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'Um cara quis pagar R$ 60 mil por uma noite comigo', diz Pabllo

A fama, Pabllo conta, tem dificultado um bocado sua vida amorosa

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Redação iBahia

21/05/2018 às 12:49 • Atualizada em 31/08/2022 às 5:13 - há XX semanas
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Ao cantar “Indestrutível” e receber aplausos efusivos da multidão que assistia ao seu show em Goiânia (GO), no último dia 12, Pabllo Vittar não conseguiu segurar o choro. Desta vez, no entanto, as lágrimas não foram de felicidade. A artista lembrou, com dor, que perdera o amigo Matheus Passarelli, de 21 anos, “por causa da homofobia”. Não-binário (aquele que não se identifica como homem nem como mulher), o estudante de Artes Visuais da Uerj foi morto no Morro do Dezoito, em Quintino, na Zona Norte do Rio, no fim do mês passado. “Quero lembrar ao Matheus, onde ele estiver, que todos nós, LGBTQs, somos indestrutíveis”, desabafou ela ao microfone.

Drag queen mais badalada do Brasil, dona de vários hits e de um programa todo seu no Multishow, a cantora e apresentadora bem sabe as dores e as delícias de se assumir como é. Nascido no Maranhão, Phabullo Rodrigues da Silva Araujo se reergueu a cada zombaria ouvida na infância e na adolescência por conta de seu jeito afetado. Levou prato de sopa na cabeça na fila da merenda e, mais tarde, perdeu oportunidades profissionais por causa do preconceito.

— Nunca consegui emprego em loja de shopping, por exemplo. Trabalhei como cabeleireiro e no telemarketing das empresas, em que eu só usava a voz, ninguém precisava me ver — relembra ele no camarim do estúdio em Jacarepaguá onde grava o “Prazer, Pabllo Vittar”, ainda sem a longa peruca loura, mas já com a maquiagem irretocável, além de um pirulito de morango na boca.

Curioso é perceber que também por causa dela, a voz, a trajetória de Pabllo deu uma guinada daquelas. Capaz de atingir notas musicais agudíssimas ao interpretar hits de divas internacionais — como “I have nothing”, de Whitney Houston —, a cantora, por vezes, é criticada pela falta de afinação. Mas é a voz de ativista gay de Pabllo a que fala mais alto. Mais do que uma artista, ela é um ícone da causa.

— Ser afeminado é revolucionário! Eu amo ter nascido menino gay! Noooossa... Adoro ser veado, drag queen! Nunca quis ser mulher. Poder me transformar é maravilhoso! — brada Pabllo, que transita com naturalidade entre o masculino e o feminino: — Sou fluido. Você pode se referir a mim como “o” ou “a”, sem problemas. Mas, quando fico um tempão me montando, é para me chamar de “ela”, né (risos)? A verdade é que, quanto menos a gente se ligar nessas questões, mais as diferenças serão respeitadas.

O ritual de transformação do garoto de 23 anos em mulherão leva pelo menos duas horas. Enquanto sobrepõe camadas de base, corretivo, sombras, cílios postiços, batom e blush, Pabllo muda sua postura perante o espelho e perante o mundo.

— É uma transformação de dentro para fora. Meu rosto ganha novos contornos, meu jeito também. Como menino, sou muito tímido. Pronta, fico corajosa. Minha drag tem uma autoestima muito elevada. Quando estou montada, nada me abala — conta Pabllo, que tem uma coleção variada de 20 perucas, em média: — Não me produzo todo dia, só quando tenho que trabalhar. Se estou de menino, não tampo minhas olheiras, saio do jeito que estiver. Meu normal é usar cueca. Quando desmontada, não tenho a mínima pretensão de ficar sensual. De drag, sim, eu me sinto poderosa de fio-dental (gargalhadas)!

Essa força, Pabllo transmite a seus seguidores — no Instagram, eles chegam a sete milhões. Milhares deles, jovens gays e trans com dificuldades de aceitação na sociedade. — Virei um vittarlover (como se denominam os fãs da artista) na primeira vez que a vi. Pabllo é livre e me inspira de todas as formas. Comecei a me montar por causa dela. Quando me olho no espelho pronta, penso: “Caraca, eu amo essa pessoa!” — conta o vendedor de maquiagem Jonathan Henrique Monteiro, de 20 anos, morador de Realengo.

Com 1,87m de altura — acrescente aí mais 15cm de salto, no mínimo —, a artista costuma esculpir seu corpo sensual de aproximadamente 80kg queimando calorias em cima do palco e dentro dos quartos de hotel, Brasil afora, sempre que possível.

— Gosto do meu bumbum e das minhas pernas... São as partes que mais malho e que mais doem para manter duras. Eu e Urias (modelo transexual de Uberlândia, Minas Gerais, que é sua fiel escudeira) vemos vídeos na internet e copiamos as séries. Dá resultado, viu?! Perdi 20kg sem personal, com força de vontade. O médico mandou eu me cuidar. Precisei ficar de bem com o corpo para aguentar o pique de trabalho — entrega a loura, vaidosa por natureza: — Também fiz a cirurgia no nariz. Respiro muito melhor agora, minha desenvoltura no palco é outra! Fora que ficou lindo, né? Eu me sinto uma garotinha!

No ano passado, com 23 shows por mês mais campanhas publicitárias e presenças vip, Pabllo viu sua saúde dar sinais de que não estava bem. Pneumonia, gastrite e até infecção no dente foram as respostas de um corpo esgotado pelo ritmo de trabalho.

— Agora, são cinco a seis shows por mês, porque estamos no fim da turnê. No segundo semestre, Pabllo lança seu segundo CD e volta com 10 a 12 shows, em média. Temos conseguido descansar de cinco a seis dias por mês, não necessariamente em Uberlândia (MG), onde moram nossas famílias e nossos amigos. O sono é picado: três horas na cama do hotel, 30 minutos no chão do aeroporto, 40 minutos no avião... Eu e Pabllo somos workaholics, com a gente não tem tempo ruim — afirma Yan Hayashi, de 32 anos, um dos empresários da drag e a quem ela chama de pai, já que nunca conviveu com seu genitor: — Eu e meu marido, Leo (Leocadio Rezende), cuidamos de tudo da Pabllo. Eu sou o pai chato, que alerta para os compromissos, impõe regras, cobra, dá bronca; ele é o mais liberal. Ela pede conselho e apoio para a gente. Fomos nós que buscamos a casa que ela quis dar de presente para a mãe, Dona Verônica. Mas vou dizer que Pabllo é a pessoa mais pão-dura que conheço na vida. Para comprar uma bolsa da (grife) Gucci, foi uma dificuldade. A gente incentivava, insistia, e ela: “De jeito nenhum! Não tenho dinheiro nem coragem!”. Até que a convencemos de que merecia, que está trabalhando também para isso.

A fama, Pabllo conta, tem dificultado um bocado sua vida amorosa: — Quando eu era anônima, beijava bem mais na boca. Não sei se é medo ou nervosismo que as pessoas têm de chegar em mim. Sou a mesma pessoa, safada, louca. Tenho uns contatinhos aqui e ali, e assim vou levando — detalha ela, que só teve um namorado na vida: — Eu tinha 17 anos, e ele, 23. Durou dois anos. Foi legal e ao mesmo tempo ruim, porque fui traída. Dessa história, nasceu a música “Open bar”.

Do signo de Escorpião, Pabllo se define “altamente sexual”. Deu seu primeiro beijo num menino aos 13 anos e perdeu a virgindade aos 15, quando contou à mãe ser gay. Mulheres, só beijou “por curtição”, mas nunca transou com uma: — Acho lindo e escultural o corpo feminino, mas ele não me atrai nadinha. Diz que dá para ficar sem sexo por três meses, como já aconteceu. Mas transar por dinheiro não rola: — Já recebi algumas propostas indecentes. Um cara estava disposto a pagar R$ 60 mil por uma noite comigo. Não aceitei. Respeito muito a minha drag e tudo o que eu conquistei por meio dela.

A maior ofensa, no entanto, não passa por aí. Essa, Pabllo busca numa memória distante, superada: — Uma vez, na escola, me falaram que eu nunca seria alguém na vida por conta do meu jeito. Voltei para casa chorando muito, aquilo me magoou demais! Mas acreditei em mim e estou aí provando que a gente pode ser quem quiser, né, mana?!

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