Depois de tropeçar em algum adereço solto no sambódromo (uma fita dourada, um casaco do Pierrot), Pablo di Giulio decidiu posicionar sua máquina fotográfica no centro da festa. Menos interessado no samba, registrou pessoas. O envolvimento delas com o espetáculo, a forma como representavam seus personagens. Por seis anos, fragmentou o desfile das escolas de samba através de rostos anônimos – que, naquele momento, se permitiam existir apenas para a ocasião.
A exposição “Retratos Calados”, que encerra sua temporada em Salvador neste fim de semana, é um pequeno exemplar do projeto desenvolvido pelo fotógrafo. Com apenas 20 imagens expostas, a mostra pode até soar como uma restrição quantitativa, mas é o suficiente para indicar a habilidade com que Pablo incorporou a condição de retratista ao longo dos anos em que frequentou o sambódromo carioca. “Escolhi o retrato porque ele proporciona uma micro-situação, expõe o ser humano em sua plenitude”, revela.
Micro-situação e plenitude, em muitos casos, passam distante desse estilo de fotografia no qual fotógrafo e fotografado são colocados em distância mínima. O retrato, quase sempre banalizado, ordena um profissional astuto, que saiba comunicar em close, que recorte dramaticamente o momento. Do contrário, os sujeitos (fotógrafo e fotografado) correm o risco de parecerem manequins de fibra plástica, como que posicionados em vitrines. Mas, a exemplo de Otto Stupakoff (na fotografia de moda), Dorothea Lange e Walker Evans (na fotografia documental), Pablo di Giulio necessita comunicar, e, ao recortar os rotos na multidão da festa máxima do povo brasileiro, coloca a situação no interior do seu discurso.
“Meus temas giram sempre em torno do corpo, do ser-humano em transição. Isso vai ocorrendo instintivamente, não é planejado. Só quando finalizo um trabalho é que me dou conta de que este é um tema recorrente”. O discurso de Pablo não é tese, nem fórmula. Mas é comunicado, construído através da sucessão de fotografias executadas. Ao aproximar a matéria (retrato) do seu discurso, Pablo conseguiu fixar nos personagens do carnaval carioca a lógica que norteia o seu trabalho – e o que poderia ser apenas um recorte de festa, ganha dimensão e intensidade. O retratista, aqui, consegue equiparar imagem e discurso.
A EXPOSIÇÃO: Retratos Calados, por Pablo Di Giulio. Galeria do Olhar (Trapiche Adelaide - Praça do Tupinambás, 2 - Av. Contorno). Das 14h às 22h. Entrada Gratuita
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