A casa da família Nova Bahia na Ribeira tinha uma pérgula no jardim. Aquele abrigo de madeira geralmente é suporte para trepadeiras e dá uma sombra boa para o descanso. Marito usava para treino. Arrumava tijolos e chutava a bola. Repetia muitas vezes. Sempre gostou de treinar passe e chute.
Orgulhava-se de lançar a 30, 40 metros. Já a facilidade nos dribles era genética. Ou quase, porque nem toda a família gostava. Jogador naquela época não era bem visto. Sorte do Bahia que Mário da Nova Bahia, nascido dia 16/5/1932, teve um irmão como José.
“José que me apoiava, dava tudo, bola e chuteira, entrava no estádio pra me apoiar e brigar. Era doido por futebol”, recorda. Jogava muitas vezes na praia. Saiu de lá para o São Cristovão “porque o técnico era meu irmão de criação, Novinha”.
Foi do São Cristovão para o Ypiranga. Lá, às vezes, o time tomava uma branquinha antes do jogo pra relaxar. Era um ponta-direita especial. Veloz, usava as duas pernas no drible e desconcertaria até a guarda real inglesa se botas sem duas traves no Palácio de Buckingham. De tanto aprontar, virou Diabo Loiro.
Flávio Costa, técnico do Brasil na Copa de 1950, o viu e pediu para Marito ir ao Rio treinar no famoso time do Vasco, o Expresso da Vitória. Não daria certo investir na ideia. Seria problema demais dentro de casa com “o velho” e com José. Em 1953, chegou ao Bahia, onde ficou até 1962.
Durante a campanha na Taça Brasil de 1959, às vezes se estranhou com Alencar. O ponta de lança era goleador nato, mas a posição de fixo na área era de Léo Briglia. Daí que quando Marito inventava de recuar para pegar a bola e lançar, a tarefa de correr sobrava para Alencar. “Não dê aquele passe longo que eu não vou”, recorda Marito.
No vestiário, o técnico Geninho resolvia a questão: “‘Vai, senão eu te tiro’. Ele queria ficar paradinho, fazer gol”, lembra, aos risos. Esta honra era restrita a Léo, que adorava os cruzamentos vindos da linha de fundo. Quem também se aproveitou das jogadas diabólicas foi Carlito, atacante entre 1947 e 61 e principal goleador do clube. “Carlito era tanque. Não jogava porra nenhuma, mas fazia gol. Você dava a bola pra ele...”, solta, rindo.
Pelo Bahia, Marito conquistou sete vezes o Campeonato Baiano, incluindo o penta, 1958/62, além da Taça Brasil. Fez excursões para a Europa, jogou duas Libertadores e foi titular nas finais da Taça Brasil de 59 e 61. Parou aos 29 anos, cansado das viagens e foi preparador de processos da Petrobras. Está aposentado e vive em Salvador. “O patrimônio do Bahia é a torcida. Eu tenho minha saudade”, diz Mário da Nova Bahia. E a torcida, de jogadores como você, Marito.
Matéria publicada na edição impressa do jornal Correio do dia 3 de
fevereiro de 2011
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