Com vídeos que registram milhões de visualizações, o perfil de Cacauzinho Neto no Instagram é recheado de fotos e vídeos de uma rotina intensa de exercícios físicos. Algo comum nessa rede social, claro. Porém, o que chama atenção é o fato dele estar nesse universo bem cedo, aos 12 anos.
Tudo isso por vontade própria, como detalha Carlos Augusto, pai do garoto. "Com 9 anos, ele correu 10km. Sempre fazia agachamentos, apoios e flexões em casa antes de entrar no crossfit. Certo dia, ele foi junto comigo para o box [de crossfit]. Chegando lá, pediu para fazer uma aula experimental. Como era um dia de cardio, justamente o que já fazia em casa, ele conseguiu o melhor tempo do dia. O professor observou e disse que ele tinha jeito para o treino. Quando terminaram as aulas, matriculei ele. Daí em diante, ele começou a gostar. Tinha dia que eu não queria e ele cobrava: ‘bora, bora, bora’”.
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Essa vontade tem traços familiares. Carlos conta que ele e a mãe de Cacauzino já treinavam há bastante tempo, e por isso houve um incentivo ainda maior para que ele continuasse.
Rotina
Para quem busca manter um fluxo de treinos e alimentação a ponto de atingir uma capacidade física incomum para a idade, é certamente necessário ter muita disciplina e dedicação. “Ele é acompanhado por nutricionista, com uma alimentação voltada para o para o ganho de massa muscular e para a manutenção do crescimento”, explica Carlos.
Essa rotina envolve oito refeições por dia, inclusive com marmitas de ovos cozidos e bananas que o garoto leva para a escola. “Os colegas ficam perturbando, oferecendo coxinha”, lembra o pai, aos risos.
O único momento em que Cacauzinho “foge” disso é nos finais de semana, em que ele costuma comer hambúrguer e outros alimentos que não fazem parte da dieta principal. Além das regras em relação à alimentação, o garoto tem outras tarefas bem organizadas.
Acorda às 5h30 para fazer a primeira atividade física. Depois, vai para a escola e retorna às 12h30. Almoça, faz reforço escolar e, às 17h, vai para o treino extra, que envolve exercícios de força e resistência muscular. Detalhe: é nesse momento que Cacauzinho costuma fazer 700 abdominais. Quando chega em casa, revisa os assuntos da escola, faz mais duas refeições e dorme por volta das 21h.
Mas essa rotina vai além. Segundo Carlos, Cacauzinho é um garoto extrovertido e que gosta de se divertir com atividades comuns para a idade, como ir ao parque, cinema ou shopping. Aos sábados, tem a tarde livre para brincar com amigos.
Ele também gosta muito de futebol e já sonhou em ser jogador, mas, por causa dos padrões de treino, precisou reduzir o número de vezes que pratica o esporte. "Ano passado, liberei para jogar um interclasse do colégio. Ele chegou até a final, mas criou uma lesão no joelho, por isso, hoje temos uma resistência", diz Carlos.
Consequências
A preocupação com os limites dos treinamentos está sempre presente entre os que cuidam de Cacauzinho. Segundo o fisioterapeuta Paulo Leal, que o acompanha há 8 meses, todos os esforços resultam em um saldo positivo.
"Por ser fisioterapeuta especialista em biomecânica no esporte, procuro avaliar e gerir riscos de possíveis lesões. Também sou do Crossfit, com formações no método e proprietário de um box. Isso facilita ter uma visão global do esporte e do meu atleta", afirma.
Questionado sobre o impacto da pouca idade em meio a um cenário de treinos intensos, Paulo disse que costuma usar como exemplo os métodos de educação esportiva que acontecem nos EUA e na China, onde crianças começam a se exercitar bem cedo.
"[São] países que consegue deixar claro que o trabalho com cargas prematuramente é muito menos lesivo que a falta do próprio movimento. Como Cacauzinho tem uma equipe multidisciplinar trabalhando pra ele (nutri, coach, médico, fisio e todo apoio da família), faz com que nosso trabalho seja mais profissional possível, mesmo sendo um criança", explicou.
Já a pediatra Jussara Argolo considera que há excessos nessas atividades e que é preciso atentar-se aos efeitos negativos que podem surgir. "Em crianças, o exagero de atividades físicas podem trazer consequências como irritabilidade, dores de cabeça, insônia e dificuldade de concentração, interferindo no rendimento escolar. Nunca devemos impor treinamentos físicos exacerbados a crianças. A dieta balanceada é importante, sim, mas tudo em exagero foge ao saudável", comentou.
Futuro
As aparições de Cacauzinho nas redes sociais também despertam nos pais do garoto um constante alerta em relação à segurança. "A gente é muito tranquilo, mas hoje a gente tem que ter cuidado porque tenho receio de sequestro, de fazerem alguma coisa. Estamos sempre ligados, monitorando. Já ele lida muito bem. As pessoas pedem para tirar foto nas ruas e ele é muito receptivo", comenta Carlos.
Por outro lado, avalia o pai, a exposição trouxe ganhos para a família. "Hoje ele tem médico, fisioterapeuta, nutricionista, personal e redes de academia e crossfit que ele não paga. Então teve certos benefícios, sem contar a admiração das pessoas”, complementa.
Toda essa rede de preparação e apoio é tida como uma plataforma para o futuro de Cacauzinho. O pensamento do garoto é, realmente, seguir no esporte e, talvez, virar fisiculturista.
No momento, ele se prepara para uma competição chamada Crossfit Games, que acontece em Madison, nos EUA, e que participará em 2025, competindo com jovens de até 17 anos. "Quando ele tiver 14, vai estar amassando. São atletas profissionais que olham para Cacauzinho e falam: ‘esse menino é futuro’".
Ícaro Lima
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