Mudança do Garcia:bairro vive Carnaval bem antes da festa começar

Bruna Meireles acompanha a folia na porta de sua casa

A Mudança do Garcia leva para Avenida a irreverência dos seus protestos e move uma multidão todos os anos. Desde a saída do bairro onde nasceu, o bloco arrasta milhares de pessoas que curtem um Carnaval mais tradicional e se mantém longe da dinheirama que rola nos famosos blocos e camarotes. Só que essa farra toda não acontece apenas na segunda-feira da folia momesca. A Mudança começa a 'pipocar' no Garcia bem antes.

"Acho que um mês antes a galera começa a se falar. Com uma semana antes já fica tudo organizado, preparado, para o Carnaval mesmo", conta Bruna Meireles, que tem 31 anos e cresceu acompanhando a Mudança do Garcia. "Tudo fica bastante agitado, muito movimento, muita gente de todos os bairros. As pessoas que sabem que a gente mora aqui vêm para cá para visitar. É o período que a galera se encontra mesmo. Preparo logo o feijão".

A festa no Garcia começa cedo. Se o circuito começa a ver atrações no final da manhã, a galera já aproveita bastante nos dias que antecedem a saída do bloco. Nesta segunda-feira (3), por exemplo, o bairro já estava bem movimentado pela manhã, sendo que a saída estava prevista para às 15h30.

Para seu Tonga Santana, de 65 anos, a Mudança deste ano uniu mais as pessoas. "Participo há muitos anos e a de hoje está muito mais característica, com um grupo mais integrado, fazendo a defesa de uma série de direitos que a população tem. Eu acredito que a Mudança é uma luta contra o domínio capitalista dentro do próprio Carnaval. Eu acredito que a cada ano a Mudança do Garcia cria condições para a gente resistir".

Tonga Santana, 65 anos: "Participo (da Mudança do Garcia) há muitos anos e a de hoje está muito mais característica"

Nas sacadas dos apartamentos e nas portas de suas casas, famílias confraternizam durante a passagem do bloco que nasceu entre os anos 20 e 50. O Carnaval do bloco Mudança do Garcia se tornou um dos mais democráticos da festa em Salvador e os comerciantes aproveitam para faturar nesta época. Mas segundo o dono de bar Edson Ribeiro, de 69 anos, não é bem assim. Ele diz que o trabalho é dobrado e o lucro não é tão grande assim, mas o que vale é a festa. "É muito divertido. Um mês antes a gente começa a organizar, compra mercadoria. Uma semana é só para fazer o balcão, a estrutura de banheiro", explica. Veja galeria de fotos