No ciclo de Copa no Brasil, o futebol baiano dá um gás nas aulas bilíngue. Era só Viáfara, agora temos Tressor e Mosquera, todos colombianos, como Asprilla, que já jogou no Joia da Princesa. Foi em amistoso entre Parma e Flu de Feira, no início da década de 1990, quando a Parmalat/Alimba patrocinava os dois clubes. Um dia de Asprilla causou alvoroço. No estádio, sacos de leite foram jogados à arquibancada. Nada, contudo, comparável ao talento do atacante, de pés doces e muita energia, um coquetel alcoólico demais para os adversários, uma máquina de estimular aplausos.
Duas décadas depois, os gringos ameaçam repetir o alvoroço. Viáfara é hoje a maior referência do Vitória e a dupla do Bahia já é um feitiço, um canto da sereia para os ouvidos de muitos torcedores. Tressor e Mosquera animam antes de fazerempor merecer. Os dois, pelo que se ouve e em certa medida pelo que se vê na internet, parecem melhores opções comparado ao que há no Bahia. Tressor cria, aproxima-se do ataque e chama a bola. Mosquera tem estilo pegador de fôlego e antecipação.
É bom ter gringos para posicionar o clube no mercado, na mídia, mas é preciso pensar porque muitos estão vindo ao Brasil. A economia é um motivo, não o maior deles. Lembre como no último Brasileiro os três melhores meias eram argentinos: Conca, Montillo e D‘Alessandro. Lembre que na última lista para eleição de melhor do mundo não havia brasileiro que jogasse no meio ou no ataque. Concorremos com goleiro, lateral e zagueiro.
Nosso futebol olha para trás. Vemos um excesso de lançamentos para jogadores marcados e cruzamentos para se livrar da bola. Os jogadores cavam falta rezando por uma chance de bola parada. A torcida gosta. Os zagueiros, altos, fortes e treinados, também. A bola vai e volta logo. Há poucos passes. Pouca inteligência individual e coletiva.
Nossas categorias de base se tornaram fábricas de produção em série. Incentivamos os bem dotados fisicamente. Sou apenas eu que acho o futebol brasileiro cada dia mais parecido com o da Itália? Nossa preocupação já não é lapidar os supertalentos, mas ter superatletas, aptos a chamar atenção da Europa. E há um ponto que gringos e brasileiros são iguais: aplausos. A maioria dos jogadores e das personalidades famosas não aceita críticas, mesmo corretas e educadas.
Desconfiam que são menos amadas do que merecem. São viciadas nos aplausos, elogios e até nos puxa-sacos. Os nossos vizinhos sul-americanos vêm ouvir as palmas que nossos jogadores já não conseguem estimular.
Marcelo Sant´Ana é repórter especial e escreve quinta e domingo.
Artigo publicado na edição impressa do jornal Correio* do dia 24 de
fevereiro de 2011
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