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'Não sou bibelô', diz nova apresentadora do Bahia Meio Dia

'Fera' da TV Bahia, Jéssica Senra, que estreia nessa segunda-feira, promete jornalismo ‘olho no olho’, próximo do público e com opinião

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Redação iBahia

05/05/2018 às 8:30 • Atualizada em 31/08/2022 às 22:59 - há XX semanas
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A imagem da Oxum disposta no móvel da sala não está ali por acaso. As estátuas de Buda e Shiva por todos os lados também não. Muito menos os livros sobre feminismo na estante do espaço reservado à meditação. Durante três horas de conversa com o CORREIO, a jornalista Jéssica Senra, 34, 1,78m, mostrou que mistura em si a serenidade oriental, o gênio forte de uma entidade do candomblé e a inspiração dos livros de Simone Beauvoir.

Jéssica é axé, namastê e girl power em uma pessoa só. Tudo isso junto, aliado a informação jornalística, promete estar no ar nesta segunda-feira (7), na TV Bahia, quando ela estreia à frente do Bahia Meio Dia. Engana-se, porém, quem acha que vai assistir apenas uma bela mulher cumprindo o papel de apresentadora de telejornal. Aliás, o fato de ser bela para os padrões sociais será apenas um detalhe. “Bela? Eu? Bela nada! Eu sou fera também! Sou muito mais inteligente que bonita”, diz.

Foto: Marina Silva / Correio


Jéssica Senra foi contratada para ser apresentadora e editora do Bahia Meio Dia. Não aceitaria ser coadjuvante. Sempre foi assim: “Uma vez, depois de entrevistar um candidato a prefeito, ele disse que, se ganhasse a eleição, eu seria a primeira-dama. Quem disse que eu queria ser primeira-dama? Se quisesse ser alguma coisa seria prefeita”.

Então, diferente do que muitos especularam, ninguém vai ver no ar uma Jéssica travada pela forma tradicional de fazer TV: “A TV Bahia não me chamou porque eu estava incomodando na concorrência e simplesmente me tirou de lá. A TV Bahia me chamou porque eu tenho a ver com a sua forma de trabalhar”.

Mas, que forma seria essa? Para ela, a nova televisão deve ser mais próxima das pessoas. Por isso, não vai deixar de dar opinião, como fazia na Record, onde trabalhou nos últimos seis anos. Ela promete convidar o público a contribuir. “Lá atrás, a gente aprendeu que o jornalismo é distante e não se envolve com o espectador. Mas, hoje, a comunicação exige a proximidade, o olho no olho, a identificação. A notícia comum está em todo lugar”, opina. Basta um clique. “Porque, então, eu vou assistir a TV Bahia e não vou assistir ou ler um jornal na internet, no meu celular?”, indaga. “Porque tem algo ali que combina comigo. Tem algo que está sendo oferecido que tem a ver com meus valores”, conclui.

A nova apresentadora já enxerga mudanças antes mesmo de assumir o jornal. “Se você observar, Silvana e Sodake já estão fazendo um programa mais leve, mais próximo. A sociedade está em mudança e a TV Bahia, de vanguarda que é, está mudando também”. Jéssica deixa claro que não terá amarras, inclusive políticas. “Eu já cheguei perguntando: ‘tem alguma restrição?’. ‘Não! Você tem liberdade para dizer o que você quiser’, disseram. Tenho carta branca”, garante.

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Foto: Marina Silva / Correio


Estreia

A estreia dessa segunda-feira, aposta a apresentadora, será apenas o primeiro dia de um grande projeto, porque jornalismo se faz dia a dia: “Venho conversado muito sobre as mudanças que o jornalismo vem sofrendo e sobre o que eu penso a respeito da nova realidade. A gente não quer construir uma coisa da TV para o público, mas do público para a TV. Quem tem que pautar a gente é o público”.

De uns tempos para cá, a veia feminista pulsou com mais força em Jéssica. “Na verdade, sempre fui naturalmente feminista. Devo isso a minha mãe, que se separou de meu pai cedo e assumiu o comando da família”. Ao conhecer clássicos da literatura de gênero, passou a defender a igualdade de direitos entre homens e mulheres.“Quando se diz que a mulher é dócil, é porque se quer oprimi-la. Toda mulher é corajosa, forte e tem uma grande história de vida para contar”, aposta ela, que não tem vergonha de admitir que enfrenta o machismo do próprio marido em casa. “Meu marido é machista. A gente brigava porque eu não fazia o prato dele. Isso porque, antes de mim, a realidade que ele conhecia era da mulher que cuida da casa e dos filhos”, justifica.

O empoderamento se transferiu para a televisão e lá até tentaram pintar Jéssica como “a bela das manhãs”. “Isso me irritava profundamente. Bela das manhãs uma ova. Logo, me coloquei como mulher empoderada e isso mudou. Eu não sou um bibelô. As pessoas me acompanham pelo o que eu tenho a dizer”. Ela revela que sempre quis fazer jornalismo, não sensacionalismo: “Não queria pirotecnia policial. Sensacionalismo é preguiça. Negócio de botar preso em paredão não era a minha”.

Entre ser advogada, médica e apostar na carreira de modelo, Jéssica Senra ficou com o jornalismo. Muito antes de ganhar a sua primeira chance como jornalista, a mulher que promete mudar a forma de fazer TV na Bahia pensava em ser advogada criminal. “Eu era louca por aqueles filmes de julgamentos”, explica.

Comunicativa, Jéssica agora se expressa também através da fabricação de joias em seu ateliê (Foto: Marina Silva)


Empoderada

Ela fez até curso de criminologia quando morou fora do país. “Isso me deu uma base boa, um respaldo interessante para falar de crimes enquanto jornalista”. Mas, acabou desistindo de fazer direito por uma decepção pessoal com a Justiça. Aí, quis fazer medicina: “Que coisa linda o corpo humano”. Apesar de ser uma aluna “que só tirava boas notas”, não passou no vestibular para medicina.

Ao mesmo tempo, começou a fazer trabalhos como modelo: “Eu estava andando no shopping e me chamaram para ser recepcionista numa exposição, no lugar de uma das modelos. Me pagaram R$ 300 em 15 dias. Na época, era uma fortuna para mim”.

Mal sabia que essa seria a porta de entrada para o jornalismo. Jéssica começou a despertar para a TV fazendo pílulas para uma campanha publicitária. “Foi nessa época que fiz o vestibular de Medicina e perdi. Fiquei arrasada. Mas minha missão era o jornalismo. Quando a gente tem uma missão, a vida vai e te leva”, diz. Já fascinada pelas câmeras, a moça usou a excelente nota no Enem para entrar no curso de jornalismo da Faculdade de Ciência e Tecnologia (FTC).

Da TV FTC foi rapidinho para o estágio na Rádio Metrópole. Um dia Mário Kertész, dono da rádio, a colocou para fazer um teste de voz. No dia seguinte, passou a contribuir para os programas de meio-dia e de 18h. Depois, assumiu sozinha um programa de classificados. “Comecei a fazer graça com os classificados e me destaquei. Pedi para criar e apresentar um programa sobre rock nos finais de semana. Era bem divertido”, lembra.

Após um período de três anos em que morou com a mãe na Espanha, retornou de férias para Salvador e foi convidada para um teste na TV Band. Acabou contratada como repórter e apresentadora do Jornal da Manhã. Em seis meses, retornava para a Metrópole para chefiar o site: “Mário dobrou meu salário da Band e ainda botou mais um em cima para eu fazer rádio também. Pensei: ‘Tô de barona’”.

Em seis meses, a Record a convidou para ser repórter. Logo no primeiro mês, tirou férias da apresentadora do BA Record. Voltou para a reportagem e, logo depois, substituiu por 45 dias uma licença de Daniela Prata, apresentadora do Bahia no Ar, matinal de 45 minutos. Quando a colega saiu, Jéssica assumiu o programa.“Eu não tinha produção. Comecei a correr atrás de notícias do interior através das fontes que eu fiz na época da Metrópole. Além disso, passei a comentar mais e colocar minha marca, minha opinião, nas notícias”, diz.

Foto: Marina Silva / Correio


Viciada em livros, vegetariana e apaixonada por meditação

Aficionada por informação, Jéssica é consumidora quase compulsiva de livros. Foi lendo que, além de fortalecer seu lado feminista, virou vegetariana e está no caminho do veganismo. “Dizem que é a carne que dá o sabor da feijoada. O que dá o sabor é o tempero.” Por isso, Jéssica não ama apenas o buldog francês Glock e o gato Nietzsche. É vegetariana para poupar os bichos. Inclusive, não usa mais maquiagem que faz testes em animais: “As pessoas não sabem como as coisas são produzidas pela indústria. É muito sofrimento”.

Todos os dias pela manhã, ela cumpre um ritual: faz meia hora de bicicleta ergométrica, onde aproveita para ler. Depois, faz uma sequência de respiração e meditação. “O ritual diário e a meditação mudaram minha vida”. Jéssica não tem religião, bebe de todas as fontes: “Amo o candomblé e o espiritismo, gosto do budismo, conheci o hinduísmo na Índia e fui criada em uma família católica”.

Em Barcelona, fez um curso de design de joias. Mais recentemente, montou um ateliê de fabricação de peças de prata na varanda de casa. Usou várias delas durante a entrevista. Não vende, só dá de presente. “Deus é joia, o resto é bijuteria”, está escrito na parede do ateliê.

“Tudo o que a gente usa comunica o que a gente é. Quando você produz uma peça de prata dessa, isso também é uma forma de se expressar, de se comunicar. É uma forma de eu falar de mim de uma maneira que não consigo pôr em palavras”. Jéssica, na verdade, é quase uma peça de prata moldada por ela mesma. “Porque nenhuma peça dessa é perfeita, mas todas são únicas. Eu sou assim”.

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