Seu Paulo, gaúcho estabelecido em Salvador, preparava-se para fechar sua loja mais cedo, na quinta-feira. Motivo: ia curtir na tevê seu bem-amado Grêmio Porto-alegrense estrear na Libertadores diante do Oriente Petrolero, da Bolívia. Um de seus clientes, rubro-negro baiano, invejou: - Ah, quando é que eu vou poder acompanhar meu Vitória numa competição dessa? Quando, meu Deus? Seu Paulo, sempre educado, desta vez foi mais direto: - Nunca. Enquanto vocês aqui ficarem torcendo pra time de fora, o futebol baiano sempre será isso aí e nada mais.
Para este empresário e desportista, o povo de cada lugar tem de torcer apenas pelos times da casa. Nada de ficar importando segunda opção, curtindo também times de outros Estados, ou então Barça, Milan e Zenit da Rússia. - Lá no Rio Grande, ou a gente é Grêmio ou o outro lá. A rivalidade é tanta que ele nem fala o nome do Inter.
A fidelidade a um dos times nativos é total. Daí, a força. Problema, seu Paulo, é que os times baianos não ajudam os torcedores como os gaúchos ajudam. O Bahia voltou pra elite, mas perdeu os destaques da campanha para times de série inferior ou fora de série. Fernando fechou na Série B: foi pegar no Mirassol de São Paulo. Jael agora joga na Lusa. Everton Avatar tá no Caxias. Quem mais?
Tá montando um time novo pra ver se pega moral no decorrer da temporada. Trouxe um goleirão, mas lembrou que pode contar com Omar. Em vez de aproveitar as revelações da Copa São Paulo, não se vê boa vontade com os novos valores do Fazendão Tricolor.
Tá arriscado disputar um torneio da morte estadual. Estreia da Copa do Brasil? Apenas 0x0 com o brioso time verde-azul do São Domingos de Sergipe. Nosso mundinho é ficar secando um ao outro pra brincar de elevador. O Grêmio de seu Paulo até caiu um ano aí, mas subiu logo em seguida, campeão do acesso, e ficou mais fortalecido. O Bahia se orgulha, aqui com justiça, de seus dois títulos nacionais. Esteve três vezes na Libertadores.
Isso é nada para a torcida que o Bahia tem. Sem estádio, joga no Pituaço do governo. Delírio: vinha cobrando 50 reais e se veste de Espanha. Resta curtir o rebaixamento e os vices do rival.
Já o centenário Vitória orgulha-se da casa própria, e...? Atual tetracampeão baiano, se alegra tirando a diferença de títulos estaduais para o Bahia: placar tá de 43x26. E a Copa do Brasil? Tomou 3x1 do Botafogo da Paraíba levando três gols de erros tacanhos, essa linha burra... Entendeu agora, seu Paulo? Dá pra cobrar do torcedor que fique satisfeito com dois clubes assim, incertos?
A torcida tá sempre disposta a amar o seu clube e seria melhor mesmo não precisar trair com um forasteiro. Amanhã, no Ba-Vi, teremos outra prova de amor. Não já tá na hora da dupla dinâmica corresponder esta paixão?
Paulo Leandro é secretário de redação do Correio* e escreve aos
sábados. Coluna publicada na edição impressa do dia 19 de fevereiro de
2011
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