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ESPORTES

SOS Torcedor - por Marcelo Sant´Ana

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10/02/2011 às 8:19 • Atualizada em 29/08/2022 às 14:21 - há XX semanas
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Evaristo de Macedo simplificou o tema que martelava minha cabeça. “Antes, quando a gente perdia, o torcedor ficava triste; a gente, chateado. Hoje, o torcedor fica agressivo”. Esta mudança de comportamento está mais evidente a cada campeonato. O perigo é o futebol se tornar excessivamente um esporte para coroinhas, plastificado, chato e frio, como já são vários jogos. Um time ganha, outro perde, e a cidade não reage ao placar.

Uma das melhores coisas do esporte é a gozação, é esculachar com o torcedor alheio. Quanto maior a intimidade, mais pesados são os comentários. Muitas vezes nem falamos a verdade ou aquilo que acreditamos. Falamos o que é preciso para prolongar a chacota, fazer render a brincadeira. Dadá Maravilha é um ícone do atleta-gozador. “Não venham com problemática que eu tenho a solucionática” é uma tirada famosa. Entre os apelidos, Beija-flor e Peito de Aço. Mas Dadá era mestre em provocar os adversários e esquentar as partidas.

Diz a lenda que, após Santa Cruz 4x0 Bahia, em 1981, soltou: “Baiano só faz cinco quando acerta na quina da Loto”. Aí o Bahia deu 5x0 e a foto do placar da Fonte Nova virou decoração na sala do ex-presidente Paulo Maracajá, na sede de praia. Que provocar nem sempre dá certo, é evidente. Como também é que muitos preferem perder calados. Dadá jamais perdia a oportunidade. Nesta linha, em tons diferentes, tivemos Romário, Túlio ou Vampeta. O excesso, a apelação e o deboche são condenáveis, mas fazem falta as piadas.

O torcedor hoje tem dificuldade de aceitar jogadores mais polêmicos. Ou tolera por conveniência quando é do próprio time. A arquibancada perdeu a capacidade de rir de si mesma. Em grupo, reações físicas de luta e socos. O torcedor é como os times da moda ou como a faixa na camisa da Seleção: guerreiro. Lutam contra o espetáculo.

Sou fã de Viáfara. Bom goleiro, faz graça marcando gols ou dando drible, excelente papo e é bom de provocação. Depois do 3x0 no clássico, embalado pelo pagode deste Verão, soltou à TV Bahia: “Superman ficou fraco e o Leão jogou criptonita”. Depois forçou dentro do tolerado. “Afundar (o Bahia), não! Faz tempo eles estão lá embaixo”. Fantástico para a auto estima rubro-negra.

Tricolores indignados. “Falta de respeito”. Legal era “Uh, elevador!”. Ou quando Jael chamava o rival de “Vice”. Evaristo, quando atacante, trocou o Barcelona pelo Real Madrid, em 1962. Mexeu com a Espanha mais que as touradas. “Claro que muitos ficaram chateados, é natural. Eles sabiam que era difícil também pra mim. Joguei três anos no Madrid, mas não fui hostilizado”. Hoje, especialmente fora do campo, é diferente. A maioria dos torcedores é igual. Isto é ruim pro futebol.

*Marcelo Sant´Ana é repórter especial e escreve às quintas e
domingos. Coluna publicada na edição do Correio* do dia 10 de fevereiro
de 2011

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