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Coluna ValoRH: Por que não temos um Nobel? Conhecimento é Poder

Especialista compara as instituições de ensino de diferentes países

• 15/10/2013 às 9:31 • Atualizada em 28/08/2022 às 1:53 - há XX semanas

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Na última semana, temos acompanhado o anúncio dos prêmios Nobel de 2013, pela Academia Sueca de Ciências. É impossível não notar o predomínio das universidades americanas, em todas as categorias. Enquanto isso, aqui no Brasil, quem costuma assistir ao noticiário acerca das sucessivas greves e invasões de reitorias de algumas universidades, por alunos, também não pode deixar de perceber a incessante batalha pelo poder que se existe nestas instituições. Tudo parece se resumir a passeatas, bloqueios, barricadas, invasões e direito de eleição. Tudo pelo poder. Em meio a este turbilhão, a mais emblemática destas instituições, que parece mesmo ser a USP, se destaca pelo seu simbolismo, ainda que as cenas “tomada do poder” se repitam em diversas instituições de ensino federais. Coincidentemente, a USP saiu da 158ª posição para algo entre a 226ª e 250ª, uma perda de quase cem posições, na pior das hipóteses. A disputa agora travada, e cada vez mais radical, pelo poder na USP não é recente e tem evidentes raízes ideológicas e, como não poderia deixar de ser, partidárias. Não causa espanto que tal cenário não seja propriamente estimulador para o desenvolvimento do saber pleno e da busca incessante pelo conhecimento. Afinal, é muito mais interessante lutar pelo “poder” diretamente do que a dedicação de horas e horas ao estudo solitário e anônimo, no mais das vezes enfadonho, por anos a fio. Para quem já teve a oportunidade de conhecer alguma universidade de vanguarda americana, causa um primeiro impacto a atmosfera muito menos carregada que se encontra ali, bem como as mensagens diretas indiretas e subliminares que podem ali ser encontradas. No caso de Stanford, por exemplo, que abriga e já abrigou dezenas de prêmios Nobel, não se vê barricadas, piquetes e disputas, mas um ambiente que convida a buscar o aprimoramento. Todos ali parecem realmente empenhados em estudar e aprender e não em tomar a Reitoria. E, mesmo sendo uma instituição privada, pode-se constatar que trata-se de uma estrutura dedicada ao saber e conhecimento, aberta a todos que queiram ali pertencer. Não é por acaso que apenas 17% da receita da Universidade provém dos estudantes pagantes porque, ali, há também inúmeros bolsistas, provenientes de todos os cantos do planeta. A receita oriunda de ex-alunos, benfeitores, fundos de investimento em pesquisa e outros doadores constitui a maior parte das contribuições. Tais benfeitores estão por toda a parte, como revelam as paredes da Universidade.
Retornando ao nosso mundo, parece que vivemos uma inversão radical de valores. Estudantes que nada ainda sabem julgam-se no direito de escolher o Reitor da Universidade. Na Universidade exemplar, novamente laureada com mais um prêmio Nobel, de física, aqueles que desfrutam de sucesso em suas carreiras, após anos de labuta fazem doações milionárias para a Universidade que os projetou. Ninguém ali pensa em tomar o poder. O único poder que dali emana não é o político, mas o do conhecimento. É a projeção do conhecimento que reverbera na sociedade e realimenta o ciclo virtuoso de dotações e investimentos na aquisição de novos conhecimentos, o único e verdadeiro poder e que faz a Universidade crescer. Em nossa seara, trava-se uma disputa pelo poder em cada esquina. Alguns, evidentemente, conseguirão conquistar este poder e desfrutarão de suas benesses mas, até mesmo por uma questão de matemática, a grande maioria, quase todos, serão apenas um número perdido na massa descontente, que acabará projetando algum líder, que eventualmente conquistará sua parcela de poder, para em seguida galgar novos passos rumo a aquilo que se julga ser o paraíso do poder o Brasil. Enquanto isto, no caso das Universidades, notadamente nas outrora públicas e exemplares, enfrentamos não apenas a simbólica perda de pontuação no ranking global, com todo o desprestígio que tal acontecimento pode trazer, mas também a queda real na qualidade do ensino e do aprendizado. Ao final de um ciclo universitário, quase nada se aprende, visto que boa parte do tempo de estudo foi consumido com questões de ordem, do poder. A comparação entre instituições, aqui tomadas como exemplos, pretende apenas suscitar a discussão sobre o significado do poder para duas comunidades distintas em países distintos. Para a instituição mais bem rankeada, o que importa é estar perto da fonte de conhecimento, reter e cooptar os melhores ao nível global, enfrentando o longo, muitas vezes pouco glamouroso, anônimo e difícil desafio do aprendizado, empreendendo pequisas de ponta. Na outra, tudo gira em torno da disputa sobre quem será o próximo reitor, o poder imediato. Na total e completa inversão de valores, que se reflete país afora, os estudantes fazem greve, algo que causa espanto até mesmo aos nossos antigos colonizadores. Como pode afinal uma pessoa fazer greve contra si mesma? Enfim, empreendemos o último estágio da autossabotagem. Parar de estudar para se dedicar a assuntos mundanos é de fato um ato de autossabotagem. Parece que temos que voltar ao óbvio e lembrar que Conhecimento é Poder. Somente teremos acesso ao poder verdadeiro ou significativo, ou até mesmo o controle sobre nossas vidas, através do conhecimento adquirido. Isto, pelo menos, para a grande maioria, visto que poucos de fato reúnem condições de galgar o poder político. Nunca houve antes, aqui mesmo no Brasil, tantas oportunidades para se aprender, dentro ou fora da Universidade. Nunca tanta informação de alto nível ficou tão disponível. Talvez ainda não possamos ter o mesmo nível de vanguarda em pesquisas que o pessoal de Stanford, mas nada nos impede que cheguemos muito perto disto. É hora de investir no aprimoramento pessoal, estudo, redução das fronteiras do conhecimento, algo que deve ocorrer aqui dentro e não lá fora, em oposição ao desenvolvimento da carreira política de alguns. De falsos profetas, estamos cheios. O que precisamos mesmo são dos inúmeros pesquisadores anônimos. Aí sim, quem sabe um deles não ganha um Nobel ?

Sergio Sampaio E-mail: [email protected] Consultor de TI da ValoRH. Engenheiro, empresário da área de Tecnologia da Informação, proprietário da IP10 Tecnologia.

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