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'A Evolução do Homem', de autoria de Jenner Augusto, foi restaurado após um trabalho de cinco meses |
Depois de quase seis meses de trabalho, a Bahia vai receber hoje, restauradas, duas obras de arte fundamentais para o patrimônio histórico e cultural do estado: dois afrescos,ambos chamados A Evolução do Homem, dos artistas plásticos Jenner Augusto (1924-2003) e Carlos Magano (1921-1983). As pinturas serão apresentadas hoje, às 14h30, numa cerimônia de entrega simbólica na Escola Parque, no bairro de Caixa D'Água, onde estão instaladas.
Veja também:Artista performático Jayme Fygura abre 'O Sarcófago' para visitaçãoAs obras, pintadas entre os anos de 1953 e 1954, integram o projeto do complexo educacional idealizado pelo baiano Anísio Teixeira (1900-1971), um dos educadores brasileiros mais importantes da história."Esses afrescos mostram a importância vanguardista de Anísio Teixeira com a introdução de uma arquitetura moderna.Tanto é que a escola se tornou patrimônio histórico em 1981”, ressalta Frederico Mendonça, diretor-geral do Instituto do Patrimônio Artístico e Cultural (Ipac).
AfrescosO restaurador José Dirson Argolo, responsável pela recuperação dos trabalhos,os considera muito importantes porque são os únicos exemplares de afresco na Bahia e, provavelmente, no Nordeste. Os afrescos são uma técnica milenar muito frequente entre gregos e romanos e que teve seu apogeu em Leonardo da Vinci (1452-1519). Os desenhos, normalmente associados a murais, são feitos sobre argamassa ou gesso."Aqui na Bahia, antes das obras de Jenner e de Magano,só havia um afresco, criado no século XVII, na capelinha de Nossa Senhora das Mercês, no Museu de Arte Sacra. Na ver um fragmento desse afresco", ressalta José Dirson. Os painéis que serão entregues hoje, exemplares do modernismo,revolucionaram a arte baiana porque Salvador, até a década de 50, estava impregnada de arte clássica."Salvador tem uma tradição de barroco e neoclássico. Naquela época,a sociedade baiana era conservadora e seus artistas também. Em termos de concepção estética, a Bahia estava presa à escola acadêmica", diz José Dirson.
Vandalismo A restauração mobilizou 12 pessoas, que usaram tinta aquarela importada para o processo. "Precisamos usar tinta de alta qualidade que, num próximo restauro,possa ser removida com facilidade", registra o restaurador.As obras haviam sido danificadas após atos recorrentes de vandalismo, com o uso de objetos pontiagudos como pregos e facas. Para reconstituir as partes danificadas, foram usados cal e areia de rio, mesmo material usado originalmente pelos autores.Os dois afrescos apresentados hoje representam a primeira etapa do processo de restauração de sete obras.Além dessas duas, serão entregues,até o final do ano, outros cinco painéis: Jogos Infantis,de Carlos Bastos(1925-2004); Panorâmica de Salvador e A Evolução do Trabalho, ambos de Carybé (1911-1997); Festa de São João,de Djanira Motta da Silva (1914-1979); e O Ofício do Homem,de Maria Célia Amado (1921-1988). O investimento na recuperação dos sete painéis somará R$ 755 mil. Para evitar que o estado volte a gastar uma quantia tão expressiva em novas restaurações, serão tomadas medidas como a diminuição de incidência da luz solar, correção de goteiras e barreiras para dificultar atos de vandalismo. Também haverá uma campanha de conscientização, voltada principalmente entre estudantes que frequentam a Escola Parque. A Secult aproveita o mesmo evento para lançar a coleção Conversando sobre o Patrimônio, com cinco volumes, que compila palestras com especialistas, realizadas em 2011, sobre os bens culturais e imateriais da Bahia.
* Matéria publicada no jornal Correio*