|
---|
Conhecer a mente e o corpo por inteiro, aprimorar os sentidos dialogando com movimentos constantes, são essências de uma vida dedicada à dança. A baiana Lilian Pereira, 52 anos, uma das principais bailarinas do Balé do Teatro Castro Alves (BTCA), conta que o segredo para o sucesso da carreira está na determinação. A artista que já encantou plateias em importantes palcos internacionais - Praga, República Tcheca, Volksburg, New York e Israel -, conversou com o iBahia e abriu as cortinas da sua vida e carreira. Quando menina Lilian dava trabalho aos pais e a irmã, pois, cheia de energia, não parava de se movimentar pela casa. “Minha irmã mais velha se chateava comigo porque toda vez que ela saia do quarto eu me batia com ela, dançando pelos corredores”, recorda sorrindo. Quando completou sete anos, a mãe decidiu matriculá-la no Balé da Ebateca - escola que abriu as oportunidades para a garota conhecer o mundo e ter a certeza de que o futuro dela estava mesmo na arte. A Ebateca possuía um corpo de baile clássico e por isso o primeiro espetáculo da jovem bailarina foi “O Quebra-Nozes”, quando ela tinha apenas nove anos; depois dançou “O Lago dos Cisnes”, “Romeu e Julieta” e outros balés de repertório, como são conhecidos no meio. Um divisor de águas foi o surgimento do Ballet Brasileiro da Bahia (BBB), ministrado pelo bailarino Carlos Morais. Lilian conta que viajou com o BBB do Amazonas até o Rio Grande do Sul apresentando coreografias do folclore nordestino, com jeito baiano, que fizeram sucesso em todo o país.
— “Quando as cortinas se abrem, não importa onde eu esteja, a emoção é sempre a mesma” |
Em janeiro de 1979, a escola de balé abriu inscrições para uma seleção de vagas em uma importante companhia de dança em Londres. Lilian foi uma das escolhidas e com apenas 20 anos abandonou a faculdade de Dança e a de Administração para morar na Inglaterra, onde ficou por dois anos estudando inglês e dança. “Em Londres eu percebi que o meu futuro estava no balé, antes disso, a dança era só uma paixão porque eu não acreditava que era possível sobreviver com algo que eu considerava apenas um hobby”, conta.
Balé na Bahia - No dia primeiro de abril de 1981, a bailarina soube que estava acontecendo uma audição para formação, pela primeira vez, de um grupo profissional de balé na Bahia. Ela decidiu voltar para o Brasil já com o marido e a filha, para tentar uma vaga. Dos cem concorrentes apenas quatro foram aprovados, entre eles Lílian que comemorou a novidade de ser uma funcionária pública concursada. Já a relação dela com o marido não ficou nada bem depois que voltaram para o país. A rotina corrida de bailarina profissional a impedia que fosse visitá-lo em Curitiba, onde ele morava.
Carreira X Família - A artista explica a dificuldade de manter uma relação e dar atenção à família com uma profissão que lhe toma tanto tempo e energia. “Eu preciso viajar muito, inclusive em datas comemorativas. Não é fácil para o marido aceitar que no aniversário de casamento ou bodas de ouro eu esteja dançando fora. É uma vida diferente da convencional”, avalia.
Corpo são, mente sã - Atualmente com cerca de 30 anos de carreira, Lílian continua com todo o pique fazendo apresentações com o BTCA, que também comemora seus 30 anos de fundação em 2011. O corpo é o de uma garota de 20 anos e deixa qualquer um boquiaberto quando ela revela a idade. Para manter a forma ela segue uma rotina dura de exercícios. “Toda manhã vou para academia fazer musculação, pela tarde tenho os ensaios das coreografias que continuam sendo dançadas e daquelas que estão sendo montadas. Faço também alongamento no Pilates, exercícios de canto e aulas de interpretação porque cada vez mais a dança se une ao teatro”. Hoje a bailarina está se preparando para o espetáculo “Pedro e o Lobo” que estreia em junho no TCA. A apresentação, destinada ao público infanto-juvenil, acontece em parceria com a Orquestra Sinfônica da Bahia (OSBA). “É a primeira vez que dançamos para um público infantil. A historinha musical e educativa é muito interessante porque compara a todo o momento os instrumentos com animais” explica. Lilian revela que sente falta da presença do público baiano nos espetáculos. “O balé só não é conhecido dos baianos”. Ela acredita que milhares de grandes artistas baianos não são valorizados pelos conterrâneos porque não estão na mídia. “Não estou me queixando, apenas acho que poderíamos consumir os nossos valores sem precisar ir para fora. Acho que os baianos estão acostumados com coisas de graça, nas ruas como a capoeira e as festas de largo, mas é importante pegar o jornal e olhar as programações de teatros”.