Vicente saía muitas vezes escondido de casa. Os pés diziam pra onde tinha ido. Em caso de dedo pocado e unha arranhada, certamente, tinha brincado na rua. Caso sujo de barro, tinha jogado bola no Campinho da Mangueira ou na Careca do Badô, os favoritos dos jovens de Campos dos Goytacazes, no Rio de Janeiro, durante as décadas de 1940 e 50.
Vicente Arenari Filho, filho de mãe brasileira e pai italiano, nasceu em Natividade, interior do Rio, dia 23/3/1935. Mas completou o primeiro aniversário já morando em Campos. Era caseiro, estudioso, mas fã de futebol, para desgosto do pai. Naquela época, lembra o irmão Capistrano, "jogador não era bem visto". E o talento de Vicente chamava muita atenção na cidade.
O pai preferia ter os nove filhos, especialmente os seis homens, por perto nas lojas da família ou na empresa de distribuição de bebidas. Terminou convencido ao ganhar do Americano uma carta assinada pela diretoria que o filho seria liberado quando a família quisesse.
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Adolescente, Vicente Arenari virava titular como médio-volante na equipe juvenil. O título invicto no amador foi o cartão de visitas. Representante do Flamengo foi até a cidade, levou Vicente para morar no Rio e, meses depois, o clube o inscreveu na CBF: é o número 12.159.
Quando começou a treinar no profissional, o Flamengo fechou o último título do tricampeonato Carioca, 1953/54/55. A linha de frente era Joel, Índio (Dida), Paulinho, Evaristo e Zagallo. Vicente, 21 anos, não jogou.
No início do ano seguinte, Osório Vilas Boas repetiu o ritual de ir ao Sul do país. "Zagallo, que já era conhecido, falou pra ele que eu tinha qualidade, era bom na saída de bola", recorda. Desembarcou em Salvador em março de 1956, junto com o lateral-direito Leone, outro futuro campeão da Taça Brasil de 1959. Meses depois, casou-se com Maria.
BAHIA - Na campanha do título Brasileiro, o técnico Geninho, ex-jogador e treinador do Botafogo, já tinha recuado Vicente para a defesa tricolor. Jogador alto, perna comprida e esguio, circulava fácil pelo gramado. Criado como meia, tinha visão de jogo e exalava qualidade na saída de bola.
Falava muito, fosse no campo ou no vestiário, embora ditasse o ritmo mesmo quando em silêncio. O time sentia sua presença independente de vê-lo, como perfume. Não era o capitão, mas representava Geninho. Ficou até 1962. Saiu com seis títulos baianos, além da Taça Brasil.
Aliás, a finalíssima contra o Santos, no Maracanã, começou na véspera para Vicente. O gosto da vitória, também. Expulso na derrota por 3x2 na Fonte Nova, foi julgado: absolvido pelo placar de 5x2, após três horas e meia de julgamento, em defesa do advogado Octávio Vilas Boas. No jogo, Coutinho fez 1x0, Vicente empatou, de falta. Léo virou e Alencar definiu: 3x1.
JOELHO - Chegou ao Palmeiras no início de 1963, formando parte da primeira Academia, com feras como Valdir de Moraes, Djalma Santos, Julinho, Vavá e Ademir da Guia. Ficou pouco tempo, apenas até o final de 65, deixando o clube aos 30 anos, após romper os ligamentos do joelho.
Àquela época, lesões mais sérias eram quase fatais. Ainda jogou por dois anos no Nacional, da capital paulista. Mantinha o respeito, continuava líder cerebral, mas não tinha o corpo a lhe acompanhar. Era hora de voltar pra casa. Já tinha marcado um estilo.
VOTO A VOTO
Vicente Arenari (7)
Antonio Carlos Júnior, Benedito B. de Melo, Ivan Pedro, Marcelo Guimarães Filho, Marcelo Sant'Ana, Marito e Virgílio Elísio
Pereira (3)
Binha de São Caetano, Marcos Lopes e Nestor Mendes Júnior
João Marcelo (2)
Paulo Maracajá e Ricardo Chaves
Sapatão (2)
Douglas e Saturnino Lima
*Matéria publicada na edição impressa do jornal do Correio do dia 28 de janeiro de 2011
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