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Vitória goleou por 7 a 3 no jogo de ida e tem a mão na taça |
O 7 a 3 no clássico Ba-Vi do último domingo (12) resultou em muitas chacotas por parte dos rubro-negros. O momento é de crise no lado tricolor e a torcida do Vitória ri à toa com a má fase do Bahia. Porém, no meio dessas emoções díspares comum nos torcedores baianos essa semana, o jornalista Franciel Cruz fez uma reflexão distinta. Para ele, os rubro-negros não têm muito o que comemorar após tamanha goleada. Em texto publicado originalmente no
site Impedimento, na segunda-feira (13), e reproduzido aqui no
iBahia, Franciel traz à tona a seguinte discussão: o Ba-Vi ainda existe? "Zombar do tricolor é dar-lhe um status que ele não tem nem merece atualmente: rival do Leão", diz parte do texto do jornalista, que lamenta. "Perdemos nosso antigo oponente. E agora teremos que nos reinventar". Este ano, já foram três Ba-Vi disputados, todos na Arena Fonte Nova, todos com triunfo do Vitória, dois de forma massacrante: um 5 a 1 e um 7 a 3. Com o 2 a 1 do jogo do meio, temos um 14 a 5 no placar agregado. O último clássico vencido pelo Bahia aconteceu em 2011, na semifinal do Baiano, no Barradão. Foi um 3 a 2 com gosto amargo, já que o Tricolor era eliminado da competição mesmo com essa vitória. No estadual do ano passado, apesar de campeão, o Tricolor sequer ganhou um Ba-Vi. Os times voltam a se enfrentar domingo (19), no Barradão, pela decisão do estadual. Clássico sem cara de final.
Leia aqui a reflexão do jornalista Franciel Cruz "Réquiem para um clássico: crônica de uma caxirolada anunciada" "Sempre guiado pela descrença, relutei em acreditar até a undécima hora. Porém, quando o ponteiro do relógio cravou 40 minutos da segunda etapa, finalmente caiu a ficha. E o meu mundo também. O Ba x Vi, a Mãe de Todas as Batalhas, não existia mais. A tragédia estava consumada. O clássico acabara de ser assassinado. E o crime ia muito além da dilatação do placar. Era algo extremamente mais grave – até porque uma goleada, num jogo deste naipe, apesar de rara, acontece. Inadmissível é um time ser sovado impiedosamente sem ter a HOMBRIDADE de esboçar qualquer reação, seja uma dedada no fiofó, cuspe na cara ou mesmo um mísero beliscão. Esta inércia é a prova cabal e definitiva de que tal equipe abdicou do desejo de perpetuar a rivalidade. (Eis o crime inafiançável). Afinal, todos sabem que em uma peleja de tão importante calibre, quando a madeira está gemendo em SETE idiomas, há somente um último refúgio para a dignidade: a pancadaria generalizada. Fora dela não há salvação. Nestes momentos insanamente decisivos, só o tumulto pode restabelecer o decoro e a honradez. O resto é apenas a estúpida covardia travestida de bom-mocismo – exatamente o caminho escolhido pelo time do Bahia para matar o antigo clássico com requintes de pusilanimidade. É fato que o declínio do império tricolor é anterior à patacoada de ontem. Tem mais de 18 anos. Para ser preciso, a derrocada, ironicamente, começou com uma glória num dia que se tornou um número fatídico para o outrora esquadrão de aço: SETE de agosto de 1994. Neste data, depois de conseguir empatar com o Leão, os torcedores do Bahia, que já possuíam cerca de 40 títulos baianos, comemoraram a suada conquista como se não houvesse amanhã. E eles não estavam totalmente equivocados. Parecia algo premonitório. O amanhã, o day after, tornou-se um pesadelo constante. De lá pra cá, não conquistaram nem cinco campeonatos estaduais. E mais. A partir de então, foi uma agonia atrás da outra. Rebaixamentos, subidas pela janela, humilhações de SETE diante do Santos, Cruzeiro e até do poderoso Ferroviário do Ceará. No entanto, pouco me importava se meu oponente estava moribundo. Ao contrário. Vibrava e sentia-me vingado por humilhações de antanho. E ficava feliz também porque, apesar de eles estarem num processo degenerativo, ainda encaravam o clássico com a seriedade que tão importante jogo merece. Por mais contraditório que pareça, era uma forma de respeito ao meu Vitória. Era como se, mesmo fragilizados, eles sentissem necessidade de se superar porque havia um adversário a ser derrotado. Ou, na pior das hipóteses, combatido. Ontem, porém, os tricolores abdicaram de tudo, apelaram para o golpe baixo, para a entrega total, irrestrita e absoluta. Uma clara e nefasta tentativa de levar o Leão para o seu poço sem fundo. Por isso, entendo que os Rubro-negros não devem gastar seu ocioso tempo pensando ou fazendo gozações de quaisquer espécie. O inverso é o verdadeiro. O torcedor do Vitória que tripudiar do Bahia por conta da goleada de ontem não tem amor próprio. Afinal, zombar do tricolor é dar-lhe um status que ele não tem nem merece atualmente: rival do Leão. Alguns apressados podem argumentar que há muitos rancores nos parágrafos acima. E eles não estão totalmente errados. Até porque, conforme já ensinou o menino Nelson Rodrigues (sempre ele), “a base sentimental da torcida é o ódio, e não o amor. Sem ódio não há torcida possível”. É por tudo isso que hoje, dia de aniversário do Esporte Clube Vitória, é uma data CONTRADITORIAMENTE triste (e talvez de renovação) para os torcedores do Leão. Apesar da espetacular goleada, ontem tivemos uma revés. Perdemos nosso antigo oponente. E agora teremos que nos reinventar. Seguir adiante sem um rival vai ser uma sopa de tamanco dos SETEcentos DEMÔNHOS. P.S. 1 A pista de que o Bahia já havia se despido de brios ocorreu na véspera do jogo (não o chamo mais de clássico em respeito aos derbys de outras localidades). No sábado, a diretoria do Vitória partiu para o escárnio escancarado, algo impensável antes de um Ba x Vi de antanho. Mandou confeccionar uma CAMISA PROVOCATIVA com o placar da reabertura da Fonte Nova. E qual a resposta do ex-rival do Leão? Um apático e vergonhoso silêncio. Nem uma lágrima de repúdio. E isso me deixou ainda mais puto, com uma ponta de compaixão, que é uma das piores formas de ódio."
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