Três dias antes da escolha das sedes das Copas de 2018 e 2022, a BBC – canal público de televisão da Inglaterra - exibiu na segunda-feira (29) um programa denunciando vários dirigentes do futebol mundial - entre eles o presidente da CBF, Ricardo Teixeira - pelo suposto recebimento de pagamentos não-declarados (subornos) da antiga, hoje extinta, agência de marketing da FIFA, a ISL/ISMM. O veterano repórter Andrew Jennings, responsável por diversas investigações sobre dirigentes esportivos, apresentou no programa Panorama um documento que comprovaria que Teixeira, o presidente da Conmebol, o paraguaio Nicolas Leóz e o camaronês Issa Hayatou, ex-presidente da CAF (a Confederação Africana de Futebol) receberam pagamentos da extinta agência de marketing da FIFA, a ISL/ISMM.
A denúncia, que foi publicada também pelo jornal suíço Tages-Anteiger e pelo jornal alemão Suddeustsche Zeitung, foi ao ar três dias antes da eleição na FIFA que vai escolher os países-sede para as Copas de 2018 e 2022. A Inglaterra é candidata a sediar 2018. Teixeira já anunciou que votará na candidatura Espanha-Portugal, assim como os outros sul-americanos, Julio Grondona (presidente da AFA, a Associação de Futebol Argentina) e Nicolas Léoz. Além dos ibéricos, Inglaterra, Rússia e outra candidatura conjunta, Holanda-Bélgica, disputam a organização da Copa de 2018. Austrália, Estados Unidos, Japão e Qatar estão na briga para organizar o Mundial de 2022.
O Diretor de Comunicação da CBF, Rodrigo Paiva, disse que a denúncia é antiga. "Não tem nada de novo e não tem fundamento algum. Há 11 anos existe isso e é uma investigação. Estou há nove anos na CBF e não vou dar mais versão oficial sobre isso pois todo ano é a mesma coisa".
O documento obtido pela BBC lista diversos pagamentos. O mais volumoso deles é para a empresa Sicuretta, sediada no paraíso fiscal de Liechtenstein, que recebeu US$ 36 milhões (cerca de R$ 62 milhões) entre 1989 e 1999. A empresa Sanud, também sediada em Liechtenstein, recebeu US$ 9,5 milhões de dólares (cerca de R$ 15 milhões) neste período. É ela, segundo o programa, a conexão com Ricardo Teixeira. Em 2001, a CPI do Futebol no Senado brasileiro quebrou o sigilo financeiro do dirigente da CBF e de suas empresas. A Sanud apareceu como dona de ações de algumas destas empresas. Por isso, o programa da BBC conclui que o dirigente brasileiro recebeu essa quantia.
No mês passado, a FIFA baniu dois membros do comitê executivo (o taitiano Reynald Temari e o nigeriano Amos Adamu) porque eles teriam recebido suborno para favorecer candidaturas na disputa pelas Copas do Mundo. A ISL/ISMM foi a falência em 2001, mas a corte de Zug, na Suíça, abriu uma investigação criminal sobre o caso. Em 2008, executivos da ISL foram multados por fraudes e crimes contábeis. Outro processo terminou este ano – quando dirigentes não-identificados da FIFA concordaram em devolver dinheiro que tinham recebido da falida empresa em troca de não terem seus nomes revelados. O acordo cível foi possível porque até 1999 não era crime na Suíça receber comissões por negócios não-declarados.
Jennings é um veterano repórter investigativo - que ficou célebre por ter publicado um livro ("Os senhores dos anéis") sobre a corrupção no Comitê Olímpico Internacional nos anos 90. Em 2007, ele publicou um livro sobre a FIFA ("Foul!") e, desde então, vem se dedicando a investigar os dirigentes da entidade máxima do futebol mundial.
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