Mas eu lavo louça bem (risos). E é uma terapia pra mim. Ligo o som e deixo as ideias fluírem. Muitas vezes, meu lugar criativo é a pia. Ali eu elaboro as cenas da novela e ainda ajudo na organização da casa — orgulha-se ele, que divide os estudos dos capítulos e os cuidados com os cães Chã, Patinho e Lagarto com a namorada: — Já tem mais bicho do que gente debaixo desse teto, temos que ajeitar essa conta... (risos) Sempre curti criança, e estou querendo uma dentro de casa. A gente faz planos de ter filhos, mas não sabe para quando. Com os dois trabalhando, fica difícil.
Fã confesso de Raul Seixas — uma de suas 13 tatuagens é um retrato do cantor no braço esquerdo; outra, um microfone no meio das costas —, Emilio conta que Beto Falcão, apesar de cantor de axé, tem um tanto de inspiração no ídolo do rock — também baiano — e um outro tanto no Super-Homem, por conta da dupla e secreta identidade. Outra ligação entre ficção e realidade está na família numerosa: enquanto seu personagem tem três irmãos — Remy (Vladimir Brichta), Ionan (Armando Babaioff) e Clóvis (Luis Lobianco) —, Emilio é o segundo dentre sete (o assessor de varejo de produtos de petróleo Raphael, de 36 anos; o produtor de eventos Pedro, de 32; o estudante de Engenharia Felipe, de 27; a estudante de Publicidade Priscilla, de 23; e as estudantes Eduarda, de 12, e Clara, de 5)!
— Todo mundo é filho do mesmo pai, mas são quatro mães diferentes. Se na novela Beto Falcão é o conciliador da família, eu sou o mais avoado e desligadão entre os meus.
A “irmandade” com Babaioff, o ator transportou da cena para os bastidores. Ao comentar sobre a boa relação entre eles, Emilio acaba revelando uma curiosidade:
— Olha, eu sou bom de guardar segredo, como Beto Falcão. Se me pedem, não passo adiante. Mas também sou um cara curiosíssimo e adoro uma fofoca, um causo, uma boa história. E quem não gosta? Sou bem Candinha, viu? Só que eu gosto de ir na fonte, pra não errar. E Baba (como ele chama o amigo) também se amarra. Volta e meia a gente senta junto para fofocar até dizer chega!
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Redação iBahia
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