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Uma das obras presentes na exposição do artista visual piauiense Willyams Martins, 53 anos, que descolou imagens existentes nas paredes da penitenciária Lemos Britto |
Na série Peles Grafitadas, Willyams Martins, 53 anos, remove e desloca imagens impressas nas superfícies de murais, principalmente em Salvador, e as expõe em museus e galerias.
Veja também:Acervo artístico-cultural das igrejas atrai atenção de turistas em SalvadorAbertura de exposição sobre Salvador e Paris reúne artistas renomados e lota galeria A partir de sexta (02), na Roberto Alban Galeria, em Ondina, o público poderá visitar seu novo trabalho, batizado de Peles do Cárcere, que integra a mesma pesquisa. A inauguração será na quinta-feira (1º), às 20h. São 30 obras inéditas, entre desenhos, pinturas, rabiscos e colagens, que vêm das paredes das celas do presídio Lemos Brito. As obras representam as impressões subjetivas dos presos, gravadas durante anos. A técnica de Martins utiliza tecido voille e resina de poliéster aplicado sobre a imagem para retirar a ‘pele’ das superfíceis. Para conhecer e definir quais expressões seriam usadas no trabalho desenvolvido, o artista realizou pesquisa no local e contou com a ajuda dos detentos. Nesse processo, Martins, piauiense radicado em Salvador desde os anos 80, afirma-se surpreso com a pouca quantidade de manifestações que mostravam revolta: "Vi mais menções religiosas e rabiscos de palavras como liberdade e justiça".
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Willyams Martins apresenta 30 obras inéditas |
ChoqueA pesquisa para a realização do trabalho durou aproximadamente um ano e houve momentos difíceis, segundo o artista. Depois de uma burocracia trabalhosa, veio o choque com as condições em que vivem os detentos: "Me senti frustrado e desesperançoso com a pouca possibilidade de mudança que o meu trabalho poderia trazer para a vida dos presos". Apesar disso, ele continuou com seu projeto e diz que sua intenção em relação aos registros feitos pelos detentos da Lemos Brito é "trazer esse cotidiano para um local livre, transformando isso em um mundo estético, reinventando e criando algo para eles através da arte". Ele também conviveu com alguns internos, pois "não pretendia fazer o trabalho de cima para baixo". Desenvolveu, então, uma interação, trocando confidências e trazendo coisas do dia a dia, como as notícias das manifestações que aconteceram no país. "Foi bastante enriquecedor. Chegou um ponto em que eles fizeram o trabalho comigo, mas não foram muitos que participaram, só três ou quatro". O trabalho de Martins causa polêmica, porque sua técnica de remover parte de imagens das superfícies murais intervém na expressão de outros. Houve discussões na internet sobre direitos autorais e o artista foi chamado até de "artista prático" e "ladrão de grafites".
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Os desenhos feitos pelos presos trazem conotações poéticas, filosóficas e abstratas sobre a vida dentro e fora da cadeia |
Ele se defende: "Tentei procurar a autoria dos grafites, mas os artistas não quiseram dialogar comigo". Fazer barulho não é novidade para Willyams Martins, mestre em artes visuais pela Ufba. Nos anos 80, com o nome Lili Martins, ele foi vocalista da banda punk Dever de Classe.
Peles do CárcereLocal - Roberto Alban Galeria (Ondina) Abertura: 1º de agosto, às 20h; visitação: de segunda a sexta, das 10h às 19h, sábado, das 10h às 13h. Até 31 de agosto. Entrada franca
Matéria original: Correio 24 horas Desenhos das paredes de penitenciária de Salvador inspiram trabalho de artista