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Os reclusos do Exame Nacional do Ensino Médio

Para 3 mil alunos baianos, primeiro dia do exame inclui 6h de espera.

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18/09/2013 às 15:19 • Atualizada em 27/08/2022 às 17:09 - há XX semanas
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Além de controlar o tempo, lembrar do conteúdo, manter a concentração e responder 90, questões, cerca de três mil candidatos baianos terão uma maratona dobrada no primeiro dia do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) desse ano. Para os estudantes de religiões como adventistas do sétimo dia e batistas, entre outras, sábado, dia 26 de outubro de 2013, como todos os outros, é um dia sagrado que deve ser reservado para a oração e descanso, como teria feito Deus após criar o universo.Para conciliar exame e religião, as quatro horas e 30 minutos de prova se transformam em dez horas e 30 minutos para os sabatistas. Como os demais alunos, eles devem entrar nos locais de prova até as 13h —, mas aguardam em uma sala reservada até as 19h, depois do pôr do sol, para finalmente começar a responder a prova. Sem acesso a aparelhos eletrônicos, livros (Bíblia inclusa) ou manuais, os “guardadores de sábado por motivos religiosos”, como são chamados pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) também não podem nem conversar.
“A gente fica pensando na vida. Uns até dormem na cadeira, mas eu não consigo”, contou Denise Santos, 17, estudante do 3º ano do Colégio Adventista sobre a experiência no Enem 2012.
O estudante João Góes, 17, também fez a prova em 2012 e o enclausuramento não foi pior porque interagiu com os colegas. “Eles botaram a Bíblia em um saquinho lacrado. No começo estava estressante, ninguém conversava, mas depois todo mundo começou a interagir e ficou melhor”, contou ele, também aluno do Adventista, que pretende cursar Engenharia Elétrica. DESGASTE - “No ano passado, aproximadamente três mil adventistas fizeram o Enem em todo o estado”, afirmou o diretor da Associação de Escolas Adventistas da Bahia, Valdiael Melo. Em Salvador, cerca de mil sabatistas fizeram a prova em 2012, ainda segundo ele. No entanto, embora tenha divulgado as estatísticas nacionais, o Inep não confirmou os dados regionais. O órgão informou apenas que em todo o Brasil, 90.925 sabatistas se inscreveram no exame e solicitaram, no ato de inscrição, esse atendimento específico.
Foi o que fez Harley Alves, 17. “A gente conquistou o direito de fazer a prova nesse esquema, mas ainda está muito longe do que seria o ideal. O desgaste é muito grande”, afirmou.
Assim como a maioria dos adventistas, para Harley o maior impacto da espera vem no segundo dia de prova. “No domingo, são as duas provas mais cansativas, Matemática e Redação. A gente só consegue dormir meia-noite”.
A solução encontrada pelo estudante Douglas Miranda é dormir antes da prova de sábado. “Se não tiver ninguém para conversar, dormir o que não vamos dormir de noite é uma boa”, brincou.
Apesar de os cartões de convocação que indicam os locais da prova ainda não terem sido enviados pelo Inep, a assessoria do órgão informou que os sabatistas não têm uma escola reservada. Ainda que reclusos em salas específicas, eles ficam nos mesmos locais de prova que outros candidatos. No ano passado, o local escolhido foi o campus de Ondina Ufba.
CONFORTO - Para o pastor Valdiael, os alunos sabatistas deveriam ser deixados mais à vontade durante a espera. “Antes eles podia morar, cantar. Agente queria ter um pouco mais de conforto, até a Bíblia foi recolhida”.
A hipótese de entrar com uma ação para que o sistema da prova seja modificado e o sábado não faça mais parte do Enem ainda é considerada. “No momento, estamos acomodados, mas não descartamos”, pontuou Valdiael.
Para a maioria, a solução seria igualar o Enem ao método de prova dos vestibulares da Uneb, Ufba e Uefs, com provas no domingo e segunda. “A maioria das universidades hoje é pelo Enem. Não tem como não fazer”, afirmou o estudante sabatista João Góes.
Durante as seis horas de espera, o candidato pode levar apenas alimentos para a hora do lanche. A orientadora e vice-diretora do Colégio Adventista, Telma Melo, avalia que o tempo de reclusão implica em mais nervosismo para os alunos sabatistas, o que deixa o organismo mais propício a um mal-estar.
SÁBADO - Para os praticantes da religião adventista, estudar em colégio adventista é a melhor maneira de evitar os compromissos que geralmente as escolas possuem aos sábados. As aulas extras e compensações acontecem no turno oposto da aula regular e os aulões preparatórios são realizados aos domingos.
Mas o que eles fazem no sábado? “A gente não dorme o dia todo, é um dia para se dedicar a Deus”, resumiu Denise. “As pessoas sempre chegam com essas perguntas, muita gente pensa que nosso sábado é uma penitência, mas não é nada disso”, respondeu Harley. Segundo ele, o dia é reservado para passar com os amigos, a família e ir à igreja.
A estudante Talita Queiroz, 17, explica que não existe uma determinação fixa sobre o que fazer no sábado, mas o objetivo é fazer um dia diferente do resto da semana.
“Agente não tem tempo para ajudar o próximo, ir a um abrigo, por exemplo. É um dia de se equilibrar do estresse e procurar a paz”, explicou.

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