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O Bahia e suas culturas

É um mantra em parte da torcida do Bahia o questionamento sobre a relação das ações afirmativas do clube com o desempenho esportivo abaixo do esperado do time

Redação iBahia • 10/02/2020 às 10:48 • Atualizada em 31/08/2022 às 10:26 - há XX semanas

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É um mantra em parte da torcida do Bahia o questionamento sobre a relação das ações afirmativas do clube com o desempenho esportivo abaixo do esperado do time. A dificuldade do Bahia em impor seu favoritismo é um traço presente no clube desde que começou com essas iniciativas, certo? Errado. Muito errado. A dificuldade vem de antes de 2018, ano em que o clube passou a se mobilizar mais nessa direção.

E mais: as ações afirmativas dão o exemplo que pode ajudar o Bahia a mudar esse cenário esportivo decepcionante.

Foto: Felipe Oliveira / E.C Bahia

Antes, aos idos dramáticos: alguém esqueceu o sufoco para subir para a série A em 2016? O jogo contra o rebaixado Sampaio Corrêa que ganhou contornos heróicos com aquele toque sutil de Hernane por cobertura, aos 46 do 2º tempo, quando tinha tudo para ser um dos maiores vexames da história do clube? Alguém não lembra de 2015, quando o Bahia precisava vencer o Santa Cruz na Fonte Nova e arrancar para o acesso à série A mas tomou a virada no 2º tempo? E a eliminação para o próprio Santa Cruz na Copa do Nordeste 2016, nas semifinais, quando um 0x0 garantiria o clube na sua 2ª final consecutiva? Em 2017 o Bahia conseguiu perder um título baiano para o Vitória, clube que estava cambaleando após a eliminação para o próprio Bahia, na Copa do Nordeste, três dias antes. Pressionou, foi mais propositivo, em dois jogos, e não venceu. Perda que foi atenuada na opinião pública por ter conquistado a vaga na final da Copa do Nordeste (que daria em título). Em 2018 o Bahia chegou à final da mesma Copa do Nordeste sem fazer sequer um gol em casa nas quartas, semi e final da competição. Perdeu o título para o limitado e esforçado Sampaio Corrêa. Em Brasileiros, o Bahia se acostumou a “largar” quando alcança o objetivo de não ser rebaixado.

Aconteceu em 2017, com a Libertadores se oferecendo ao clube. Perdeu pra Chapecoense, em casa, na penúltima rodada e o clube catarinense conquistou a vaga. Aconteceu em 2018, em menor escala de oportunidade de Libertadores, mas o desempenho pífio foi o mesmo. Aconteceu em 2019 (mesmo que se livrar do rebaixado não fosse o objetivo).

Clube virou o turno basicamente livre do rebaixamento. E fez um returno assustador, sem, sequer, ficar entre os 10 primeiros ao final. Eliminação para o Liverpool na Sul-Americana em 2019, para o River do Piauí na Copa do Brasil em 2020, derrota para o Sergipe na Copa do Nordeste 2019, que contribuiu para o time ser eliminado, na 1ª fase, da competição regional em que era favorito absoluto. Dificuldade para ganhar o título baiano em cima do organizado mas muito inferior Bahia de Feira. Dificuldade para vencer CSA e Avaí em casa pela série A. Incompetência para vencer Goiás, Chapecoense, Fortaleza e Ceará em casa, pela série A. Incompetência para vencer um clássico BAVI já com três oportunidades seguidas jogando com torcida única (que o clube aparenta sentir conforto em manter), na Fonte Nova, quando tinha amplo favoritismo em todas essas ocasiões. Incompetência para jogar uma partida histórica como aquela contra o Grêmio, nas quartas-de-final da Copa do Brasil 2019, de maneira digna. Que fosse eliminado, já que o Grêmio é um grande time, mas o Bahia chegou com favoritismo pra conquistar a vaga, pelo que fez contra o próprio Grêmio em Porto Alegre. E decepcionou. Em especial na postura.

Essa sequência difícil de esquecer me fez conjecturar algo muito subjetivo, mas que acredito: falta ao Bahia “cultura vencedora”.

Falta apetite. Falta desejar tudo e o máximo sempre esportivamente. E porque defendo que em vez de criticar as ações afirmativas para cobrar do futebol, o torcedor deveria usar as ações afirmativas como exemplo? Explico.

O que o Bahia faz como instituição é uma dádiva. As ações afirmativas, o combate às mazelas sociais, a responsabilidade que assume como agente social é uma força imensurável na construção de uma sociedade mais tolerante, igual, menos hostil, mais esclarecida. É e deverá ser motivo de orgulho para o torcedor. O Bahia ganhou o mundo como um clube consciente de seu poder de transformação. Desenhou a importância do futebol para muito além do campo. É um traço institucional. Está na cultura do clube.

E em que a cultura influencia o campo?

Lembre de Roger Machado sentindo-se à vontade para ministrar aquela aula maravilhosa sobre racismo estrutural numa entrevista coletiva após o jogo contra o Fluminense, no Maracanã, pelo Brasileirão. Você acha que ele falaria aquilo, daquela forma, se estivesse no Flamengo? No Palmeiras? Boto dinheiro na mesa que não.


Porque a cultura desses clubes não está permitindo isso. Os atores absorvem a cultura do clube. No Bahia, Roger vive no habitat ideal para sua conduta mais combativa. Absorveu a cultura e transmitiu isso para todo o mundo. Um personagem do futebol refletindo a cultura do clube. É aí que entra a grande questão.

O Bahia precisa de alguém que implemente e consolide a cultura de ganhar jogo, QUALQUER JOGO, na mesma intensidade com que o clube se incomoda e age no combate aos nossos dramas sociais. As ações afirmativas são um exemplo para o futebol do Bahia, não um empecilho. Falta uma peça nessa engrenagem. Uma filosofia mais arrojada, mais fome.

Alguém que consiga entender que futebol é jogo, mas um jogo que se ganha.

Que ganhar sempre é fundamental, inclusive para dar aos outros esforços institucionais do clube, o seu devido valor. Se essa cultura estiver estabelecida no clube, os atores vão absorver e reagir a ela. Os técnicos e atletas não vão ficar tristes por perder de novo. Eles simplesmente não vão perder. O Bahia vem se recuperando em diversos aspectos desde 2013. Precisa que sua cultura vencedora seja a próxima resgatada. No futebol, com perdão da frieza, afinal esse é o gelo da realidade, só vencer em campo fará tudo valer a pena.

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