Do iBahia, por Thatiana Seixas
Após a realização de um novo projeto expográfico, o Museu Ilê Ohum Lailai, conhecido memorial do Terreiro Ilê Axé Opô Afojonjá, reabre nesta quarta-feira (16).
O acervo é composto por mais de 750 peças da história do Terreiro, entre elas insígnias de Orixás, utensílios usados no preparo das oferendas aos Orixás, plantas litúrgicas e terapêuticas, instrumentos musicais e documentos do Ilê Axé Opô Afonjá, todos eles ligados ao culto, além dos objetos de culto das Iyalorixás da casa, em especial, de Mãe Stella.
O projeto é criação de Mãe Stella juntamente com a psicóloga Vera Felicidade, na qual obtiveram inspiração na Nigéria. Mãe Stella conta que um dos museus tinha uma proposta simples, e contava a história da cidade através de objetos do dia a dia. Lembrando assim, de todo o material que possuíam, das roupas de Mãe Aninha e dos objetos de Mãe Senhora. Começaram então, a criar o Lailai a partir desta ideia: mostrar a evolução do candomblé a partir de nossa própria história. O nome Ilê Ohum Lailai significa Casa das Coisas Antigas, em Yorubá.
ILÊ AXÉ OPÔ AFONJÁ
O Ilê Axé Opô Afonja foi fundado em 1910 por Eugênia Anna dos Santos, Mãe Aninha, responsável, em 1937, pela liberação do culto afro brasileiro, muito perseguido pela polícia brasileira no início do século XX. Em 1984 o terreiro foi considerado uma entidade pública. Em 2000, foi tombado pelo IPHAN, tornando-se patrimônio histórico e artístico nacional.
Ao todo, cinco Iyalorixás estiveram à frente do Ilê Axé, cada uma, ao seu modo, perpetuou a religião tradicional dos Yorubá e Benin, ao mesmo tempo em que introduziram mudanças. Depois de Mãe Aninha, foram Iyás da Casa de Culto Mãe Bada, Mãe Senhora, Mãe Ondina e, atualmente, Maria Stella de Azevedo Santos, Mãe Stella de Oxossi, que assumiu o posto supremo da liderança religiosa do Opô Afonjá em 1976.
ILÊ OHUM LAILAI
Criado em 1982, o Museu Ilê Ohum Lailai acompanha a evolução do Candomblé no Brasil através do registro de uma das suas principais casas de culto, o Ilê Axé Opô Afonjá. Em 2000, o Lailai foi reformado e reaberto em uma nova sede, com apoio da Fundação Palmares. Passados onze anos, a Secretaria de Cultura do Estado da Bahia, através da Diretoria de Museus do Instituto do Patrimônio Artístico e Cultural da Bahia (DIMUS/ IPAC), realiza uma nova reforma, requalificando estruturalmente seu interior, readequando o espaço físico e criando uma nova concepção expográfica.
O Lailai é o primeiro museu criado dentro de um terreiro de candomblé. Sua fundação teve como objetivo a proteção, difusão e dinamização do patrimônio e do acervo do Ilê Axé Opô Afonjá, constituindo um espaço vivo, onde são preservadas a memória e as tradições seculares da casa de culto. Desta forma, através de sua própria história, o Ilê Axé abre a possibilidade de acesso à informação e pesquisa sobre a religião afro-brasileira a estudantes e estudiosos da Bahia, do Brasil e de todo o mundo, tornando-se também um espaço privilegiado para educadores explorarem conteúdos, através da lei que estabeleceu a obrigatoriedade do ensino de história e cultura afro-brasileira e africana na educação básica.
MÃE STELLA
Filha de uma família de professores, com um vida dedicada à religião, Mãe Stella é enfermeira aposentada (a única negra formada em sua turma, na Universidade Federal da Bahia) e responsável por implementar diversas iniciativas voltadas ao social dento do terreiro. A mãe de santo se preocupou com a criação de uma escola fundamental, uma biblioteca e um espaço para oficinas no Ilê Axé Opô Afonjá; além do próprio museu e de outras atividades culturais que fazem parte das programações realizadas por lá. A vontade da Iyalorixá do Afonjá de contar a história e a evolução dos procedimentos de culto ao longo dos anos resultou na possibilidade de oferecer aos visitantes um exercício de revisitar o passado, sem que para isso precisem retirar os olhos dos dias atuais.
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