BaVi na final? - por Jony Torres

Hoje os corredores no trabalho vão ficar mais curtos
para o torcedor do Vitória e longos demais para os tricolores. Da mesma
forma, a parada para a resenha na esquina da rua vai parecer rápida
para o primeiro e uma eternidade para o segundo, se ele parar, né? Esta
percepção alterada de espaço e tempo não é ação de nenhuma substância
ilegal: é só resultado das emoções experimentadas desde a tarde de ontem
em Pituaçu, apelidado de Pituaço. Bastaram dois minutos para o virtual
favoritismo do Vitória se transformar em supremacia no placar, festa em
vermelho e preto nas arquibancadas e bronca na área tricolor.

A segunda-feira após um Ba-Vi é, desde os tempos
do Campo da Graça, dia oficial da zoação na Terra Encantada da
Boleiragem Baiana e, antes que o próximo clássico venha mudar a direção
das gozações, o rubro-negro pode zoar à vontade, sempre respeitando o
sujeito homem tricolor. Vale até parodiar o grito da torcida rival como
fez ontem ao lembrar a música que marcou a subida do Esquadrão à
primeira divisão.

Depois da bela cobrança do Geovanni, o
Vitória poderia ter matado a fatura se não fosse o excesso de erros no
chamado último passe, aquele que precisa sair preciso para deixar o
companheiro na cara do gol. Alguém também precisa dar um toque ao Nikão,
que nem tirou o cheiro de leite das divisões de base e já esqueceu como
o futebol é coletivo. Não adianta pegar toda bola que aparecer na
frente e matar no ataque com chutes pretensiosos.

A coisa só não foi pior para o Bahia porque o
juiz pipocou ao não expulsar o Titi ainda no 1º tempo pelo pisão dado em
Nikão, mostrando que os homens de preto de fora erram tanto quanto os
daqui. Se bem que, depois que ficou com um a mais no 2º tempo, o Vitória
resolveu tocar a bola de um lado pro outro, sem objetividade, e o Bahia
teve seus melhores lances e o Souza até fez gol, impedido.

Agora aos jogadores do Bahia e, se possível, ao
seu torcedor, só resta esquecer a eliminação com goleada na Copa do
Brasil, a derrota para o Vitória, e a dependência do time dos raros bons
momentos do Souza e recentemente do Ramon. É cuca fresca, suportar a
gozação e esperar pelo próximo domingo.

Tudo ainda pode acontecer e vencer o maior rival
por dois gols de diferença não é nada fora do normal, mas tá dando a
maior pinta de que vai dar mesmo a versão genérica do Ba-Vi na final do
campeonato. O Bahia de Feira mostrou porque é dono da melhor campanha
entre os times do interior do estado e está bem perto de chegar à grande
decisão após ter ampliado a vantagem vencendo o fraco time do Serrano,
em Vitória da Conquista. Agora, como preparativo para a final que se
anuncia e ainda precisa ser confirmada em campo, o Barradão e o Joia da
Princesa devem ser lotados no próximo domingo pelos donos da casa, o que
infelizmente ainda não.

Jony Torres é apresentador da TV Bahia. Coluna publicada na edição impressa do jornal Correio* do dia 25 de abril de 2011