A Copa do Brasil é um rasga-saco de surpresas. A acomodação de quem vive o Vitória foi daquelas amargas. Rebaixado na Série A, eliminado na 1ª fase da Copa do Brasil e impotente. Os refletores foram apagados pouco antes da meia-noite. As arquibancadas já estavam frias e silenciosas. No vestiário, visita de diretores. O último a chegar foi o capitão, após falar com torcedores e dar entrevistas no campo. O trânsito estava engarrafado no sentido da Paralela e livre na BR-324. No estacionamento, rapidamente, resenha aqui e ali, inclusive com os jogadores do Botafogo-PB.
Parecia um dia comum. Há muitas maneiras de ver o futebol. Tem aquela pragmática de enxergar o resultado, a tática, o funcionamento do coletivo. São os racionais e objetivos, bem práticos quando a balança opõe resultado e espetáculo. Outros olham a criatividade, a beleza, fantasiam as situações e são passionais. Doam-se de alma. O Vitória perdeu as duas conexões. É preciso preencher o clube de novos sentimentos. Trazer vida e energia. Exemplo: o Vitória contratou um novo diretor de marketing em dezembro e assinou com uma consultoria terceirizada em janeiro. Desde o rebaixamento, contudo, nunca se comunicou com a torcida: segue indiferente; antissocial.
O prazo é curtíssimo, porém tampouco percebo mudanças com os patrocinadores ou nos pontos de venda. A maior mudança do Vitória nos últimos anos foi o ineditismo de tomar o protagonismo local, consequência de vários atos. O resultado foi devastador para o Bahia, que nunca em sua história havia sido coadjuvante. Sem projeto para reassumir a liderança local ou se reposicionar como nacional, viveu em crise. O torcedor rubro-negro nunca foi tão autoconfiante. Mas bastou o Bahia esboçar reação com o acesso para o Vitória, fragilizado desde a perda da final Copa do Brasil, fraquejar. E caminha com passos sem direção.
Problema de se preocupar demais com o rival. Compare as reações pós-Ba-Vi e pós-Botafogo-PB. Onde foi o vexame? Certamente toda a diretoria quer bem ao Vitória, mas a falta de lideranças, de quem o viva intensamente e projete o futuro gera, no inconsciente, uma indiferença, uma falta de esperança da torcida com o clube. E, por consequência, com o time. É preciso sentir o clube como Tom Jobim e Miucha na música Pela Luz dos Olhos Teus: “Quando a luz dos olhos meus / E a luz dos olhos teus /Resolvem se encontrar...”
Marcelo Sant´Ana é repórter especial e escreve quinta e domingo. Coluna publicada na edição impressa do jornal Correio* do dia 27 de fevereiro de 2011
Veja também:
Leia também:
Participe do canal
no Whatsapp e receba notícias em primeira mão!