Quem pode, pode
Pode parecer meio populista, pois acabei de voltar da Bahia, onde fui mais bem-tratado do que carne nova no velho Bataclan - o cabaré dos coronéis do cacau, sim, aquele de Ilhéus, centro de noitadas e dos bafafás de Gabriela, Cravo e Canela, livro de Jorge Amado que deu na novela de Walter George Durst (Globo, 1975) e no filme de Bruno Barreto. Entre na campanha e ajude Salvador a sediar a abertura da Copa 2014 Pode parecer muito cordial da minha parte, minha querida Sônia Braga, você que me fez recorrer ao pecaminoso vício solitário quando subiu no telhado, a cena mais inesquecível da teledramaturgia brasileira de todos os tempos. Pode parecer que estou recompensando os bons tratos, como se houvesse no mundo moeda ou agrado que pague os dengos da baianidade. Pode parecer populista, cordial, paga-pau, puxa-saco ou xeleléu, pode parecer o diabo a quatro, mas não poderia deixar de entrar de novo na defesa dessa causa. E repare que sou um habitante, por quase duas décadas, da cidade de São Paulo, terra que prezo e a quem muito agradeço a bênçao e a generosidade. Poder pode tudo, amigo, só não posso deixar de puxar o acarajé para o fogo mais aceso e merecido. Abertura da Copa de 2014 tem que ser na Bahia e pronto. Não apenas por razões técnicas, o que já seria suficiente, uma vez que Salvador largou na dianteira em relação à capital paulistana. Pode por razões multidisciplinares. A começar tem as mulheres mais dengosas e aprumadas, tem a liga mais estreita com a África do último mundial, tem uma vista que bate até o Rio - a da Baía de Todos os Santos -, tem o Fábio Lago, ator e cabra bom de Ilhéus como o Bataclan lá da cumeeira dessa crônica, tem o Mercado do Peixe para os gringos, assim como recomenda o mesmo Fábio, tomarem a saideira das saideiras das saideiras na alvorada do Rio Vermelho. Podeixar, conselho de velhinhos da Fifa, que o Brown rege a orquestra da abertura, o homem tem a manha dos grandes espetáculos populares. Goste ou desgoste, é um gênio da raça e do gênero. Poderio é o que não falta. O grande banquete inaugural, por exemplo, pode ter um ajuntamento de grandes cozinheiros. Chama a turma lá do fogão do Porto do Moreira e todas as quituteiras, famosas e anônimas, Dadás e a legião de herdeiras de Dinha. Poder a Bahia pode. E muito. Aqui não me deixa mentir o velho poeta Gregório de Mattos. Podicrê, amizade, não estou apenas fazendo média, que todos os orixás estejam nessa causa, afinal de contas, como dizia o filósofo, o bigode de piaçava alemã, só acredito nos deuses que dançam. Bahia é Brasil, Bahia é principalmente Nordeste na abertura da Copa. Não mando porra nenhuma nessa história, mas tenho fé e assino embaixo. Xico Sá é jornalista, autor de Chabadabadá - Aventuras e Desventuras do Macho Perdido e da Fêmea que se Acha ([email protected]). Coluna publicada na edição impressa do jornal Correio* no dia 9 de fevereiro 2011Veja também:
Leia também:
AUTOR
AUTOR
Participe do canal
no Whatsapp e receba notícias em primeira mão!
Acesse a comunidade